terça-feira, 16 de novembro de 2021

Varnhagen: o Heródoto brasileiro

 

A proposta de uma democracia racial ainda que o termo não seja usado por Gilberto Freyre, é um conceito que remonta o século XIX na historiografia. Em artigo publicado na Revista do IGHB em 1845 Von Martins definiu as linhas mestras para um projeto de construção da historiografia do país fomentando o conceito de Brasil nação com base na figura do imperador e na mescla de raças no que mais tarde ficou conhecido como no mito da democracia racial brasileira. Varnhagen, pioneiro na pesquisa arquivística considerado o "Heródoto brasileiro", em História geral do Brasil escrita em 1850, com o olhar do colonizador português,  assume esta síntese proposta por von Martinus destacando o papel dos herois portugueses  e brasileiros brancos, a unidade luso brasileira, minimizando  tensões e rebeliões.[1] Segundo Synesio Filho a visão de Varnhagen é a das classes dominantes a que pertencia: “queria ajudar a construir uma nação branca e europeia, a solidificar a jovem monarquia, e a dar centro e fixar limites a um território ainda não perfeitamente conhecido [...] Os fatos são bem escolhidos, muitos descobertos por ele, mas são sempre interpretados de maneira a aparecer claramente a superioridade de uma etnia, de uma cultura, de uma religião. Uma história bem representativa, aliás, do pensamento dominante no período e nos centros europeus”.[2] Ao contrário de Varnhagen que destacava o papel do Estado e da família imperial portuguesa na colonização, Gilberto Freyre tem o foco a iniciativa particular da família rural portuguesa e senhores de engenho como sujeitos da história colonial portuguesa. Para Capistrano de Abreu falta a Varnhagen  uma periodização da história do Brasil e uma visão de conjunto à sua obra, que se perde por vezes no detalhe de alguns episódios da história.



[1] REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC, Rio de Janeiro: FGV., 2003, p.26

[2] LIMA Sérgio Eduardo Moreira. Varnhagen (1816-1878) diplomacia e pensamento estratégico, Brasília: Funag, 2016, p.90



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