quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

A Grande Obra alquímica e a viagem pelos planetas

 

Na alquimia em oposição aos planetas masculinos Sol (ouro), Marte (ferro), Júpiter (estanho) e aos planetas femininos Lua (prata), Vênus (cobre), Saturno (chumbo), o Mercúrio (mercúrio) era interpretado como hermafrodita e, portanto, desempenha um importante papel mediador dos contrários em todas as práticas alquímicas.[1] Cada um dos sete planetas conhecidos está relacionado a um dos sete metais conhecidos, de modo que a ferrugem resultado da degradação dos metais atinge também às criaturas, exceto pelo ouro que é um metal que não se degrada e por isso está relacionado á imortalidade. Enquanto os alquimistas trabalham em seu laboratório com elementos do mundo exterior isso é apenas um reflexo para compreender o que acontece no seu mundo interior, trata-se portanto de um trabalho interior para que o alquimista cada vez mais possa se abrir a estas dimensões mais interiores que se conectam com o mundo espiritual.[2] Estefanio mostra que o trabalho do alquimista é percorrer uma sequência de operações alquímicas em correspondência com este itinerário planetário que percorreria Saturno (chumbo), Júpiter (bronze), Marte (ferro), Sol (ouro), Vênus (cobre), Mercúrio, Lua (prata), iniciando-se portanto a partir de um deus masculino (Saturno) superior descer-se-ia para reunir-se com a divindade feminina simétrica (Lua) e depois voltaria a subir-se (Júpiter) e assim sucessivamente em um movimento espiral até chegar por fim ao centro onde se encontra o Sol. Este movimento ascendente e descendente que une os pares simétricos corresponde as sucessivas sublimações e precipitações alquímicas realizadas no atanor. Opera-se assim a “descida aos infernos” onde cada “arsênico” se dissolve em água e se recompõe/ressuscita a cada etapa num metal cada vez mais próximo do ouro.[3] O mercúrio (“mulher dos filósofos” , “senhora dos Filósofos”) aparece em muitos tratados alquímicos associado ao cisne como símbolo da mediação entre a água e o fogo.[4] Segundo Jung o significado da palavra “mercurius” não designa apenas o elemento químico, o planeta Mercúrio ou o Deus Hermes, mas também a “secreta substância transformadora que é ao mesmo tempo o espírito inerente a todas as criaturas vivas”[5]. A prata cresce sobre a influência da Lua[6], o ouro do Sol, o cobre pela influência de Vênus, ferro por Marte, mercúrio por Mercúrio, Jupiter o estanho, e o chumbo por Saturno, sendo esta associação das influências dos astros proveniente de doutrinas astrológicas da Babilônia.[7] A tradição hermética do século XVI associa os planetas  aos órgãos do corpo humano Saturno (baço), Júpiter (fígado), Marte (estômago), Sol (coração), Vênus (rins), Mercúrio (pulmões) e Lua (cérebro).  



[1] LEXIKON, Herder. Dicionário de símbolos, São Paulo:Cultrix, 1990, p. 138

[2] Paul, Patrick. Realidade Fantástica. O Segredo da Alquimia. 2021. https://www.youtube.com/watch?v=bjkBqDug7Ts&t=1096s

[3] EVOLA, Julius, A tradição hermética. Lisboa: Edições 70, 1971, p. 187

[4] LEXIKON, Herder. Dicionário de símbolos, São Paulo:Cultrix, 1990, p. 60

[5] JUNG, Carl. Psicologia e alquimia, v.12. Petropolis:Vozes, 1992, p. 38 

[6] FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 280; BELL, Madison Smartt. Lavoisier no ano um. São Paulo: Cia das Letras, 2007, p. 46; WEST, John Anthony. Em defesa da astrologia, São Paulo:Siciliano, 1992, p. 86

[7] ELIADE, Mircea. Ferreiros e alquimistas. Rio de Janeiro:Zahar, 1979, p.40; PAPUS, Tratado elementar de magia prática, São Paulo:Pensamento, 1978, p. 232



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