A ocupação holandesa no Recife fomentou novos sistemas
de valores de vocação às profissões de ofícios mecânicos em consonância com a
ética protestante, proporcionando a ascenção dos comerciantes. Segundo Vicente
Ferrer: “os tempos coloniais, o mais
frequente, o usual, era o mercador ir a casa do nobre, na cidade ou no campo,
vender-lhe tudo desde os viveres até os custoso panos, por isso, a mascateação
era a forma comum de comerciar [...] Os nobres que não haviam experimentado o
bem estar resultante do trabalho, os milagres operados pela economia e ordem,
odiavam mascates, como odiaram os frugais e sóbrios holandeses e alegaram
contra todos, especulações de alguns usurários que os há em todas as sociedades.
E assim como se insurgiram contra os holandeses para não pagar os engenhos
comprados a crédito e o mais que lhes deviam (com o que lucrou o mercador João
Fernandes Vieira um dos chefes da insurreição pernambucana) também
aproveitaram-se da questão dos mascates para não pagar o que a estes
deviam".[1] João
Fernandes Vieira (1610-1681) nasceu na ilha da Madeira, era mulato e chegou a
ser abastado senhor de engenho[2], tendo
atuado comércio dos produtos mais rentáveis da região, o pau-brasil, o açúcar e
os escravos. Tendo colaborado e enriquecido durante o período de ocupação dos
holandeses passou a integrar as forças de resistência contra os holandeses
depois da partida de Maurício de Nassau. Russel Wood destaca a acusação contra João
Fernandes Vieira de que ele teria revelado aos holandeses o tesouro do judeu
português Pantalião Monteiro, o que lhe teria valido posição como protegido dos
holandeses, tornando-se proprietário de cinco fazendas de açúcar (ainda não
pagas) tornando-se o segundo maior devedor dos holandeses na colônia.[3] Talvez
por conta das dívidas, João Fernandes Vieira tornou-se líder na “guerra da
liberdade divina" contra os holandeses, no monte das Tabocas em 1645 e
na guerra de Guararapes em 1648 e 1649, e, finalmente, governador da Paraíba
(1655-1658) e Angola (1658-1661). Recebeu os títulos de Capitão-Mor do Pinhal,
Comendador da Ordem de Cristo e membro do Conselho de Guerra. Um documento de
1668 registra que João Fernandes Vieira era proprietário de dezesseis engenhos
de açúcar.
[1]FERRER, Vicente. Guerra
dos Mascates, Lisboa: Livraria Classica Editora, 1915, p.77, 80 Biblioteca José
Midlin
[2] BOXER, Charles. A idade
de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. São
Paulo:Cia Editora Nacional, 1969, p. 40
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