A grande
expansão cafeeira da década de 1890 em São Paulo, em espacial do Oeste
paulista, foi realizada com base na
imigração de 800 mil europeus, principalmente italianos, portugueses e espanhóis
e tendo como capital inicial a anterior atividade açucareira local. Wilson Cano
mostra que o café possibilitou a acumulação de capital necessária para o fomento
das primeiras atividades industriais que se desenvolveram antes da década de
1930, de modo que se observou nesta fase uma subordinação da expansão industrial
ao capital cafeeiro. Os próprios fazendeiros investiam seus lucros em
indústrias diretamente ou indiretamente através do sistema bancário. Por
exemplo, o Banco União de São Paulo, fundado por fazendeiros investiu na
extração de mármore, na fábrica de calçados União e na fábrica de tecidos Votorantim[1].
Em 1901 Antonio Francisco Bandeira Junior relata a proliferação das pequenas
manufaturas nas cidades: “é incalculável
o número de tendas de sapataria, mercearias, fábricas de massas, de graxa, de
óleos, de tintas de escrever, fundições, tinturarias, fábricas de calçados,
manufaturas de roupas e chapéus, que funcionam em estalagens, em fundos de
armazéns, em resumo: em lugares que o público não vê”.[2] Muitas destas iniciativas industriais são de imigrantes como Francisco
Matarazzo, José Pereira Ignacio, Ernesto Diederichsen, Egydio Gamba, os irmãos
Puglini Carbone, os Jaffet, Rodolfo Crespi[3],
os Hermann Hering[4],
Jorge Street e Nicolau Scarpa em tecelagens, Abramo Eberle em funilaria[5],
os Klabin em papel, Otto e Alfreid Weiszflog em papel (Melhoramentos)[6],
a ponto de Francisco Matarazzo afirmar: “O
Brasil é filho de Portugal, mas São Paulo é filha da Itália”. Warren Dean
mostra que esses pioneiros estrangeiros eram em sua grande maioria vindos de
família de classe média e tinham instrução técnica ou experiência no comércio
ou manufatura antes de virem ao Brasil. Algumas poucas exceções haviam
ascendido como operários de fábricas e
mascates como Dante Ramenzoni fabricante de chapéus e Nicolau Scarpa dono de
moinhos e fábricas de tecidos. Para Warren Dean há uma forte correlação entre o
comércio exterior, sobretudo o de importação, e a origem da industrialização,
em especial por parte da chamada “burguesia imigrante” de modo que o café,
principal produto da pauta do comércio exportador tinha um papel importante na capitalização
destas atividades industriais pioneiras. Esta tese se opõe a de Roberto
Simonsen que entendia haver um grande obstáculo da produção cafeeira à
industrialização ou a Jacob Gorender que entendia estar no artesanato local a
matriz dos primeiros empreendimentos industriais.[7] Warren Dean contesta a tese de que os investimentos de cafeicultores na
indústria se deram por conta da retração no comércio internacional de café, tal
como se encontra em autores nacionalistas como Roberto Simonsen ou Celso Furtado.
Wilson Cano, contudo, observa que Warren Dean fez uma leitura errada destes
autores, pois na medida em que a industrialização avança o comércio externo
muda de papel e passa a ser estratégico para a capacidade de importar. Desta
forma até 1930 a industrialização de fato surge como um processo induzido pela exportações
de café, mas a partir desta década inicia-se uma etapa em que a
industrialização tem como efeito motriz um processo de substituição de
importações.[8]
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