Sobre a Summa Theologiae escrita entre 1265 e 1273 comenta
Cesare Cantu: “é uma enciclopédia
prodigiosa, em que a ciência, a fé, toda a erudição de seu tempo, são
desenvolvidas debaixo da forma do silogismo”. O silogismo aristotélico é um
encadeamento lógico em que a partir de dadas premissas se chega a uma
conclusão. Por exemplo: dada duas premissas “Todos os homens são mortais” e ‘Sócrates é um homem” podemos concluir
que “Sócrates é mortal”.[1] Colocado
de outra forma, se todo A é B, se todo B é C então todo A é C. O silogismo
transcreve na linguagem da inferência a ordem causal do mundo[2]. O
cético Sexto Empírico critica e refuta o silogismo como um círculo vicioso pois nada impede que
encontremos um único caso contrário aos outros para mostrar que tal proposição,
obtida por silogismo, seja de fato universal[3]. Daniel
Rops observa que “a filosofia escolástica quer estudar racionalmente os problemas
do mundo, a teologia escolástica quer reunir num corpo de doutrina, numa suma, as
verdades reveladas. O método empregado para fazer avançar o conhecimento é
sobretudo a dialética, a arte de raciocinar, que procura deduzir consequências
lógicas de uma noção dada. O silogismo goza de todas as honras, e, se este
método de investigação degenerou às vezes em discussões inúteis e em distinções
meramente verbais, não se pode negar que contribuiu também para o progresso do
pensamento e para o aprofundamento dos grandes problemas [...] Bem longe de
mostrar-se estagnado, o pensamento medieval dá, portanto, a impressão de um efervescência que em poucos períodos da história ofereceu um espetáculo tão belo”.[4] Segundo
José Silveira: “A primeira característica da Escolástica está no fato de ser uma
filosofia que não busca propriamente descobrir a verdade formulando novas
hipóteses ou teorias acerca da origem e natureza do universo em geral e do
homem em particular, mas apenas compreender o conteúdo da revelação sobre essas
questões. Parte-se do princípio de que a verdade já está dada na revelação. O
que falta é compreender essa verdade. Por isso, desde o início, a Escolástica
enfrenta o problema hermenêutico, a questão da interpretação. Pois, embora se
acredite na verdade da revelação não é clara nem evidente. É preciso
interpretá-la”.[5] José Silveira observa que é um equívoco se pensar o pensamento escolástico como
monolítico.
[1] CHAUÍ, Marilena.
Convite à filosofia, São Paulo: Ática, 2004, p. 162
[2] ZINGANO, Marco. Platão
& Aristóteles: o fascínio da filosofia, São Paulo:Odysseus Editora, 2002,
p.88
[3] MONDOLFO, Rodolfo. O
pensamento antigo: desde Aristóteles até os neoplatônicos, São Paulo: Mestre
Jou, 1973, p. 143
[4] ROPS,
Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 356
Nenhum comentário:
Postar um comentário