Em
813 o concílio de Tours[1] e em 847 o de Mogúncia ordenaram os bispos a tradução das homillias em romano
rústico ou em alemão para que fossem compreendidas pelo povo (ad popolum), o que marcou a “certidão de nascimento das línguas
nacionais”.[2] Ainda
em 1200 haviam cinco dialetos na área onde hoje existe a França. Quando o
império romano estava em seu apogeu, somente a elite culta sabia o latim
clássico, sendo que a maioria das pessoas falava uma versão coloquial do latim
falado. O primeiro escrito numa língua francesa distinta do latim foram os
"Juramentos de Estrasburgo” (Sacramenta
Argentariae) de 842 assinado entre Carlos o Calvo e Luís o Germano foram
assinados em um protofrancês romântico e num protogermânico teutônico,
respectivamente.[3] Existem textos mais antigos atestando a
existência de uma língua românica falada na França, como os Gloses de Cassel
(por volta do século VIII ou IX) ou os Gloses de Reicheneau (século
VIII), no entanto, são meros glossários, listas de palavras, e não propriamente
um texto completo.[4] O
epitáfio do papa Gregório V em 999 sinaliza a mesma ideia: “ele ensinou os povos por meio de uma tríplice eloquência, usando o
francês, o vulgar e o latim”. No Concílio de Arras em 1025 os hereges não
compreenderam a profissão de fé proposta em latim sendo necessário tradutores.[5] Em 1095 o bispo Winston estava separado do Conselho do rei da Inglaterra porque
não sabia falar francês. Os poemas conhecidos com canções de gesta eram
escritos em língua vulgar e apareceram na França no século XI.[6] Em 1275 Martins de Canale escreve em francês a história de Veneza[7].
As crônicas de Villehardouin e de Joinville foram escritas em francês como as
trovas Roman de la Rose e Roman de Renart. O dominicano Henrique
Suso (1295-1366) foi pioneiro no uso do alemão na pregação[8].
A Grande Crônica Saxônia foi escrita em alemão em 1248 [9].
Segundo Marc Bloch: “não há nada mais
absurdo do que confundir a língua com nacionalidade. Mas não o seria menos
negar o seu papel na cristalização das consciências nacionais”.[10] Daniel Boorstin mostra que o latim uniu a comunidade culta da Igreja e das
universidades medievais permitindo o intercâmbio de professores e alunos entre
Bolonha, Heildelbrg e Praga, por exemplo: “pela
primeira vez o continente tinha uma só língua do saber”.[11] Seria, contudo, um erro considerar o latim de uso exclusivo dos clérigos, pois
entre os clérigos difundiram-se obras como textos de Aelfrico de Eynsham dos
Evangelhos em fins do século X escrito em francês antigo.[12] Daniel Rops observa que as ascensão dos idiomas nacionais está relacionado ao
mesmo movimento que irá conduzir a ascensão das nacionalismos e a uma
fragmentação política que assim como a fragmentação religiosa com a Reforma irá
ameaçar a unidade da Europa no período medieval. [13]
[9] ROPS, Daniel. A Igreja das
catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 628
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