terça-feira, 21 de setembro de 2021

O poder do nome entre os egípcios

 

A maat representava uma lei moral natural que combinava os conceitos de ordem divina, justiça e harmonia. Uma ordem natural da natureza era percebida como uma ordem racional que governava não somente as cheias do Nilo mas as questões práticas do quotidiano das pessoas.[1] Segundo Jean Voyotte[2]: “À ordem divina corresponde não apenas a estrutura e os ritmos do mundo físico, mas uma ordem moral – Maât –, a norma da verdade e da justiça que se afirma quando Rá triunfa sobre seu inimigo e que, para a felicidade do gênero humano, deve prevalecer no funcionamento das instituições e no comportamento individual. “Rá vive por Maât”. Tot, o deus dos sábios, contador de Rá, juiz dos deuses, é “feliz por Maât”. Jean Voyotte observa o papel teocrático do Estado egípcio “a visão egípcia do mundo procede de uma alta magia de Estado, coerente, raciocinada, admiravelmente perceptível e serena”. Maurice Crouzet conclui que a impressão dominante é que “a ausência de iniciativa individual e verdadeira liberdade econômica e social é inerente à lógica da antiga civilização do Egito [...] Nada é mais estranho ao antigo Egito do que o ideal do homem livre, do indivíduo esforçando-se e recebendo a colaboração da coletividade para ser, não mais um número na massa, mas ele mesmo ”.[3] Quando Ramses II apropriou-se de estátuas de seus antecessores bastava simplesmente remover o nome original trocando pelo seu já que as feições mantinham-se inalteradas, o que sugere que não se tratava de um retrato mas de um arquétipo.[4] David Silverman mostra que “O que determina a identidade da estátua não é a fisionomia, sabemos este fato, uma vez que as estátuas poderiam ser re-esculpidas em um novo nome, então a estátua pertenceria a outra pessoa sem alterações nas características. As características permaneceriam exatamente as mesmas. Da mesma forma, as biografias que indivíduos no antigo Egito esculpiam nas paredes de seus túmulos. A maioria das frases eram declarações generalizadas aplicáveis a muitas pessoas diferentes. E eles representavam uma descrição generalizada do comportamento apropriado de acordo com os conceitos de Maat. O nome do indivíduo era o que realmente fazia a diferença. Raramente, você vai encontrar uma frase específica para a carreira desse indivíduo embora ocorra de vez em quando. Assim como é o caso com um detalhe facial reconhecível. O que fez o texto específico para a pessoa, era realmente o nome”. [5]

[1] ROSS, Norman. The epic of man, Life Magazine, 1962, p. 101

[2] MOKHTAR, Gamal. História geral da África, II: África antiga, Brasília : UNESCO, 2010, p.89

[3] CROUZET, Maurice. História Geral das Civilizações: O Oriente e a Grécia Antiga: as civilizações imperiais, v. I, Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1998, p. 84, 102

[4] JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 287

[5] SILVERMAN, David. Wonders of Ancient Egypt Semana 2 Principles of Egyptian Art: Part 6 https://www.coursera.org/learn/wonders-ancient-egypt/lecture/



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