segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Os bronzes de Benin

 

Froebeniius em sua obra “E a África falou” relata o assombro dos navegantes portugueses ao entrarem em contato com a riqueza da cultura ioruba: estradas cuidadosamente traçadas, ricos campos cultivados, pessoas vestidas de magníficas roupas feitas de tecidos de fabricação própria: “os relatórios de navegantes dos séculos XV a XVII não deixam margem à dúvida alguma de que a África que se estendia ao sul do Saara se achava então num estado altamente civilizado”.[1] Leo Froebenius atribui as cabeças de Ifé, por ele descobertas em 1910 em um bosque  sagrado dedicado ao orixá do oceano Olocum, a data do século V a.c e que procedem da arte egípcia menfita do período persa, porém Shinnie não está convencido desta relação direta: “há agora quantidade de provas que demonstram que  muitas partes da África possuíam sociedades altamente desenvolvidas, bem adaptadas aos ambientes, desde tempos antigos, e de que, embora na África, como em outras partes do mundo, nenhuma sociedade fica isolada e um tráfego de duas mãos de ideias e técnicas acontece, não sendo absolutamente necessário presumir que tudo na África veio do Egito”[2]. O estilo similar a arte grega levou a Froebenius se recusar que pudessem ser sido criação do povos africanos, atribuindo a um vestígio da arte encontrada em Atlântida[3]. Cheikh Anta Diop em Antériorité des civilizations nègres sustenta a tese de que as civilizações negras são anteriores à civilização egípcia o que se comprova pelo paralelismo da língua senegalesa Wolof e o egípcio antigo e pela presença de arte rupestre representando seres humanos com cabeças de animais antecipando o zoomorfismo observado no Egito[4]. Em 1897 os britânicos invadiram e saquearam o palácio de Obá na cidade de Benin na Nigéria recolhendo diversas obras de arte, bronzes e joias hoje guardadas nos museus europeus[5]. Estátuas do Palácio de Abomey, a capital histórica do atual Benim, foram roubadas em 1892 por tropas francesas do general Alfred Amédée Dodds. O governo de Benin reclama a devolução de 4.500 e 6.000 objetos que pertencem ao país, incluindo tronos, portas de madeira gravada e cetros reais.[6] Nos séculos XVII e XVIII os artesãos muçulmanos atingiram um grau sofisticado de ourivesaria, particularmente com os ashanti da Guiné, que dominavam a técnica de cera perdida.[7] A ministra da Cultura da Alemanha Monika Grütters, decidiu que a devolução dos Bronzes à Nigéria começará em 2022. O ministro do Interior alemão, Heiko Maas, comentou: "O fato de se ter conseguido estabelecer um cronograma para as restituições dos objetos, junto com os museus e seus patrocinadores, é uma virada de página em nossa abordagem da história colonial."[8]

[1] WENDT, Herbert. Tudo começou em Babel, São Paulo:Difusão, 1962, p. 194

[2] HARRIS, J. O legado do Egito, Rio de Janeiro:Imago, 1993, p.460

[3] SILVA, Alberto da Costa. A África explicada aos meus filhos, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013, p. 75

[4] CARISE, Iracy. A arte negra na cultura brasileira, Rio de Janeiro:Artenova, 1980, p.108

[5] MacGREGOR, Neil. A história do mundo em 100 objetos, Rio de Janeiro:Intrínseca, 2013, p.554; ROBERTS, J.M. history of the world, Oxford University Press, 1992, p.722; CARISE, Iracy. A arte negra na cultura brasileira, Rio de Janeiro:Artenova, 1980, p.109

[6] https://g1.globo.com/mundo/noticia/africa-exige-da-europa-restituicao-de-tesouros-roubados.ghtml

[7] OGOT, Bet Hwell. História geral da África, v.V, África do século XVI ao XVIII. Brasília:Unesco, 2010. p.513

[8] https://www.dw.com/pt-br/alemanha-restituir%C3%A1-arte-saqueada-%C3%A0-nig%C3%A9ria/a-57393395



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