segunda-feira, 20 de setembro de 2021

A megafauna representada na arte rupestre dos indígenas

 

As primeiras pinturas rupestres no Brasil foram registradas no livro Diálogo das grandezas do Brasil de 1618 escritas pelo senhor de engenho Ambrósio Fernandes Brandão.[1] O livro foi descoberto por Adolfo de Varnhagen na Biblioteca de Leiden, nos Países Baixos, da qual fez uma cópia em 1874 que serviu para a publicação brasileira de 1930, por iniciativa da Academia Brasileira de Letras, com introdução de Capistrano de Abreu e notas de Rodolfo Garcia.[2] Em 1843 na gruta de Cerca Grande em Minas Gerais, em uma das primeiras grutas exploradas por Peter Lund, foram encontradas pinturas rupestres. O fato de encontrar a presença humana junto de vestígios de espécies animais extintos da megafauna (como as espécies de taus e preguiça gigantes) fez Peter Lund abandonar a teoria de catastrofismo de Georges Cuvier (embora o próprio Cuvier raramente tenha se referido a “catástrofes” mas a “revoluções”)[3] que explicava a presença de fósseis de animais extintos pela presença de diferentes catástrofes naturais como dilúvios e terremotos[4], e aderir as doutrinas de evolução gradual da terra baseadas em Lyell.[5] Em 1820 perto de Kostritz o paleontologista Sclotheim descobriu entre os restos de mamute, dentes humanos aos quais se seguiram diversos outros achados semelhantes[6]. Estas descobertas confirmavam as de Boucher de Perthes que encontrara ossos humanos na mesma estratificação junto com um osso de mamute, o que contrariava a doutrina dos cataclismos em voga na época. Nicolaas Rupke mostra que seria um erro pensar que o registro das colunas estratigráficas surgiu como forma de confirmar a teoria da evolução usando um raciocínio circular, na verdade o registro fóssil precede a teoria da evolução, e foi utilizado por Cuvier em sua teoria do catastrofismo. [7] Pinturas rupestres encontradas no nordeste mostram a presença de animais pleistocênicos incompatíveis com a caatinga o que permite estabelecer uma datação entre 18 mil e 30 mil anos para tais pinturas. Maria Beltrão observa a possibilidade de que esta fauna pleitoscênica possa ter sobrevivido em áreas isoladas até um período posterior por volta de 6 mil anos atrás e devido à sua raridade tenha sido objeto de representação nas pinturas.[8]



[1] HETZEL, Bia; MEGREIROS, Silvia. Prehistory of Brazil. Rio de Janeiro:Manati, 2007, p. 47

[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Ambr%C3%B3sio_Fernandes_Brand%C3%A3o

[3] FARIA, Frederico Felipe de Almeida. Peter Lund (1801-1880) e o questionamento do catastrofismo. Filosofia e História da Biologia, v. 3, p. 139-156, 2008 http://www.abfhib.org/FHB/FHB-03/FHB-v03-08-Frederico-Felipe-Faria.pdf

[4] MOSLEY, Michael.Uma história da ciência. Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 115; HETZEL, Bia; MEGREIROS, Silvia. Prehistory of Brazil. Rio de Janeiro:Manati, 2007, p. 39

[5] HOLTEN, Birgitte; STERLL, Michael. P.W.Lund e as grutas com ossos em Lagoa Santa, Belo Horizonte:UFMG, 2011, p.216; LOPES, Reinaldo. 1499 o Brasil antes de Cabral,Rio de Janeiro:Harper Collins, 2017, p. 35; BYNUM, William. Uma breve história da ciência. Porto Alegre:L&PM Pocket, 2018, p. 185

[6] WENDT, Herbert. A procura de Adão. São Paulo:Melhoramentos, 1965, p. 133

[7] RUPKE, Nicolaas. Mito 15: que a teoria da evolução orgânica é baseada em um raciocício circular. In: NUMBERS, Ronald. Terra plana, Galileu na prisão e outros mitos sobre a ciência e religião, Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2020, p. 188

[8] FILHO, Ivan Alves. História pré colonial do Brasil, Rio de Janeiro: Europa Editora, 1987, p.96



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