Carroll Quigley observa que a previsão de enchentes do
Nilo conferia prestígio e poder aos sacerdotes astrônomos: “a ignorância da maioria tornou fácil para os
possuidores desse conhecimento especializado usá-lo como prova de que possuíam poderes
sobrenaturais”. A irregularidade quanto a data de início da inundação (hapi)[1] fez com
que os egípcios buscassem o nascer helíaco de Sírius como marcação do início da
estação das cheias[2].
O intervalo de tempo entre dois Nilos era de 365 dias o que levou a criação de
um calendário com o primeiro dia do mês de Thoth como o primeiro dia do ano
novo[3], no
início do verão, normalmente em torno do dia 19 de junho quando a estrela da
deusa Sepdet (Sopdet, Sírius, grego Sothis) reaparecia ao amanhecer quando o
nível do Nilo começava a crescer.[4] O nascer
helíaco marca primeira aparição anual de um astro sobre o horizonte oriental e
no Egito o nascer helíaco de Sírius marca o início da canícula, o período das
secas.[5] Lubicz
contesta que os egípcios pudessem identificar a inundação do Nilo pela saída da
estrela Sírius junto ao Sol pois as estrelas não são visíveis ao dia, a única
forma de determinar a aproximação de Sírius seria por cálculos baseados em
observações astronômicas.[6] Charles
Muses observa que o glifo usado para representar a estrela Sirius é o mesmo
sinal que significa “estar preparado”, enquanto a palavra usada para estrela – sbz significa quando associado a um par
de pernas, o mesmo que porta, passagem[7], ou
seja, as estrelas eram vistas como aberturas para o mundo após a morte. O
encantamento 821 dos textos das Pirãmides identifica o rei com Sirius: “Ó rei, tu és esta grande estrela, a
companheira de Oron, a que atravessa o ceu com Orion”[8]. Depois
de quatro anos (tetraeteris) a
diferença acumulada entre o calendário civil de 365 dias (composto de três
estações de quatro meses cada uma e trinta dias cada mês, acrescentada de cinco
dias suplementares) e o tempo real era de um dia a cada quatro anos. Em
quarenta anos essa diferença seria de dez dias, em 1460 anos (365 x 4 = 1460)
essa diferença seria de um ano.[9] Este
período de 1460 anos era conhecido como ciclo sótico ou ciclo de Sothis (grego)
ou Sopdet no Egito Antigo.[10] È somente
após 1460 anos que o ano novo e as estações naturais voltam a coincidir. Os
egípcios foram capazes de calcular que o início da estação cheia, o nascer do
sol e o da estrela Sírius aconteceriam simultaneamente uma vez a cada 1460
anos.[11] A
observação anual do atraso do nascer helíaco da estrela Sothis em relação ao
calendário fez com que o ano egípcio correspondesse a 365,25 dias ou 365 dias e
6 horas muito próximo do valor 365 dias e 5 horas e 48 minutos. Daniel Boorstin
destaca que o calendário egípcio apesar de que cada mês atravessa todas as
estações em um ciclo de 1460 anos era muito melhor do que qualquer outro
conhecido à sua época e acabou sendo adotado pelos romanos quando Júlio Cesar
adotou o calendário juliano, sendo ainda usado por Copérnico nas suas tábuas
planetárias no século XVI.[12] Quanto
ao calendário lunar egípcio (354 dias) ele era utilizado para estabelecer o
calendários das festas.[13]
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