domingo, 8 de agosto de 2021

A civilização minoica e a Linear B

 

Em 1870 Heinrich Schliemann descobriu as cidades de Troia, que até então se acreditava mitológica tal como descrita por Homero na Ilíada, que agora se acredita tratar-se de um poema histórico – os detalhes podem ser fictícios mas a essência como os personagens principais ali descritos bem como locais são reais. A escrita Linear A encontrada na Creta Minoica de 3500 a.c. a 2000 a.c no palácio de Cnossos na ilha de Creta por Arthur Evans em 1894, até hoje não foi decifrada, com semelhança com os hieróglifos egípcios[1]. Trata-se de uma escrita usada no palácio. A civilização minoica foi destruída por volta de 2000 a.c. O linear A é bastante distante do grego de modo que a civilização minoica não falava grego. As descobertas de Carl Blegen (figura) em 1930 a 1960 em Tróia, na Turquia e no Palácio de Nestor em Pilos, na Grécia, permanecem duas das descobertas arqueológicas mais significativas do século 20 na pré-história grega. Em 1939, Carl Blegen redescobriu o Palácio de Nestor, da Idade do Bronze, um dos reinos mais antigos da Europa, próximo a Pilos. O palácio era o centro do Reino Micênico. Em Creta, Pilos e Micenas foram encontradas em mais de três mil tabuinhas de argila com escrita linear A e linear B. Algumas destas tabuinhas encontradas nos palácios de Pilos em 1939 tratam de questões ligadas a propriedade e uso da terra.[2] A escrita fonética Linear B não é alfabética, mas silábica, usada pelos povos micênicos entre os séculos XV a.C. e XII a.c. A linear B que imitava a linear A inventada pelos minoicos[3], foi traduzida por Michael Ventris[4] e John Chadwick em 1953[5] com base nos trabalhos de Alice Kober e Emmett Bennett[6]. Com a decifração, Hugh Llloyd Jones afirma que hoje, possivelmente, sabemos mais do passado grego do que Péricles ou Platão em suas épocas.[7] Tanto Linear A como Linear B são silabários onde cada símbolo representa uma sílaba, o eu foi um grande para as escrita que representam cada palavra por um símbolo. A Linear B conhecido tanto na Grécia como em Creta é uma escrita micênica silábica de cerca de noventa signos foi utilizada para grafar a língua helênica dos invasores indo-europeus oriundos do continente (1450 a.C.) e é a representação gráfica de um grego arcaico.[8] O linear B tendo sido feito a partir de uma escrita silábica que não foi feita para notar o grego exprime muito imperfeitamente os sons do dialeto falado pelos micênicos.[9] As inscrições em linear B encontradas em Pilos em 1939 são tabletes em argila de livros de contas, faturas de entregas, recibos, ou seja, nenhum documento literário.[10] A descoberta permitiu concluir que micênicos eram gregos e que a civilização grega, que até então se acreditava teria surgido no século VIII a.c. tinha na verdade origens ainda mais antigas que remontam ao século XV a.c.[11] As descobertas de Arthur Evans na ilha de Creta confirmam evidências já presentes na cerâmica e pintura de que houve uma ligação entre Micenas e Minos o que reforçou a teses de que os micênicos possam ter governado Cnossos por volta de 1450 a.c.[12] Existe uma referência isolada a a-ka-wi-ja-de (nome de um banquete) nos registros lineares B em Cnossos em Creta, datados de c. 1400 a.C., que muito provavelmente se refere a um estado micênico (aqueu) no continente grego[13]. As pequenas tábuas de argila com inscrições em Linear B não era cozida ao fogo de modo que as que restaram foram endurecidas por acaso por um aquecimento acidental.[14] Donald Kagan mostra que o fato de Micenas ter sofrido um incêndio em algum tipo de conflagração, acabou favorecendo a preservação de sua história pois a argila aquecida, tornou-se cerâmica com o endurecimento. O mesmo pode ter acontecido na civilização minoica em Creta que, em outra época, também preservou tabuinhas de argila da mesma forma[15] O fato de tais “acidentes” terem acontecido em locais e épocas distintas pode indicar que aqueles que guardavam tais arquivos podem ter deliberadamente promovida a queima de tais tabuinhas para preservação do acervo.

[1] EYDOUX, Henri Paul. Á procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 146

[2] FINLEY, Moses. Economia e sociedade na Grécia antiga, São Paulo:Martins Fontes, 2013, p. 227

[3] TOYNBEE, Arnold. A humanidade e a mãe terra, Rio de Janeiro:Zahar, 1976, p.138

[4] EYDOUX, Henri Paul. Á procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 150

[5] FINLEY, Moses. Economia e sociedade na Grécia antiga, São Paulo:Martins Fontes, 2013, p. 225; BELL, Maurice. Druidas, heróis e centauros, belo Horizonte:Itatiaia, 1959, p. 115

[6] HALL, Edith. The ancient greeks, London:Vintage, 2015, p.36

[7] JONES, Lloyd Jones. O mundo grego, Rio de Janeiro: Zahar, 1965, p. 15

[8] WENDT, Herbert. Tudo começou em Babel, São Paulo:Difusão, 1962, p. 13; ULRICH, Paul. Os grades enigmas das civilizações desaparecidas, Grécia, Roma e Oriente Médio, Rio de Janeiro, Otto Pierre Ed, 1978, p.29

[9] VERNANT, Jean Pierre. As origens do pensamento grego, Rio de Janeiro:Difel, 2002, p. 23

[10] BELL, Maurice. Druidas, heróis e centauros, Belo Horizonte:Itatiaia, 1959, p. 94, 111

[11] EYDOUX, Henri Paul. Á procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 150

[12] ROSS, Norman. The epic of man, Life Magazine, 1962, p. 159

[13] https://en.wikipedia.org/wiki/Mycenaean_Greece

[14] HALL, Edith. The ancient greeks, London:Vintage, 2015, p.32

[15] História da Grécia Antiga #2 - com Donald Kagan, de Yale, 59:00, https://www.youtube.com/watch?v=elFKaI0IjKI



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