quinta-feira, 12 de agosto de 2021

A cultura do milho entre os povos americanos

 

A base econômica da América pré colombiana foi a cultura do milho[1], que data de 7000 a.c no vale de Tehuacan no México.[2] O milho existiu na civilização andina Chavin cerca de 2000 a 3000 atrás atingindo um especial desenvolvimento na América Central entre os maias, toltecas e astecas e na região andina entre os chimu e incas. Para Alfred Metraux: “a cultura do milho coincide com uma brusca mudança na evolução cultural da região andina”.[3] Milho cultivado datado de 2500 a.c. foi encontrado no estado mexicano de Tamaulipas. O milho cultivado não é capaz de germinar por si mesmo pois se as espigas não forem colhidas, as sementes ou grãos não irão se disseminar nem crescer, permanecendo envoltos em sua compacta casca. [4] O teosinto tem uma distribuição restrita ao México e Guatemala.[5] Na costa do Equador o milho é datado entre 10 mil e 7 mil anos. [6] Na cova Guilá Naquitz no vale de Oaxaca se apresentam formas primitivas do cultivo de milho datadas de 7500 a.c. [7] O milho entretanto será a base das primeiras vilas de agricultores no México somente em 2000 a.c. ou seja cindo mil anos após sua domesticação estimada em 7000 a.c.[8] Richard MacNeish demonstrou que foi o resultado de um processo de seleção e cultivos realizado pelos antigos habitantes de Tahuácan.[9] Quando os maias ocuparam os planaltos de Chiapas na Guatemala por volta de 2500 a.c a cultura do milho já estava estabelecida na região. O período áureo dos maias foi entre 300 e 900 d.c. [10] Na gruta de Bat no Novo México há vestígios da cultura de milho maiz entre as culturas arcaicas mesoamericanas em 1500 a.c.[11] Arnold Toynbeee e Cressman [12] se referem a espigas de milho que datam de 2500 a.c na mesma gruta, o que mostra que o desenvolvimento da agricultura nas Américas cerca de quatro mil anos depois do início da agricultura no Sudeste Asiático.[13] Simone Waisbard se refere a agricultura nas Américas em 5500 a.c ao mesmo tempo que no Oriente Próximo.[14] Claude Levi Strauss destaca que especialmente entre os índios da Guatemala práticas religiosas garantiam a extrema pureza das sementas usadas na agricultura, pois eventuais permutas agrícolas poderiam levar consigo o espírito da planta trazendo o fim da agricultura na região.[15] Segundo Garcilaso de la Vega  em seu Comentarios Reales um mito inca revela que: “Nosso Pai , o Sol, vendo aos homens, teve pena deles e enviou do ceu à terra um filho e uma filha para que os doutrinassem no conhecimento de nosso pai, o Sol, e para que os dessem preceitos e leis em que vivessem como homens em razão e urbanidade, para que habitassem em casas e povoados, soubessem lavrar as terras, cultivar as plantas, criar gados e gozar destes e dos frutos da terra como homens racionais e não como bestas”.[16] Para Pierre Chaunu nas sociedades baseadas no cultivo do milho maiz bastava um esforço de 60 a 70 dias por ano para assegurar a subsistência, ao contrário do arroz na Ásia e do centeio na Europa, o que contribui para formação de uma civilização do ócio[17]. Esta planta é particularmente conveniente para terrenos pobres e a procedimentos de exploração primitivos, razão de seu êxito entre os incas[18]. Ferdinand Braudel atribui o pouco esforço na colheita do milho como um dos fatores que deixou os índios livres para trabalhar nas gigantescas pirâmides maias ou astecas ou nas muralhas de Cusco[19]. Na Guatemala se destaca a pirâmide maia de La Danta medindo cada lado 800 metros , sendo seis vezes maior que a grande pirâmide Quéops.[20] Eric Thompson faz uma ressalva: “o nome de cidade, aplicados às ruínas maias não é exato. É quase certo que eram centros religiosos, onde o povo, que vivia em pequenos vilarejos disseminados na região vizinha, vinha para as cerimônias religiosas e talvez também para os mercados e sessões judiciarias. A população permanente dos grandes centros provavelmente se reduzia a um certo número de sacerdotes e chefes civis”. [21]



[1] BAITY, Elizabeth Chesley. A América antes de Colombo. Belo Horizonte:Itatiaia, 1963, p.53, 62, 130

[2] GOWLETT, John. Arqueologia das primeiras culturas. Barcelona:Folio, 2008, p.170; MEGGERS, Betty, América pré histórica, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 51

[3] VALLA, Jean Claude. A civilização dos incas, Rio de Janeiro: Otto Pierre, 1978, p. 38

[4] LEONARD, Joathan. América pré colombiana, Rio de Janeiro:José Olympio Editora. Biblioteca de História Universal Life, 1971, p.15

[5] BRIEGER, Frederico. Origem e centros de domesticação do milho, Ciência e Cultura, São Paulo, julho 1949, v.1, n.3, p.84-90

[6] FUNARI, Pedro; NOELLI, Francisco. Pré história do Brasil, São Paulo:Contexto, 2016, p. 77

[7] FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 93

[8] NEVES, Walter. Assim caminhou a humanidade, São Paulo:Palas Athena, 2015, p.301

[9] LEONARD, Joathan. América pré colombiana, Rio de Janeiro:José Olympio Editora. Biblioteca de História Universal Life, 1971, p.16

[10] COE, Michael, Os maias, Editorial Verbo:Lisboa, 1968, p.40, 77

[11] VARAGNAC, André, O homem antes da escrita, Rio de Janeiro:Cosmos, 1963, p. 173, 341

[12] SHAPIRO, Harry. Homem, cultura e sociedade, Lisboa: Fundo de Cultura, 1972, p. 189

[13] TOYNBEE, Arnold. A humanidade e a mãe terra, Rio de Janeiro:Zahar, 1976, p.75

[14] WAISBARD, Simone. Tiahuanaco: 10000 anos de enigmas incas. São Paulo:Hemus, 1971, p. 20

[15] STRAUSS, Claude Lévi. O pensamento selvagem. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1970, p. 135

[16] RIBAS, Ka W. A ciência sagrada  dos Incas, São Paulo:Madras, 2008, p. 49

[17] CHAUNU, Pierre. A América e as Américas, Rio de Janeiro:Cosmos, 1969, p.21

[18] BAUDIN, Louis. El império socialista de los incas, Santiago Chile:Ediciones Rodas, 1973, p.123

[19] BURKE, Peter. A escola dos Annales 1929-1989: a revolução francesa da historiografia, São Paulo:Unesp, 1997, p.59

[20] MALKOWSKI, Edward. O Egito antes dos faraós. São Paulo:Cultrix, 2010, p. 211

[21] BRION, Marcel. A ressurreição das cidades mortas, Rio de Janeiro:Ferni, 1979, p.162



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