domingo, 3 de outubro de 2021

A ascenção social do negro e o papel das Irmandades religiosas

 

Daniel Precioso (figura) em seu trabalho de 2011 “Legítimos vassalos: pardos livres e forros na Vila Rica Colonial (1750-1803)” e Henrique Nelson da Silva em dissertação pela UFPE em 2010 Trabalhadores de São José: artesãos do Recife no século XVIII igualmente identificam a possibilidade de ascensão social de tais artesãos, por exemplo, Antonio Fernandes de Matos (1671-1701), mestre pedreiro português, fez fortuna no Recife do século XVII.[1] José, escravo do Doutor Joaquim Apolinário, em 1791, mesmo contrariando a diretoria da Irmandade de São José do Recife conseguiu sua carta de exame após recurso junto à Câmara de Olinda. A importância social da Irmandade de São José do Recife foi reconhecida pela visita do governador Correia de Sá na abertura do culto da Igreja em 1754. No Rio de Janeiro uma loja de mercearia somente receberia autorização da Câmara da cidade para funcionar se o mestre obtivesse a carta aprovada pela Irmandade de São José, à qual este ofício estava vinculado.[2] Daniel Precioso estuda a confraria de são José dos Bem casados, reduto de sociabilidade dos homens pardos e de ascensão social, o que incluía artesãos de diferentes ofícios carpinteiros, pedreiros, pintores, entalhadores, ferreiros, marceneiros, serralheiros, oleiros, seleiros, sapateiros e alfaiates que podiam inclusive exercer suas funções de oficiais mecânicos e ocupar postos em milícias conjugando a mineração a essas atividades, por exemplo, o pardo Gonçalo da Silva Minas, boticário e mineiro, sargento-mor do terço auxiliar dos homens pardos libertos de Vila Rica alforriado por seu antigo senhor, o boticário José Carneiro de Miranda que em seu testamento legou ao seu escravo “pardo”, “uma botica aparelhada e uma morada de casas com seus trastes”. Além do serviço de boticário, Gonçalo desempenhava também a profissão de mineiro, pois declarou ser dono de um “serviço e mina, com suas vertentes e mais pertences”. Na análise de Daniel Precioso o caso de Gonçalo  “exemplifica o caminho percorrido por um grupo seleto de homens pardos que, uma vez egressos do cativeiro ou livres por apenas uma ou duas gerações do cativeiro, emergiram socialmente das injunções de uma estrutura colonial tardia e viveram as imprecisões das leis de uma sociedade herdeira de critérios do antigo regime, mas igualmente marcada pelo jus naturalismo e, no âmbito econômico, pela crescente importância da riqueza como fator de hierarquização”.[3] Daniel Precioso corrobora a tese de Russel Wood em sua obra “Escravos e libertos no Brasil colonial” de 1967 de que “as irmandades e as tropas auxiliares eram locus privilegiado para a investigação da sociabilidade e da pressão empreendida por indivíduos de ascendência africana sobre as autoridades”.



[1] BOXER, Charles. A idade de ouro do Brasil. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1969, p. 34

[2] CAVALCANTI, Nireu. O Rio de Janeiro setecentista: a vida e a construção da cidade da invasão francesa até a chegada da Corte, Rio de Janeiro:Zahar, 2004, p. 209

[3] http://docplayer.com.br/13467365-Legitimos-vassalos-pardos-livres-e-forros-na-vila-rica-colonial-1750-1803-daniel-precioso.html



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