Estudos
de Rae Jean Dell Flory[1] e Stuart Schwartz mostram
que a regra no Brasil colónia não eram engenhos como centenas de escravos, mas
uma pluralidade de unidades menores, a situação do proprietário menor com
poucos escravos era dominante entre os plantadores de cana: “havia muito mais mercado interno e
mobilidade social que as indicadas em hipóteses diretamente montadas sobre
latifúndio”[2] dado confirmado na
tese de Claudia Fuller de 1995 sobre os pequenos agricultores na economia
açucareira.[3] Robert Slenes mostra que 64% das
propriedades (chamadas fogos) com escravos em 1829, e provavelmente uma
proporção ainda maior em 1872, tinham menos de dez cativos[4].
Nos documentos do século XIX a palavra negro foi utilizada na linguagem
coloquial como sinônimo de escravo ou ex-escravo, sendo que o africano era comumente
chamado de “preto” e o cativo nascido no Brasil
conhecido como “crioulo”[5].
Apesar disso, 41% da população livre do Império, recenseada em 1872, era
formada por descendentes de africanos. Peter Eisenberg mostra que no
município de Escada em Pernambuco dos 84 engenhos registrados no decênio de
1850 apenas 15% tinham mais de 3 mil hectares, sendo que a média das
propriedades não açucareira é ainda menor, cerca de vinte vezes em relação aos engenhos
de açúcar.[6] Jorge
Caldeira estima que a imensa maioria dos proprietários rurais tinha menos de
cinco escravos.[7] Manolo Florentino (figura), contudo, mostra que entre 1790 e 1835 as propriedades rurais
com mais de cinquenta escravos (plantations) concentravam em um e dois terços
do total de escravos. Quase todos os homens livres inventariados na pesquisa eram
proprietários de pelo menos um escravo.[8] Manolo Florentino e José
Góes mostram que o mercado de escravos baseado no tráfico transatlântico era
extremamente desigual, pois o alto custo destes escravos afastava o pequeno proprietário:
“em última instância, o tráfico destinava-se a abastecer de escravos não a
sociedade como um todo, mas sim a uma elite que, por meio dele, reproduzia seu
lugar social e, desse modo, reiterava a sua distância em relação a todos os
outros homens livres”[9]. Na pesquisa em
inventários do Rio de Janeiro de 1790-1830 Manolo Florentino e João Gois
encontram apenas 4% dos inventariados que não tinham escravos, sendo claramente
assimétrico o acesso a tais escravos o que reforçava a posição social de uma
elite mostrando se tratar muito mais do que uma sociedade possuidora de escravos,
mas uma sociedade escravista, que usa a posse de escravos como elemento de
diferenciação social. A plantation com mais de 20 escravos representava cerca
de 50% dos engenhos inventariados no período de 1790-1807 aumentando para 75%
no período de 1826-1830 quando o desembarques de escravos africanos aumenta significativamente
o que mostra eu esse aumento não se distribui de modo uniforme entre os
diferentes proprietários. Um relatório
do marquês de Lavradio na capitania do Rio de Janeiro informava que os engenhos
com mais de 41 escravos detinham 55% dos escravos rurais, ainda que o número
médio de escravos por engenhos fosse menor do que o observado em outras regiões
como a Bahia. Os dados de 1790-1835 de Manolo Florentino para o meio rural do
rural do Rio de Janeiro mostram que a participação da faixa dos engenhos com
mais de cinquenta escravos passou de um terço do total de escravos em 1790 para
dois terços em 1835, ou seja, houve um aumento desta concentração da
participação das plantations.[10] Na mineração de Minas
Gerais, Flávia Reis mostra que apenas 8,3% das unidades mineradoras possuíam mais
de 100 escravos, a grande maioria (75%) possuía até 30 escravos apenas, ainda
que existissem muito mais escravos trabalhando do que o sugerido pelos plantéis
encontrados nos inventários dos mineradores. [11]
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