quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

A morte de Atahualpa

 

Os incas na época da Conquista dos espanhóis não conheciam o ferro, a roda, o vidro, o trigo.[1] Entre os incas eram conhecidos o ouro, prata, cobre, chumbo, platina e estanho e dominavam a técnica de fusão de metais com destaque para as cidades de Nasca, Lambayeque, Chavin de Huantar e Tiahuanaco[2]. Ao centro da capital Cusco os cronistas narram a existência de um disco solar em ouro, hoje desaparecido[3]. As pepitas de ouro obtidas dos leitos dos rios eram marteladas em finas lâminas e em seguida buriladas a frio em relevo, técnica inca conhecida como empurramento, que na época mochica teve o aperfeiçoamento de ser submetida à fusão no interior de fornos de madeira.[4] O imperador Atahualpa em combate contra os invasores brancos solicitou que se poupasse o ferreiro de seu exército para que transmitisse aos incas as técnicas em ferro dos espanhóis[5]. Huascar detinha as terras do Sul, com sede na cidade peruana de Cusco, enquanto irmão e rival Atahualpa era responsável pelos territórios do norte, com sede em Quito em homenagem à sua mãe. Quando se dirigia a Cajamarca para uma visita de cortesia a Francisco Pizarro, Atahualpa foi atacado pelas tropas espanholas em uma emboscada. Diante do massacre de 16 de novembro de 1532 Pizarro comentou com Atahualpa: “o ceu assim decidiu”.[6] Tendo sido o soberano inca Atahualpa preso no Templo do Sol pelos espanhóis este procurou escapar da morte ao prometer entregar aos conquistadores espanhóis um aposento de seu palácio repleto de metais precisos, cujas dimensões eram de vinte de dois pés de comprimento, dezessete de largura e oito pés de altura.[7] Em prata Atahualpa prometeu um outro compartimento com duas vezes do mesmo volume do metal. Mesmo cativo Atahualpa continuava a reinar. Atahualpa cumpriu sua promessa entregando algo como seis mil quilos de ouro e onze mil quilos de objetos em prata, no entanto, foi considerado culpado por vários crimes como heresia, poligamia, e também por ter mandado matar seu irmão Huascar, pois Atahualpa acreditava que ele havia tomado parte de uma conspiração junto aos espanhóis contra ele.  Atahualpa foi enforcado em 1533 na praça principal de Cajamarca. Entre os traidores que entregaram Atahualpa aos espanhóis estava Felippillo que atuava como intérprete. O frei Vicente de Valverde aproximou-se de Atahualpa oferecendo-lhe o batismo como forma de escapar da morte das chamas sendo morto por estrangulamento, ao qual concordou morrendo como cristão.[8] Quando souberam da morte de Atahualpa  os peruanos interromperam a execução das ordens de seu soberano para se recolher todo o ouro e prata, interrompendo-se assim as infindáveis caravanas de lhamas. Segundo Rafael Karsten: “subtraídas da cobiça dos estrangeiros e colocadas em esconderijos, onde, desafiando os esforços dos que procuravam tesouros, permaneceram até nossos dias”, alimentando assim as lendas de um tesouro perdido escondido. Morriam assim os dois principais soberanos do império inca. Os espanhóis souberam se aproveitar da disputa local entre Atahualpa e Huascar para conquistar Cusco. Pizarro e seu exército de sessenta e oito soldados conquistaram um império tão vasto quanto a própria, Espanha, França, Alemanha e antigo Austria-Hungria juntos.



[1] BAUDIN, Louis. El império socialista de los incas, Santiago Chile:Ediciones Rodas, 1973, p.101

[2] BAUDIN, Louis. A vida quotidiana dos últimos incas, Lisboa:Ed. Livros do Brasil, p. 255, 256

[3] RIBAS, Ka W. A ciência sagrada  dos Incas, São Paulo:Madras, 2008, p. 113

[4] FAVRE, Henri. A civilização inca, Rio de Janeiro: Zahar, 1987, p.85

[5] BAUDIN, Louis. A vida quotidiana dos últimos incas, Lisboa:Ed. Livros do Brasil, p. 253

[6] LISSNER, Ivar. Assim viviam nossos antepassados. Belo Horizonte: Itatiaia, 1968, p. 291

[7] VALLA, Jean Claude. A civilização dos incas, Rio de Janeiro: Otto Pierre, 1978, p. 29

[8] LISSNER, Ivar. Assim viviam nossos antepassados. Belo Horizonte: Itatiaia, 1968, p. 301



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