A sacralidade do ferro tem sua origem no ferro obtido
de meteoros, sua origem celestial. A palavra suméria ambar, o vocábulo mais
antigo a designar o ferro é formado pelos ideogramas do céu e do fogo. [1] Na
concepção vitalista presente na alquimia a sexualidade é um sinal particular de
toda e qualquer realidade viva, de modo que tanto o mundo natural, vegetais e e
minerais incluídos como os objetos e ferramentas fabricados pelo homem
apresentam-se como sexuados. A classificação sexual dos minerais e das pedras
foi preservadas nos escritos alquimistas medievais que se se referem por
exemplo ao lapis judaicus como macho
ou fêmea[2]. O
casamento de metais se realiza no mysterium
coniunctionis da alquimia. Ibn Sina ou Avicena no século X afirmava: “o amor romântico não é exclusivo da espécie
humana, penetra em tudo o que existe ao nível celeste, elementário, vegetal e
mineral, e o seu sentido não é percebido nem conhecido, mas torna-se mais
obscuro á medida que vamos tentando explica-lo”.[3] O nome
sânscrito da esmeralda é amagarbhaja
ou “nascido da rocha”. Segundo Colbus
Fribergius citado por Agrícola no seu livro De re metallica do século XVI
havia uma crença muito difundida na idade média de que os minerais são
produzidos pela união de dois princípios o enxofre (princípio fixo, semente
masculina) e o mercúrio (princípio volátil, semente feminina). Paracelso introduziu
um terceiro princípio, o sal com a função de unir o enxofre ao mercúrio. A salga
da carne impedia a deterioração da carne porque impedia que enxofre e sal se
separassem.[4] Na alquimia em oposição aos planetas masculinos Sol (ouro), Marte (ferro),
Júpiter (estanho) e aos planetas femininos Lua (prata), Vênus (cobre), Saturno (chumbo),
o Mercúrio (mercúrio) era interpretado como hermafrodita e, portanto,
desempenha um importante papel mediador dos contrários em todas as práticas
alquímicas.[5] O mercúrio aparece em muitos tratados alquímicos associado ao cisne como
símbolo da mediação entre a água e o fogo.[6] Segundo
Jung o significado da palavra “mercurius” não designa apenas o elemento
químico, o planeta Mercúrio ou o Deus Hermes, mas também a “secreta substância
transformadora que é ao mesmo tempo o espírito inerente a todas as criaturas
vivas”[7]. A prata
cresce sobre a influência da Lua[8], o ouro
do Sol, o cobre pela influência de Vênus, ferro por Marte, mercúrio por
Mercúrio, Jupiter o estanho, e o chumbo por Saturno, sendo esta associação das
influências dos astros proveniente de doutrinas astrológicas da Babilônia.[9] A
tradição hermética do século XVI associa os planetas aos órgãos do corpo humano Saturno (baço),
Júpiter (fígado), Marte (estômago), Sol (coração), Vênus (rins), Mercúrio
(pulmões) e Lua (cérebro). Oger Férier no
mesmo século XVI por sua vez se refere ao estômago como sob influência de
saturno enquanto os rins de Marte e Vênus, os pulmões de Júpiter enquanto que
Mercúrio teria influência sobre as mãos e os pés [10]. A
alquimia caberia apenas acelerar um processo natural de transmutação, de modo
que os metais se deixados nas minas invariavelmente se converteriam em ouro ao
longo de milênios. No Summa Perfectionis
um tratado de alquimia do século XIV por muito tempo atribuído incorretamente a
Geber “o que a natureza não é capaz de
aperfeiçoar num largo espaço de tempo, podemos, com a nossa arte, levar a termo
em pouco tempo”.[11] Para
Geber se a natureza possibilitava a transformação de um verme em uma mosca
então o alquimista seria capaz de ajudar a natureza transformar chumbo em ouro,
a natureza não detinha o monopólio da transformação das formas.[12]
Nenhum comentário:
Postar um comentário