Em 1818 uma colônia de imigrantes suíços se estabeleceu em Nova Friburgo, no entanto a experiência não foi bem sucedida[1]. Imigrantes alemães se estabeleceram em São Leopoldo em 1824 por iniciativa do presidente da província do Rio Grande do Sul e que deu origem a produção de artigos de couro. Em 1828 Nicolau Pereira de Campos Vergueiro levantou-se no Conselho da Presidência (órgão que antecedeu das Assembleias Legislativas provinciais) contra a imigração de colonos alemães pelo governo imperial.[2] Capistrano de Abreu informa que Nicolau Vergueiro, embora bem intencionado, conseguiu votar na Assembleia em 1830, “um complicado processo de contratos, que pouco mais era do que uma escravidão disfarçada. Serviu somente para piorar as coisas, tão impertinentes e duras eram as intervenções da polícia e da cadeira nas menores infrações dos acordos assinados”.[3] O senador Nicolau de Campos Vergueiro preferia que os colonos viessem como pequenos proprietários e lançou em 1847 as colônias de parceria em sua fazenda Ibicaba em Limeira com subsídio do governo atraindo colonos suíços e alemães[4]. Em 1847 vieram 80 famílias alemãs para suas fazendas e em 1852 viriam a se juntar outros colonos suíços.[5] A experiência, contudo, foi mal sucedida.[6] Segundo Warren Dean em seu estudo sobre o município de Rio Claro a experiência mostrou aos fazendeiros que impor ao imigrante as mesmas condições dos escravos não seria uma estratégia bem sucedida, de modo que havia: “virtual perda de interesse dos senhores na imigração, desde a “revolta” dos colonos do senador Vergueiro em 1856 até o final da década de 1870, à sua percepção de que não seria fácil sujeitar ao trabalho um grande número de pessoas livres usando as estratégias coercitivas do escravismo”[7] Pelo sistema de parceria metade do lucro ficava com o colono e a outra metade com o fazendeiro. Muitos imigrantes trabalhavam em condições degradantes acusando os fazendeiros de não cumprirem com o contratado, e como resultado em 1857 houve uma revolta na fazenda Ibicaba sob a liderança do mestre escola suíço Thomas Davatz[8] que ao retornar a seu país escreveu um livro Memórias de um colono no Brasil denunciando as más condições: “Os colonos se acham sujeitos a uma nova espécie de escravidão mais vantajosa para os patrões do que a verdadeira, pois recebem os europeus por preços bem mais moderados do que os africanos”. Wilson Cano mostra que o regime de parcerias proposto em 1847 na fazenda Ibicaba em São Paulo entrou em declínio diante de uma cada vez mais evidente ilusão de divisão de lucros, sendo substituído a partir da década de 1860 pelo sistema de salário fixo, que embra não alimentasse tais ilusões ao trabalhador livre conferia ainda assim um rendimento inferior do que teria recebido no regime de parceria.[9] Demonstrando o desprezo pela atividade manual, o deputado cearense e médico Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho [10] chegou a propor “com toda a seriedade” a domesticação de macacos para auxiliar no plantio e colheita do café. [11] Na perspectiva de Pandiá Calógeras “o nome Vergueiro, hoje em dia, está quase esquecido, ingratidão normal dos homens: recordá-lo é puro ato de reconhecimento e justiça, pondo em plena luz quanto nossa terra lhe deve. Por duas vezes dei ao Brasil a rota histórica e perduradoura que devia seguir: em 1831 ao evitar que o Império se esfacelasse em republiquetas sem significação; em 1840 ao dar solução conveniente ao problema da mão de obra, que ele fundava no trabalho livre, contra a opinião corrente da compulsão servil”.[12] O sistema de parcerias implementado pelo senador Vergueiro nas fazendas de café de São Paulo foi elogiado por J. Moré no seu Le Bresil de 1852.[13]
[1] PETRONE, Maria Thereza
Schorer. O imigrante e a pequena propriedade, São Paulo: Brasiliense, Coleção
Tudo é história, v.38, p. 25
[2] PETRONE, Maria Thereza
Schorer. O imigrante e a pequena propriedade, São Paulo: Brasiliense, Coleção
Tudo é história, v.38, p. 22
[3] CALÓGERAS, Pandiá.
Formação Histórica do Brasil, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1938, p. 141
[4] SZMRECSANYI, Tamás.
Pequen história da agricultura no Brasil, São Paulo: Contexto, 1998, p.44
[5] VIANNA, Helio. História
do Brasil, segunda parte, período colonial. São Paulo: Melhoramentos, 1972,
p.177
[6] AQUINO, Fernando,
Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000,
p.536
[7] NOVAIS, Fernando.
História da vida privada no Brasil , v.2, São Paulo:Companhia das Letras, 2019.
Edição do Kindle, p.245
[8] MARTINS, Ana Luiza.
Império do café, São Paulo: Atual, 1990, p. 66
[9] CANO, Wilson. Raízes da
concentração industrial em São Paulo, São Paulo: Difel, 1977, p.39
[10] Jornal Cearese, 12 de
julho de 1883 http://memoria.bn.br/pdf/709506/per709506_1883_00145.pdf
[11] AQUINO, Fernando,
Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000,
p.536; HOLANDA, Sérgio Buarque de. O livro dos prefácios. São Paulo: Cia das
Letras. 1972
[12] CALÓGERAS, Pandiá.
Formação Histórica do Brasil, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1938, p 197
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