O renascentista Flávio Biondo (1392-1463) embora não tenha usado o termo “idade média - medium aevum” foi o primeiro a atribuir um esquema em três etapas da historia para descrever a grandeza da antiguidade, o período entre a queda de Roma e o ressurgimento das artes em sua época.[1] Segundo Daniel Boorstin: “o pensamento ocidental nunca se refaria do seu modo de cortar todo o passado europeu num período de glória antiga num período de renascimento moderno com uma era media de desintegração e declínio no meio”. [2] Em 1469 o bibliotecário papal Giovanni Andrea refere-se a media tempestas, a um tempo médio, marcado pelo flagelo e ruína.[3] Francis Bacon no Novum Organum (1620) descreve que “A idade média, em relação à riqueza e fecundidade das ciências, foi uma época infeliz. Não há com efeito, motivos para se fazer menção nem dos árabes, nem dos escolásticos. Estes, nos tempos intermédios, com seus numerosos tratados mis atravancaram as ciências que concorreram para aumentar-lhes o peso. Por isso a primeira causa de um tão parco progresso das ciências deve ser buscada e adequadamente localizada no limitado tempo a elas favorável”.[4] O termo “idade média” aparece no manual escolar Historia Medii Aevi de Christoph Keller conhecido por Cellarius de 1688.[5] Voltaire ignora o termo no entanto em Essai sur les mœurs et l'esprit des nations de 1756 já se refere ao “desgosto que causa a história moderna desde a decadência do império romano”, de modo que Marc Bloch reconhece em Voltaire e outros iluministas contribuíram para o termo acabsse sendo adotado amplamente, especialmente após Michelet, quando passou a “ter a honra de bastar por si só, como sinal de um período inteiro”. [6] Rousseau em Discurso sobre as ciências e as artes descreve a idade média como época obscura “retrocesso para a barbárie”.[7] O romantismo do século XIX trouxe um resgate dos valores medievais como o Fausto de Goethe, O corcunda de Notre Dame de Victor Hugo e os romances de Walter Scott como Ivanhoé e a música de Wagner como Tristão e Isolda e Parsifal. Na historiografia dessa época Thomas Carlyle irá se referir à idade média como “a coisa mais elevada” e Michelet na Histoire de France a irá definir como “aquilo que amamos, aquilo que nos amamentou quando pequenos, aquilo que foi nosso pai e nossa mãe, aquilo que nos cantava tão docemente no berço”.[8]
[1] CORNELL, Tim; MATHEWS,
John. Renascimento v.I ,Grandes Impérios e Civilizações, Lisboa:Ed. Del Prado,
1997, p. 15
[2] BOORSTIN, Daniel. Os
descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.523
[3] JUNIOR, Hilário Franco.
A idade média nascimento do Ocidente. São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 17
[4] BACON, Francis, Novum
Organum, Sâo Paulo: Abril, 1973, Os pensadores, p. 52
[5] NUNES, Ruy Afonso da
Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.23;
AMALVI, Christian. Idade Média. In: LE
GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval.
v.I, São Paulo:Unesp, 2017, p. 600; JÚNIOR, Hilário Franco. A idade média
nascimento do Ocidente, São Paulo:Brasiliense, 2004, p.14; AQUINO, Felipe. Uma
história que não é contada, Lorena: Cleofas, 2008, p. 78
[6] BLOCH, Marc. Introdução
à história, Lisboa: Pub. Europa America,1941, p. 155
[7] ROSSI, Paolo. O
nascimento da ciência moderna na Europa, Bauru:Edusc, 2001, p. 14
Nenhum comentário:
Postar um comentário