segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Empreendimentos industriais dos jesuítas no Brasil colonial

 

No século XVIII o padre português Malagrida confrontado pelo irmão de marquês de Pombal quanto ao atraso que a Ordem dos jesuítas impunha por conta da religião ao passo que os protestantes estavam mais adiantados (antecipando a tese de Max Weber desenvolvida posteriormente na Etica protestante) contra argumenta que não apenas nas reduções do Paraguai mas também no Grão Pará haviam fazendas controladas por jesuítas como as de Jagoarari e Ibirajuba no rio Moju (um dos engenhos mais prósperos da Companhia) que consistiam empreendimentos não apenas agrícolas, mas industriais com olarias, serralharia e até mesmo a domesticação do “cacau brabo” em “cacau manso”.[1] O padre jesuía João Daniel aponta que a maniva (mandioca) e as pacovas (bananas), quando plantadas juntamente com o cacau, forneciam-lhe nos primeiros anos a sombra necessária para o crescimento.[2] O padre João Daniel (1722-1776) em Tesouro escondido no Máximo rio Amazonas descreve máquina para aproveitamento das marés do rio Guamá e uma invento relativo a um conjunto de velas que permitiam a navegação dos barcos independentes da direção do vento. Seus engenhos, contudo, nunca foram implementados na prática.[3] O Colégio da Luz em São Luís do Maranhão tinha uma faculdade de física. Bartolomeu de Gusmão no colégio em Belém da Cachoeira irá desenvolver seu invento de bomba d'água que elevava a as águas do açude loca ao segundo piso do colégio[4]. Estes alguns dos exemplos mencionados pelo padre Malagrida para comprovar o empreendedorismo dos jesuítas no Brasil. [5] Com a expulsão em 1759 todos os engenhos de açúcar foram vendidos pois a Coroa não tinha intenção em mantê-los sob sua propriedade. Segundo Calmon, a venda em leilão dos bens dos jesuítas da Bahia e Sergipe teria rendido 548 milhões de réis. Segundo Fabrício Santos: “O impacto econômico da expulsão e do confisco do patrimônio jesuítico foi, sem dúvida, significativo para os cofres reais, mas uma parte dos bens possuía valor muito mais cultural ou religioso do que propriamente econômico. Este é o caso, por exemplo, das relíquias do padre Anchieta, remetidas a Lisboa no mesmo navio que conduziu os jesuítas para o exílio”. Paulo de Assunção em Negócios jesuíticos: o cotidiano da administração dos bens divinos mostra que o “complexo sistema produtivo” mantido pelos jesuítas contribuiu para o desenvolvimento de conhecimentos e técnicas bem como para geração de riqueza e desta forma manutenção do próprio império português.



[1] CHAMBOULEYRON, Rafael. O plantio do cacau na Amazônia colonial (séculos XVII e XVIII), http://aphes32.cehc.iscte-iul.pt/docs/s8_4_pap.pdf; LEITE, Serafim, SJ. História da Companhia de Jesus no Brasil. Lisboa/Rio de Janeiro: Portugália/INL, 1943, vol. IV, pp. 158-61. Ver também: ALDEN, Dauril. The making of an enterprise. The Society of Jesus in Portugal, its empire and beyond, 1540-1750. Stanford: Stanford University Press, 1996, pp. 546-47; WALKER, Timothy. “Slave labor and chocolate in Brazil: the culture of cacao plantations in Amazonia and Bahia (17th-19th centuries)”. Food & Foodways, Philadelphia, vol. 15 (2007), pp. 85-89; ARENZ, Karl-Heinz. De l’Alzette à l’Amazone. JeanPhilippe Bettendorff et les jésuites en Amazonie portugaise (1661-1693). Saarbrücken: Éditions Universitaires Européennes, 2010, pp. 338-41

[2] RAVENA, Nirvia; MARIN, Rosa Elizabeth. A teia de relações entre índios e missionários, VARIA HISTORIA, Belo Horizonte, vol. 29, nº 50, p.395-420, mai/ago 2013 https://www.scielo.br/j/vh/a/FHryQZMRNDp775NRX7bgNqs/?format=pdf&lang=pt

[3] LOBATO, Ana. O tesouro escondido na Amazônia: um estudo sobre natureza, trabalho e riqueza na obra do jesuíta João Daniel, Disssertação de Mestrado, USP, São Paulo, 2009 https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-24112009-143314/pt-br.php

[4] BARROS, Henrique Lins. Bartolomeu de Gusmão na Corte de D. João V: o balão de ar quente. Livro de Anais do Programa de pós graduação em História das Ciências e das técnicas e Epistemologia HCTE, Scientiarum Historia II, Encontro luso-brasileiro de História das Ciências, 2009, p.69-80

[5] GOVONI, Ilário. Malagrida e o triunvirato pombalino. In: BRASIL, Jesuítas. Bicentenário da restauração da Companhia de Jesus (1814-2014), São Paulo: Loyola, 2014, p.378



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