sábado, 24 de julho de 2021

Ordem e Progresso no Império

 

No Brasil o positivismo terá grande influência na jovem oficialidade do meio militar que desencadeará o processo levante republicano de 1889, entre os quais o militar e engenheiro e republicano Benjamin Constant (1836-1891), que matriculou-se na Escola Militar em 1852.[1] Não confundir com o jurista francês homônimo Benjamin Constant (1767-1830) idealizador do poder moderador. Pierre Lafitte em artigo publicado na Revue Occidentale reconhece “as opiniões positivistas de um dos principais chefes do novo governo, o Sr. Benjamin Constant são conhecidas de todos, e disso ele nunca fez mistério. Julga-se que a nova República tomará por lema a fórmula Ordem e Progresso”. [2] Inspirado pelo lema positivista: "Amor como princípio e ordem como base; o progresso como meta" o Gabinete Rio Branco chefiado pelo visconde do Rio Branco conseguiu fazer aprovar, em 1871 a Lei do ventre Livre. No periódico a Semana Ilustrada, em 11 de agosto de 1872 há uma gravura de uma embarcação liderada por Rio Branco onde o Conselheiro João Alfredo hasteia uma bandeira com a divisa "Ordem e Progresso" o que viria a ser adotado posteriormente na bandeira brasileira quando da proclamação da República. [3] Em 1872 ao concorrer a uma vaga como professor na Escola Militar, diante de uma banca da qual fazia parte o imperador Pedro II, Benjamin Constant alertou que era positivista o que denunciava sua visão republicana. Apesar disso, o imperador não fez qualquer objeção à sua admissão como professor.[4] A bandeira do Brasil foi projetada pelos positivistas Raimundo Teixeira Mendes e Miguel Lemos com desenho do pintor positivista Décio Villares que incluiu o lema no lugar do brasão imperial por sugestão de Benjamim Constant[5]. A referência as constelações remete a conceitos matemáticos e de astronomia do positivismo.[6] A religião da humanidade de Comte tinha como lema “o amor por princípio, a ordem como meio e o progresso como fim”.[7] Na bandeira a referência ao amor foi suprimida. Para Arthur Virmond não houve supressão da referência ao amor “Teixeira Mendes era positivista ortodoxo e não iria misturar os dois lemas (o do progresso social e o do progresso político).Por isso ele adotou o lema do progresso político que lhe pareceu mais cabível no Pavilhão Nacional.- Ordem e Progresso, sabendo-se que sem Ordem não há Progresso e que Progresso é o desenvolvimento natural da Ordem”.[8] O bispo do Rio de Janeiro se recusou a abençoar a nova bandeira pela apologia ao positivismo, radicalmente contrário à igreja católica.[9] O próprio Comte fundou uma sociedade chamada “Ordem e Progresso” destinada a ter uma ação política similar à dos jacobinos durante a revolução francesa cuja proposta era a de fazer prevalecer as teses da nova ciência do positivismo. A ordem e o progresso, assim, eram as "condições fundamentais da civilização moderna", como o filósofo escreveu em Discurso sobre o Espírito Positivo, publicado postumamente em 1914. [10]

[1] COSTA, Cruz. Contribuição à história das ideias no Brasil, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1967, p. 132

[2] RENAULT, Delso. A vida brasileira no final do século XIX, Rio de Janeiro:José Olympio, 1987, p. 17

[3] LINS, Ivan. História do positivismo no Brasil, Brasiliana, n.322, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1967, p.235 http://www.brasiliana.com.br/obras/historia-do-positivismo-no-brasil/pagina/235/texto

[4] GOMES, Laurentino, 1889, Rio de Janeiro: GloboLivros, 2013, p.208

[5] MESQUITA, André Campos. Augusto Comte, sociólogo e positivista, São Paulo:Lafonte, 2013, p. 37

[6] TORRES, João Camilo. O positivismo no Brasil, Brasília: Câmara dos Deputados, 2018, p.93

[7] MESQUITA, André Campos. Augusto Comte, sociólogo e positivista, São Paulo:Lafonte, 2013, p. 92

[8] VIRMOND, Arthur. República Positivista , A - Teoria e Ação no Pensamento Político de Augusto Comte, Curitiba: Juruá, 2003

[9] GOMES, Laurentino, 1889, Rio de Janeiro: GloboLivros, 2013, p.322

[10] https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53829948



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