sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Egito, uma dádiva do Nilo

 

Rondo Cameron observa que o Egito ainda se encontrava no estágio neolítico quando seus contatos com a Mesopotâmia através do Alto Egito e Golfo Pérsico estimulou um rápido desenvolvimento tecnológico[1]. Sophie Desplancques argumenta que a agricultura surge no Egito por volta de 6000 a.c. e o neolítico com uma economia de produção somente por volta de 5200 a.c. (Faium), ou seja, mais tarde do que a Mesopotâmia (8000 a.c.).[2] O historiador Heródoto afirma que o “Egito é uma dádiva do Nilo” muito embora fosse uma referência já encontrada entre os gregos possivelmente Hecateu de Mileto[3]. No poema “A adoração do Nilo” sem autor identificado e escrito por volta de 1350 a 110 a.c “Bendito sejas oh Nilo que saíste da terra e vieste alimentar o Egito. Tu és verdejante, Oh Nilo, tu és verdejante”.[4] A regularidade das cheias do Nilo contrasta com a irregularidade dos rios Tigre e Eufrates da Mesopotâmia. [5] Segundo Antonio Mattoso: “as condições geográficas do Egito influíram poderosamente no caráter de seus habitantes [...] Os primeiros egípcios, seduzidos pela fertilidade do solo, trataram logo de completar, pelo seu trabalho perseverante, os recursos que lhes forneciam as inundações. O regime do Nilo forçou-os a lançar métodos agrícolas; impôs-lhes um esforço comum; originou a solidariedade entre os ocupantes; deu-lhes uma organização homogênea; reuniu-os em sociedade. E, levando-os a reconhecer que, para uma boa distribuição de águas, se tornava necessária a existência de uma disciplina recíproca, fez com que eles aceitassem uma regulamentação superior que a todos se impusesse soberanamente. Assim nasceu um princípio de centralização e de autoridade que, determinando a subordinação de todos a um chefe, criou a monarquia absoluta, forma natural das suas instituições políticas”.[6] Um texto da época do faraó Taharka relata que a origem das inundações regulares do Nilo está nas chuvas que ocorrem nas montanhas da Núbia.[7]



[1] CAMERON, Rondo. A concise economic history of the world, New York:Oxford University Press, 1998, p.29

[2] Desplancques, Sophie. Egito Antigo (Encyclopaedia) . L&PM Pocket. Edição do Kindle, 2021,  p.316/1492

[3] CROUZET, Maurice. História Geral das Civilizações: O Oriente e a Grécia Antiga: as civilizações imperiais, v. I, Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1998, p. 52

[4] WHITE, Jon Manchip. O Egito Antigo, Rio de Janeiro:Zahar, 1966, p. 11

[5] DERRY, T.; WILLIAMS, Trevor. Historia de la tecnologia: desde la antiguidade hasta 1750, Mexico:Siglo Vintuno, 1981, p.81

[6] MATTOSO, Antonio. História da civilização, Lisboa:Ed Sá da Costa, 1952, p.89

[7] LAMY, Lucien. Mistérios egípcios, Madri:Prado, 1996, p.7



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