Sérgio
Buarque de Holanda mostra em Visão do Paraíso como os mitos de Eden e da
busca do Paraíso povoaram o imaginário de portugueses e espanhóis: “essa
psicose do maravilhoso não se impunha só a singeleza e credulidade da gente
popular. A ideia de que do outro lado do Mar Oceano se acharia, senão o
verdadeiro Paraís terrestre, sem dúvida um símile em tudo digno dele, perseguia,
com pequenas diferenças, a todos os espíritos”.[1] Lemos Brito observa que Portugal importou milhares de índios para trabalho
escravo em Lisboa, podendo cada donatário exportar trinta índios por ano sem
ter de pagar qualquer imposto, o que revela que Portugal na época não
considerava os índios indolentes.[2] Dentro deste conceito de paraíso terrestre Montaigne se refere à vida entre os indígenas: “Dizem
que no Brasil as pessoas só morrem de velhice, o que se atribui à pureza e à
calma do ar que respiram, e que, a meu ver, provém antes da serenidade e da
tranquilidade de suas almas isentas de paixões, de desgostos, de preocupações
que excitam e contrariam. Ignorantes, iletrados, sem lei nem rei, nem religião
alguma, sua vida desenvolve-se numa admirável simplicidade”. Antonio Vieira
retornou ao Brasil em 1681 pois acreditava que Brasil poderia viver mais tempo.
Ainda em 1756 Voltaire alimentava tais expectativas: “Vespúcio chegou ás coisas
do Brasil situadas perto do equador. È o terreno mais fértil da Terra, o ceu
mais puro e o ar mais saudável. A vida dos homens, limitada por toda a parte a
oitenta anos, no máximo, estende-se geralmente entre s brasileiros a cento e
vinte e oito, às vezes até cento e quarenta anos. Ainda hoje , vêem-se
portugueses decrépitos embarcarem em Lisboa e rejuvenescerem no Brasil”.[3]
[1] HOLANDA, Sérgio Buarque
de. Visão do Paraíso. São Paulo: Brasiliense, 2000, p.221
[2] BRITO, José Gabriel
Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v.
155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.138
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