terça-feira, 26 de outubro de 2021

Um paraíso chamado Brasil

 

Sérgio Buarque de Holanda mostra em Visão do Paraíso como os mitos de Eden e da busca do Paraíso povoaram o imaginário de portugueses e espanhóis: “essa psicose do maravilhoso não se impunha só a singeleza e credulidade da gente popular. A ideia de que do outro lado do Mar Oceano se acharia, senão o verdadeiro Paraís terrestre, sem dúvida um símile em tudo digno dele, perseguia, com pequenas diferenças, a todos os espíritos”.[1] Lemos Brito observa que Portugal importou milhares de índios para trabalho escravo em Lisboa, podendo cada donatário exportar trinta índios por ano sem ter de pagar qualquer imposto, o que revela que Portugal na época não considerava os índios indolentes.[2] Dentro deste conceito de paraíso terrestre Montaigne se  refere à vida entre os indígenas: “Dizem que no Brasil as pessoas só morrem de velhice, o que se atribui à pureza e à calma do ar que respiram, e que, a meu ver, provém antes da serenidade e da tranquilidade de suas almas isentas de paixões, de desgostos, de preocupações que excitam e contrariam. Ignorantes, iletrados, sem lei nem rei, nem religião alguma, sua vida desenvolve-se numa admirável simplicidade”. Antonio Vieira retornou ao Brasil em 1681 pois acreditava que Brasil poderia viver mais tempo. Ainda em 1756 Voltaire alimentava tais expectativas: “Vespúcio chegou ás coisas do Brasil situadas perto do equador. È o terreno mais fértil da Terra, o ceu mais puro e o ar mais saudável. A vida dos homens, limitada por toda a parte a oitenta anos, no máximo, estende-se geralmente entre s brasileiros a cento e vinte e oito, às vezes até cento e quarenta anos. Ainda hoje , vêem-se portugueses decrépitos embarcarem em Lisboa e rejuvenescerem no Brasil”.[3]

[1] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do Paraíso. São Paulo: Brasiliense, 2000, p.221

[2] BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.138

[3] GIANNETTI, Eduardo. O livro das citações, São Paulo: Cia das Letras, 2008, p.328



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