A maat
representava uma lei moral natural que combinava os conceitos de ordem divina,
justiça e harmonia. Uma ordem natural da natureza era percebida como uma ordem
racional que governava não somente as cheias do Nilo mas as questões práticas
do quotidiano das pessoas.[1] Segundo
Jean Voyotte[2]:
“À ordem divina corresponde não apenas a
estrutura e os ritmos do mundo físico, mas uma ordem moral – Maât –, a norma da
verdade e da justiça que se afirma quando Rá triunfa sobre seu inimigo e que,
para a felicidade do gênero humano, deve prevalecer no funcionamento das
instituições e no comportamento individual. “Rá vive por Maât”. Tot, o deus dos
sábios, contador de Rá, juiz dos deuses, é “feliz por Maât”. Jean Voyotte
observa o papel teocrático do Estado egípcio “a visão egípcia do mundo procede de uma alta magia de Estado, coerente,
raciocinada, admiravelmente perceptível e serena”. Maurice Crouzet conclui
que a impressão dominante é que “a
ausência de iniciativa individual e verdadeira liberdade econômica e social é
inerente à lógica da antiga civilização do Egito [...] Nada é mais estranho ao
antigo Egito do que o ideal do homem livre, do indivíduo esforçando-se e
recebendo a colaboração da coletividade para ser, não mais um número na massa,
mas ele mesmo ”.[3] Quando
Ramses II apropriou-se de estátuas de seus antecessores bastava simplesmente
remover o nome original trocando pelo seu já que as feições mantinham-se
inalteradas, o que sugere que não se tratava de um retrato mas de um arquétipo.[4] David Silverman
mostra que “O que determina a identidade da estátua não é a fisionomia,
sabemos este fato, uma vez que as estátuas poderiam ser re-esculpidas em um
novo nome, então a estátua pertenceria a outra pessoa sem alterações nas
características. As características permaneceriam exatamente as mesmas. Da
mesma forma, as biografias que indivíduos no antigo Egito esculpiam nas paredes
de seus túmulos. A maioria das frases eram declarações generalizadas aplicáveis
a muitas pessoas diferentes. E eles representavam uma descrição generalizada do
comportamento apropriado de acordo com os conceitos de Maat. O nome do
indivíduo era o que realmente fazia a diferença. Raramente, você vai encontrar
uma frase específica para a carreira desse indivíduo embora ocorra de vez em
quando. Assim como é o caso com um detalhe facial reconhecível. O que fez o
texto específico para a pessoa, era realmente o nome”. [5]
[1] ROSS, Norman. The epic of man, Life Magazine, 1962, p. 101
[2] MOKHTAR, Gamal.
História geral da África, II: África antiga, Brasília : UNESCO, 2010, p.89
[3] CROUZET, Maurice.
História Geral das Civilizações: O Oriente e a Grécia Antiga: as civilizações
imperiais, v. I, Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1998, p. 84, 102
[4] JOHNSON, Paul. História
Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 287
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