sábado, 28 de agosto de 2021

Patins ingleses para o Rio de Janeiro

 

O investimento direto da Inglaterra no Brasil mais do que triplicou entre 1865 e 1885[1]. Richard Graham (figura) no seu livro Grã Bretanha e o início da modernização no Brasil narra uma estória em de um brasileiro do século XIX vestido impecavelmente no estilo inglês com terno de casimira e gravata em pleno dia quente. Quando interpelado por estar vestido daquela forma respondeu sem hesitar: “É que não se sabe se estará chovendo em Londres!”.[2] O jornalista francês Max LeClerc ao aportar ao Rio de Janeiro em 1889 narra os costumes da elite carioca: “Sob um clima abrasador, em uma cidade onde o termômetro atinge facilmente os 40 graus à sombra, os brasileiros se obstinam a viver e a se vestir como se fossem europeus. Eles trabalham nas horas mais quentes do dia, das 9 da manhã às quatro da tarde, como se fossem negociantes londrinos. Eles passeiam nas ruas usando jaquetões escuros, cartolas de copa alta e se submetem ao martírio com a mais perfeita resignação. O problema é que, apesar das aparências, eles não dispõem de meios para viver nos trópicos. A municipalidade do Rio de Janeiro não garante sequer o saneamento adequado da cidade, periodicamente assolada pela febre amarela”.[3] Perfumes de empresas como John Gornell, produtos de beleza da Rowland´s e sabonetes de William Rieger eram comercializados. Segundo Maria Graham esposa de oficial da marinha inglesa e amiga da imperatriz Leopoldina, em visita ao Rio de Janeiro: “Fui a terra fazer compras com Glennie. Há muitas casas inglesas, tais como seleiros e armazéns não muito diferentes do que chamamos na Inglaterra um armazém italiano de secos e molhados, mas, em geral, os ingleses aqui vendem suas mercadorias ao atacado a retalhistas nativos ou franceses”.[4] O inglês Alexander Caldcleugh comenta: “o comércio brasileiro pode ser considerado inteiramente nas mãos dos britânicos, como se existisse um exclusivo de monopólio a seu favor no tratado de 1810”. Segundo John Mawe: “o mercado ficou inteiramente abarrotado tão grande e inesperado foi o fluxo de mercadorias inglesas no Rio após a chegada do Príncipe Regente”.[5] Por conta de encalhes de produtos britânicos devido as guerras continuadas e da organização do bloqueio continental foram enviados diversos produtos e entre os absurdos incluem patins[6] e produtos inadequados como roupas de lãs superfinas e outros produtos de luxo “a um povo tão incapaz de adotá-los como de convencer-se de sua utilidade”. [7]

[1] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 141

[2] QUEIROZ, Suely. A abolição da escravidão. Coleção Tudo é história, n.17, São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 39; GRAHAM, Richard. Grã Bretanha e o início da modernização no Brasil 1850-1914, Rio De Janeiro: Brasiliense, 1973, p. 119

[3] GOMES, Laurentino, 1889, Rio de Janeiro: GloboLivros, 2013, p.75

[4] FIORE, Elizabeth. Presença britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 30

[5] FIORE, Elizabeth. Presença britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 31

[6] LIMA, Oliveira. D. João VI no Brasil, 2021, Edições Kindle, p.3875/14482

[7] MAWE, John. Viagens ao interior do Brasil. São Paulo: USP, 1978, p. 217; SODRÉ, Nelson Werneck. As razões da independência, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,1978, p.141



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