Historiadores do início do século XX como Francis
Haverfield em sua obra A romanização da Bretanha romana ou Camille
Julian em História da Gália descrevem o avanço do império romano como
uma vitória da civilização contra a barbárie.[1] Uma
visão crítica será apresentada por Richard Hingley em O Imperialismo Romano :
Novas Perspectivas a Partir da Bretanha que mostra que a romanização que
mostra a supremacia da civilização romana sobre os povos bárbaros foi uma
perspectiva profundamente vinculada à visão inglesa imperialista: “o império
romano torna-se uma série por demais variável de grupos locais, mantidos juntos, de forma rude, pelas forças direcionais de integração que formavam um
todo organizado que sobreviveu por vários séculos. A heterogeneidade torna-se
uma força que ata a estabilidade imperial – uma ferramenta destinada á criação
de uma ordem imperial perpétua”.[2] Edward Said em Orientalismo: O Oriente como
invenção do Ocidente publicado em 1978 mostra como o próprio conceito de
Oriente forjado a partir do século XVIII para designar as terras do leste da
Europa sob o mesmo signo do exotismo e da inferioridade, foi uma construção do
Ocidente. Sian
Jones mostra que não há dados factuais e neutros na história e que todas as
pesquisas têm uma natureza política implícita, de modo que o conceito de
romanização deve ser entendido como vinculado ao de aculturação. Mary Beard, por
sua vez, mostra como o poderio do império romano pode se estabelecer devido a
flexibilidade com que as novas áreas conquistadas eram integradas: “O que se
pode afirmar com certeza é que os romanos praticamente não fizeram nenhuma
tentativa, mesmo durante essa fase mais tranquila de controle imperial [Pax
Romana], de impor suas normas culturais ou erradicar as tradições locais”[3], tendo
como exceção os druidas na Britânica acusados de sacrifícios humanos e os
cristãos.
[1] GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2020, p.39
[2] MENDES, Norma Musco. A experiência imperialista romana como campo de reflexão
comparativa, p. 249; GARRAFFONNI, Renata Senna. Considerações sobre a busca do
Antigo no Brasil. p.268. In: ROSA, Claudia Beltrão, et. Al. A busca do antigo, Rio
de Janeiro: Nau Editora, UNIRIO, 2011.
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