No século XVIII o padre português Malagrida
confrontado pelo irmão de marquês de Pombal quanto ao atraso que a Ordem dos
jesuítas impunha por conta da religião ao passo que os protestantes estavam
mais adiantados (antecipando a tese de Max Weber desenvolvida posteriormente na
Etica protestante) contra argumenta que não apenas nas reduções do Paraguai mas também
no Grão Pará haviam fazendas controladas por jesuítas como as de Jagoarari e Ibirajuba
no rio Moju (um dos engenhos mais prósperos da Companhia) que consistiam
empreendimentos não apenas agrícolas, mas industriais com olarias, serralharia
e até mesmo a domesticação do “cacau brabo” em “cacau manso”.[1] O
padre jesuía João Daniel aponta que a maniva (mandioca) e as pacovas (bananas),
quando plantadas juntamente com o cacau, forneciam-lhe nos primeiros anos a
sombra necessária para o crescimento.[2] O
padre João Daniel (1722-1776) em Tesouro
escondido no Máximo rio Amazonas
descreve máquina para aproveitamento das marés do rio Guamá e uma invento relativo
a um conjunto de velas que permitiam a navegação dos barcos independentes da
direção do vento. Seus engenhos, contudo, nunca foram implementados na prática.[3] O
Colégio da Luz em São Luís do Maranhão tinha uma faculdade de física. Bartolomeu
de Gusmão no colégio em Belém da Cachoeira irá desenvolver seu invento de bomba
d'água que elevava a as águas do açude loca ao segundo piso do colégio[4].
Estes alguns dos exemplos mencionados pelo padre Malagrida para comprovar o
empreendedorismo dos jesuítas no Brasil. [5] Com a
expulsão em 1759 todos os engenhos de açúcar foram vendidos pois a Coroa não
tinha intenção em mantê-los sob sua propriedade. Segundo Calmon, a venda em
leilão dos bens dos jesuítas da Bahia e Sergipe teria rendido 548 milhões de réis.
Segundo Fabrício Santos: “O impacto
econômico da expulsão e do confisco do patrimônio jesuítico foi, sem dúvida,
significativo para os cofres reais, mas uma parte dos bens possuía valor muito
mais cultural ou religioso do que propriamente econômico. Este é o caso, por
exemplo, das relíquias do padre Anchieta, remetidas a Lisboa no mesmo navio que
conduziu os jesuítas para o exílio”. Paulo de
Assunção em Negócios
jesuíticos: o cotidiano da administração dos bens divinos mostra que o “complexo
sistema produtivo” mantido pelos jesuítas contribuiu para
o desenvolvimento de conhecimentos e técnicas bem como para geração de riqueza
e desta forma manutenção do próprio império português.
[1] CHAMBOULEYRON, Rafael. O plantio do cacau na Amazônia colonial (séculos XVII e
XVIII), http://aphes32.cehc.iscte-iul.pt/docs/s8_4_pap.pdf; LEITE, Serafim, SJ.
História da Companhia de Jesus no Brasil. Lisboa/Rio de Janeiro: Portugália/INL,
1943, vol. IV, pp. 158-61. Ver também: ALDEN, Dauril. The making of an enterprise. The Society of
Jesus in Portugal, its empire and beyond, 1540-1750. Stanford: Stanford University
Press, 1996, pp. 546-47; WALKER, Timothy. “Slave labor and chocolate in Brazil:
the culture of cacao plantations in Amazonia and Bahia (17th-19th centuries)”.
Food & Foodways, Philadelphia, vol. 15 (2007), pp. 85-89; ARENZ,
Karl-Heinz. De l’Alzette à l’Amazone. JeanPhilippe Bettendorff et les jésuites
en Amazonie portugaise (1661-1693). Saarbrücken: Éditions Universitaires
Européennes, 2010, pp. 338-41
[2] RAVENA, Nirvia; MARIN, Rosa Elizabeth. A teia de relações entre índios e
missionários, VARIA HISTORIA, Belo Horizonte, vol. 29, nº 50, p.395-420,
mai/ago 2013 https://www.scielo.br/j/vh/a/FHryQZMRNDp775NRX7bgNqs/?format=pdf&lang=pt
[3] LOBATO, Ana. O tesouro escondido na Amazônia: um estudo sobre natureza,
trabalho e riqueza na obra do jesuíta João Daniel, Disssertação de Mestrado, USP,
São Paulo, 2009 https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-24112009-143314/pt-br.php
[4] BARROS,
Henrique Lins. Bartolomeu de Gusmão na Corte de D. João V: o balão de ar
quente. Livro de Anais do Programa de pós graduação em História das Ciências e
das técnicas e Epistemologia HCTE, Scientiarum Historia II, Encontro
luso-brasileiro de História das Ciências, 2009, p.69-80
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