As primeiras pinturas rupestres no Brasil foram registradas no livro Diálogo das grandezas do Brasil de 1618 escritas pelo senhor de engenho Ambrósio Fernandes Brandão.[1] O livro foi descoberto por Adolfo de Varnhagen na Biblioteca de Leiden, nos Países Baixos, da qual fez uma cópia em 1874 que serviu para a publicação brasileira de 1930, por iniciativa da Academia Brasileira de Letras, com introdução de Capistrano de Abreu e notas de Rodolfo Garcia.[2] Em 1843 na gruta de Cerca Grande em Minas Gerais, em uma das primeiras grutas exploradas por Peter Lund, foram encontradas pinturas rupestres. O fato de encontrar a presença humana junto de vestígios de espécies animais extintos da megafauna (como as espécies de taus e preguiça gigantes) fez Peter Lund abandonar a teoria de catastrofismo de Georges Cuvier (embora o próprio Cuvier raramente tenha se referido a “catástrofes” mas a “revoluções”)[3] que explicava a presença de fósseis de animais extintos pela presença de diferentes catástrofes naturais como dilúvios e terremotos[4], e aderir as doutrinas de evolução gradual da terra baseadas em Lyell.[5] Em 1820 perto de Kostritz o paleontologista Sclotheim descobriu entre os restos de mamute, dentes humanos aos quais se seguiram diversos outros achados semelhantes[6]. Estas descobertas confirmavam as de Boucher de Perthes que encontrara ossos humanos na mesma estratificação junto com um osso de mamute, o que contrariava a doutrina dos cataclismos em voga na época. Nicolaas Rupke mostra que seria um erro pensar que o registro das colunas estratigráficas surgiu como forma de confirmar a teoria da evolução usando um raciocínio circular, na verdade o registro fóssil precede a teoria da evolução, e foi utilizado por Cuvier em sua teoria do catastrofismo. [7] Pinturas rupestres encontradas no nordeste mostram a presença de animais pleistocênicos incompatíveis com a caatinga o que permite estabelecer uma datação entre 18 mil e 30 mil anos para tais pinturas. Maria Beltrão observa a possibilidade de que esta fauna pleitoscênica possa ter sobrevivido em áreas isoladas até um período posterior por volta de 6 mil anos atrás e devido à sua raridade tenha sido objeto de representação nas pinturas.[8]
[1] HETZEL, Bia; MEGREIROS,
Silvia. Prehistory of Brazil. Rio de Janeiro:Manati, 2007, p. 47
[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Ambr%C3%B3sio_Fernandes_Brand%C3%A3o
[3] FARIA, Frederico Felipe
de Almeida. Peter Lund (1801-1880) e o questionamento do catastrofismo.
Filosofia e História da Biologia, v. 3, p. 139-156, 2008
http://www.abfhib.org/FHB/FHB-03/FHB-v03-08-Frederico-Felipe-Faria.pdf
[4] MOSLEY, Michael.Uma
história da ciência. Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 115; HETZEL, Bia;
MEGREIROS, Silvia. Prehistory of Brazil. Rio de Janeiro:Manati, 2007, p. 39
[5] HOLTEN, Birgitte;
STERLL, Michael. P.W.Lund e as grutas com ossos em Lagoa Santa, Belo
Horizonte:UFMG, 2011, p.216; LOPES, Reinaldo. 1499 o Brasil antes de Cabral,Rio
de Janeiro:Harper Collins, 2017, p. 35; BYNUM, William. Uma breve história da
ciência. Porto Alegre:L&PM Pocket, 2018, p. 185
[6] WENDT, Herbert. A
procura de Adão. São Paulo:Melhoramentos, 1965, p. 133
[7] RUPKE, Nicolaas. Mito
15: que a teoria da evolução orgânica é baseada em um raciocício circular. In:
NUMBERS, Ronald. Terra plana, Galileu na prisão e outros mitos sobre a ciência
e religião, Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2020, p. 188
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