Jorge Caldeira aponta o papel das Irmandades no
fomento da economia local.[1] Em seu
estudo das corporações de ofícios no Rio de Janeiro de 1820 a 1850 Eulália Lobo
mostra que “As irmandades e as
corporações desempenhavam importante papel mesmo depois do fechamento oficial
das corporações, em 1824. As irmandades funcionavam como bancos, defendiam os
interesses das corporações”. Para custear as procissões no Rio de Janeiro
todos os mestres com loja aberta teriam de pagar uma taxa e caso se recusassem
teriam suas lojas fechadas.[2] Mesmo
depois do fechamento oficial das corporações, as irmandades continuaram
desempenhando importante papel.[3] Leandro
Malavota, contudo, observa que tais corporações não tinham o poder de impor
barreiras de entrada no mercado a agentes fora da corporação.[4] João
José Reis aponta que as reformas liberais prometidas por Pedro I incluíam que
as municipalidades providenciassem a remoção dos mortos das áreas urbanas por
questões sanitárias fazendo com que as irmandades e paróquias abandonassem o costume
de enterrar seus mortos nas igrejas. Em 1836 um levante popular na Bahia contra
a proibição dos enterros nas igrejas ficou conhecido como Cemiterada. As
irmandades se queixavam que com a nova regra e a criação de cemitérios geridos
pela iniciativa privada, haveria uma queda de associados, e nas suas rendas,
pois a garantia de uma sepultura nos templos era certeza de uma vida bem
aventurada no além túmulo. Para aristocracia a sepultura perétua nas Igrejas
garantia a glória da família pelas gerações vindouras já para os escravos uma
cova na capela da irmandade dignificava sua morte. Apesar da resistência a
epidemia de cólera que atingiu uma vasta área do Império em 1855-1856 terminou
por levar a um inexorável movimento de secularização dos cemitérios. Com o afastamento
de vivos e mortos instaurou-se um “estranhamento enre o mundo dos vivos e o
mundo dos mortos, acompanhado de um esfriamento das relações das pessoas com o
sagrado” o que levou a secularização da mentalidade da época, declínio das
irmandades e novas formas de de associação como grêmios literários e
associações de classe. Na análise de José Reis: “o surto epidêmico de meados
do século XIX serviu como catalisador das mudanças que já vinham lentamente
trabalhando a mentalidade do século, inclusive no que diz respeito ao modo de
morrer”.[5]
[4] MALAVOTA,Leandro Miranda. A construção do sistema de patentes no
Brasil: um olhar histórico, Rio de Janeiro:Lumen Juris, 2011, p. 113
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