quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Silogismo escolástico e a efeverscência de ideias

 

Sobre a Summa Theologiae escrita entre 1265 e 1273 comenta Cesare Cantu: “é uma enciclopédia prodigiosa, em que a ciência, a fé, toda a erudição de seu tempo, são desenvolvidas debaixo da forma do silogismo”. O silogismo aristotélico é um encadeamento lógico em que a partir de dadas premissas se chega a uma conclusão. Por exemplo: dada duas premissas “Todos os homens são mortais” e ‘Sócrates é um homem” podemos concluir que “Sócrates é mortal”.[1] Colocado de outra forma, se todo A é B, se todo B é C então todo A é C. O silogismo transcreve na linguagem da inferência a ordem causal do mundo[2]. O cético Sexto Empírico critica e refuta o silogismo  como um círculo vicioso pois nada impede que encontremos um único caso contrário aos outros para mostrar que tal proposição, obtida por silogismo, seja de fato universal[3]. Daniel Rops observa que “a filosofia escolástica quer estudar racionalmente os problemas do mundo, a teologia escolástica quer reunir num corpo de doutrina, numa suma, as verdades reveladas. O método empregado para fazer avançar o conhecimento é sobretudo a dialética, a arte de raciocinar, que procura deduzir consequências lógicas de uma noção dada. O silogismo goza de todas as honras, e, se este método de investigação degenerou às vezes em discussões inúteis e em distinções meramente verbais, não se pode negar que contribuiu também para o progresso do pensamento e para o aprofundamento dos grandes problemas [...] Bem longe de mostrar-se estagnado, o pensamento medieval dá, portanto, a impressão de um efervescência que em poucos períodos da história ofereceu um espetáculo tão belo”.[4] Segundo José  Silveira: “A primeira característica da Escolástica está no fato de ser uma filosofia que não busca propriamente descobrir a verdade formulando novas hipóteses ou teorias acerca da origem e natureza do universo em geral e do homem em particular, mas apenas compreender o conteúdo da revelação sobre essas questões. Parte-se do princípio de que a verdade já está dada na revelação. O que falta é compreender essa verdade. Por isso, desde o início, a Escolástica enfrenta o problema hermenêutico, a questão da interpretação. Pois, embora se acredite na verdade da revelação não é clara nem evidente. É preciso interpretá-la”.[5] José Silveira observa que é um equívoco se pensar o pensamento escolástico como monolítico.

[1] CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia, São Paulo: Ática, 2004, p. 162

[2] ZINGANO, Marco. Platão & Aristóteles: o fascínio da filosofia, São Paulo:Odysseus Editora, 2002, p.88

[3] MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: desde Aristóteles até os neoplatônicos, São Paulo: Mestre Jou, 1973, p. 143

[4] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 356

[5] COSTA, José Silveira da. A escolástica cristã medieval, Rio de Janeiro, 1999, p.14



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