A base econômica
da América pré colombiana foi a cultura do milho[1], que
data de 7000 a.c no vale de Tehuacan no México.[2] O milho
existiu na civilização andina Chavin cerca de 2000 a 3000 atrás atingindo um
especial desenvolvimento na América Central entre os maias, toltecas e astecas e
na região andina entre os chimu e incas. Para Alfred Metraux: “a cultura do
milho coincide com uma brusca mudança na evolução cultural da região andina”.[3] Milho
cultivado datado de 2500 a.c. foi encontrado no estado mexicano de Tamaulipas.
O milho cultivado não é capaz de germinar por si mesmo pois se as espigas não
forem colhidas, as sementes ou grãos não irão se disseminar nem crescer,
permanecendo envoltos em sua compacta casca. [4] O
teosinto tem uma distribuição restrita ao México e Guatemala.[5] Na costa
do Equador o milho é datado entre 10 mil e 7 mil anos. [6] Na cova
Guilá Naquitz no vale de Oaxaca se apresentam formas primitivas do cultivo de
milho datadas de 7500 a.c. [7] O milho
entretanto será a base das primeiras vilas de agricultores no México somente em
2000 a.c. ou seja cindo mil anos após sua domesticação estimada em 7000 a.c.[8] Richard
MacNeish demonstrou que foi o resultado de um processo de seleção e cultivos
realizado pelos antigos habitantes de Tahuácan.[9] Quando
os maias ocuparam os planaltos de Chiapas na Guatemala por volta de 2500 a.c a
cultura do milho já estava estabelecida na região. O período áureo dos maias
foi entre 300 e 900 d.c. [10] Na
gruta de Bat no Novo México há vestígios da cultura de milho maiz entre as culturas arcaicas
mesoamericanas em 1500 a.c.[11] Arnold
Toynbeee e Cressman [12] se
referem a espigas de milho que datam de 2500 a.c na mesma gruta, o que mostra
que o desenvolvimento da agricultura nas Américas cerca de quatro mil anos
depois do início da agricultura no Sudeste Asiático.[13] Simone
Waisbard se refere a agricultura nas Américas em 5500 a.c ao mesmo tempo que no
Oriente Próximo.[14] Claude Levi Strauss destaca que especialmente entre os índios da Guatemala
práticas religiosas garantiam a extrema pureza das sementas usadas na
agricultura, pois eventuais permutas agrícolas poderiam levar consigo o
espírito da planta trazendo o fim da agricultura na região.[15] Segundo
Garcilaso de la Vega em seu Comentarios Reales um mito inca revela
que: “Nosso Pai , o Sol, vendo aos
homens, teve pena deles e enviou do ceu à terra um filho e uma filha para que
os doutrinassem no conhecimento de nosso pai, o Sol, e para que os dessem
preceitos e leis em que vivessem como homens em razão e urbanidade, para que
habitassem em casas e povoados, soubessem lavrar as terras, cultivar as
plantas, criar gados e gozar destes e dos frutos da terra como homens racionais
e não como bestas”.[16] Para Pierre Chaunu nas sociedades baseadas no cultivo do milho maiz bastava um esforço de 60 a 70 dias
por ano para assegurar a subsistência, ao contrário do arroz na Ásia e do
centeio na Europa, o que contribui para formação de uma civilização do ócio[17]. Esta
planta é particularmente conveniente para terrenos pobres e a procedimentos de
exploração primitivos, razão de seu êxito entre os incas[18].
Ferdinand Braudel atribui o pouco esforço na colheita do milho como um dos
fatores que deixou os índios livres para trabalhar nas gigantescas pirâmides
maias ou astecas ou nas muralhas de Cusco[19]. Na
Guatemala se destaca a pirâmide maia de La Danta medindo cada lado 800 metros ,
sendo seis vezes maior que a grande pirâmide Quéops.[20] Eric
Thompson faz uma ressalva: “o nome de
cidade, aplicados às ruínas maias não é exato. É quase certo que eram centros
religiosos, onde o povo, que vivia em pequenos vilarejos disseminados na região
vizinha, vinha para as cerimônias religiosas e talvez também para os mercados e
sessões judiciarias. A população permanente dos grandes centros provavelmente
se reduzia a um certo número de sacerdotes e chefes civis”. [21]
[1] BAITY, Elizabeth
Chesley. A América antes de Colombo. Belo Horizonte:Itatiaia, 1963, p.53, 62,
130
[2] GOWLETT, John.
Arqueologia das primeiras culturas. Barcelona:Folio, 2008, p.170; MEGGERS,
Betty, América pré histórica, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 51
[3] VALLA, Jean Claude. A civilização dos incas, Rio de Janeiro: Otto Pierre, 1978,
p. 38
[4] LEONARD, Joathan.
América pré colombiana, Rio de Janeiro:José Olympio Editora. Biblioteca de
História Universal Life, 1971, p.15
[5] BRIEGER, Frederico.
Origem e centros de domesticação do milho, Ciência e Cultura, São Paulo, julho
1949, v.1, n.3, p.84-90
[6] FUNARI, Pedro; NOELLI,
Francisco. Pré história do Brasil, São Paulo:Contexto, 2016, p. 77
[7] FAGAN, Brian. Los
setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume,
2005, p. 93
[8] NEVES, Walter. Assim
caminhou a humanidade, São Paulo:Palas Athena, 2015, p.301
[9] LEONARD, Joathan.
América pré colombiana, Rio de Janeiro:José Olympio Editora. Biblioteca de
História Universal Life, 1971, p.16
[10] COE, Michael, Os maias,
Editorial Verbo:Lisboa, 1968, p.40, 77
[11] VARAGNAC, André, O
homem antes da escrita, Rio de Janeiro:Cosmos, 1963, p. 173, 341
[12] SHAPIRO, Harry. Homem,
cultura e sociedade, Lisboa: Fundo de Cultura, 1972, p. 189
[13] TOYNBEE, Arnold. A
humanidade e a mãe terra, Rio de Janeiro:Zahar, 1976, p.75
[14] WAISBARD, Simone.
Tiahuanaco: 10000 anos de enigmas incas. São Paulo:Hemus, 1971, p. 20
[15] STRAUSS, Claude Lévi. O
pensamento selvagem. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1970, p. 135
[16] RIBAS, Ka W. A ciência
sagrada dos Incas, São Paulo:Madras,
2008, p. 49
[17] CHAUNU, Pierre. A
América e as Américas, Rio de Janeiro:Cosmos, 1969, p.21
[18] BAUDIN, Louis. El
império socialista de los incas, Santiago Chile:Ediciones Rodas, 1973, p.123
[19] BURKE, Peter. A escola
dos Annales 1929-1989: a revolução francesa da historiografia, São Paulo:Unesp,
1997, p.59
[20] MALKOWSKI, Edward. O
Egito antes dos faraós. São Paulo:Cultrix, 2010, p. 211
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