sábado, 7 de agosto de 2021

O português e o sentimento de nacionalidade no Brasil

 

O historiador português Joâo Ameal, destaca o papel do colonizador português: “É pois exato afirmar que Portugal não coloniza, reparte-se, em quantas localidades se instala. Cria outros Portugais, ou melhor: cria províncias fieis ao modelo da Nação-mãe. Reparte sem reservas os seus valores espirituais e éticos, as suas estruturas cívicas, as suas normas de coexistência, os seus métodos de trabalho. Não é, de modo algum, o tipo do Povo-parasita, que se intromete em casa alheia para explorar ou oprimir; é sim, do tipo Povo-irmão: funda novos lares, que, pelos elos estabelecidos com os lares primitivos, lhe asseguram natural posição no meio deles. Enquanto dá ao Mundo novos mundos, insere-se em enraíza-se, em igualdade autêntica de liberdades e faculdades, em conjunto humano fraterno e estável, nesses novos mundos que revela. Assim acontece nas terras da África, assim na Índia e na China, assim na Oceania, assim no Brasil”.[1] O cabo Johann Saar que serviu contra os portugueses no Ceilão destaca: “Seja onde for que cheguem, pensam estabelecer-se ai para o resto da vida, e nunca mais tencionam voltar para Portugal outra vez. Mas um holandês, quando chega na Ásia pensa: quando os meus seis anos de serviço acabarem, volto outra vez para a Europa[2]”. O governador geral na Batávia Antonio van Diemen destaca “A maioria dos portugueses na Índia (Ásia) consideram esta região o seu país natal. Já não pensam mais em Portugal”. O papel progressista do colono português é destacado por Joaquim Nabuco: “o Brasil e os Lusíadas são as duas grandes obras de Portugal”. Para Carlos Malheiros o sentimento nacionalista português foi transferido para colônia e levou a criação do imperium do Brasil: “Na América, os portugueses aplicaram com o máximo potencial de energia o seu nacionalismo, defendendo o território da penetração estrangeira e realizando uma obra imperecivelmente portuguesa. Repetiram no Brasil o que haviam realizado em Portugal e conseguiram por esse processo fundar a única grande nacionalidade inter tropical de projeção europeia”.[3] Fernando Cacciatore argumenta que a monarquia portuguesa criou na colônia um sentimento de unidade nacional que contribuiu para manutenção da integridade do território do reino do Brasil. Tal sentimento de nacionalidade pode ser percebido no depoimento de John Luccock em visita ao Rio de Janeiro em 1817 e as manifestações em apoio à família real portuguesa em especial após 1815 com elevação da colônia à condição de Reino: “Confesso que, embora um estrangeiro, e interessado apenas de modo geral nos assuntos internos do Reino do Brasil essa explosão de sentimento  nacional arrepiou-me no mais fundo de minha alma. Eu todo um povo em conjunto esquecer o modo execrável que a administração do país [da Colônia] tinha sido conduzida, e a opressão sob a qual quase todos seus habitantes tinham sido mantidos. Vi-os enterrar tudo isso sob o amor de um soberano que sabem ser benevolente”.[4]

[1] AMEAL, João. Breve Resumo da História de Portugal, Lisboa: Livraria Tavares Martins, 1964, p.50

[2] BOXER, Charles. O império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 130

[3] NABUCO, Joaquim. O lugar de Camões na literatura, conferência realizada na Universidade de Yale em 14 de maio de 1908. VASCONCELLOS, Ernesto; GAMEIRO, Alfredo; MALHEIROS, Carlos. In: História da Colonização Portuguesa no Brasil, Edição Monumental Comemorativa do Centenário de Independência do Brasil, Porto, Litografia Nacional, 1921, Primeira Parte: O descobrimento, V.1 Os precursores de Cabral, p. VI

[4] GARCIA, Fernando Cacciatore. Como escrever a história do Brasil, Porto Alegre: Sulina, 2014, p. 458



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