sábado, 10 de julho de 2021

O papel da mulher na comunidade pré histórica

 

Entre os hominídios caçadores coletores, com ênfase na colheita, antes da revolução agrícola, as comunidades eram organizadas em pequenos grupos, ou tribos, como uma invenção tipicamente humana. E um passo crucial na evolução do homo sapiens foi a invenção da sacola de carga que permitia recolher os frutos e plantas do loca de coleta para o acampamento, o que permitia uma forma primitiva de divisão social do trabalho. Os homens mais fortes fisicamente saíam para a caça enquanto as mulheres cuidavam da coleta de plantas alimentícias e do cuidado das crianças. Grahame Clark destaca que a divisão do trabalho foi uma das molas mestras do progresso humano.[1] Enquanto as plantas alimentícias ficam dentro do círculo familiar imediato, a carne pode ser distribuída para outros grupos, o que confere um status social diferenciado ao homem caçador.[2] Segundo Richard Leakey: “no meio político das sociedades de caça pode ser observado que quanto maior a importância da carne, maior dominância dos homens sobre as mulheres”.[3] James Adovasio questiona o mito da imagem do homem caçador, pois considera que as caçadas de grandes animais não eram a regra e mesmo em alguns casos como Indian Knoll são encontrados evidências de mulheres como hábeis caçadoras de animais menores tais como arganazes e coelhos.[4] Correr atrás de um animal de grande porte com apenas uma lança poderia representar um risco muito grande[5]. Para James Adovasio não há motivo para desacreditar que aconteciam tanto a caça como a busca por carniça, o que pode significar um maior papel da mulher na busca de comida.[6] Margaret Conkey e Joan Gero em sua obra Engendering Archaeology: Women and Prehistory publicado em 1991 mostram que as mulheres também participavam da construção de artefatos líticos bem como também faziam desenhos rupestres em cavernas além de participar das caçadas que envolviam a preparação de iscas e armadilhas e não apenas a força bruta.[7]

Adrienne Zihlman destaca que a atividade incerta da caça somente podia ser empreendida com a segurança de que a repartição de alimentos estaria garantida com os alimentos coletados pelas mulheres e crianças, de modo que a mulher assume papel central nesta sociedade.[8] Margaret Conkey argumenta que nas pinturas de Altamira em que um bisão central é uma fêmea dando à luz, é um sinal claro que sinaliza a posição central da mulher na sociedade caçadora coletora.[9] Richard Lee destaca que a invenção de algum tipo de recipiente para o transporte de alimentos foi um elemento fundamental para o desenvolvimento do homem moderno. A ruptura mais significativa, portanto, não foi a caça e a dieta com carne, mas a estratégia de coletar alimentos para serem comidos mais tarde e seu consumo dentro de uma rede social.[10] A divisão de trabalho é uma característica que já se observa nestes grupos primitivos com o homem se dedicando a caça e as mulheres saindo em busca de forragem e alimentos vegetais. Na caça, reservada aos homens mais fortes, que envolve técnicas de percorrer o rastro das presas em silêncio, não havia espaço para carregar as crianças pesadas e barulhentas que teriam de permanecer nos assentamentos com as mulheres.[11] James Adovasio aponta a mulher como inventora das mais úteis ferramentas o que ele denomina de “Revolução do Barbante” termo cunhado por Elizabeth Barber ou “Revolução da Fibra”.[12] Com a invenção do barbante surgiram armadilhas, redes de pesca, cordas, laços, cabos além de técnicas de amarrar conjuntos de objetos e compor objetos mais complexos.



[1] CLARK, Grahame. A pré história, Rio de Janeiro:Zahar, 1975, p. 42

[2] LEAKEY, Richard. Origens, Brasília:UNB, 1980, p. 169, 174

[3] LEAKEY, Richard. Origens, Brasília:UNB, 1980, p. 233

[4] ADOVASIO, James; SOFFER, Olga; PAGE, Jake. Sexo invisível: Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 240, 247

[5] ADOVASIO, James; SOFFER, Olga; PAGE, Jake. Sexo invisível: Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 187

[6] ADOVASIO, James; SOFFER, Olga; PAGE, Jake. Sexo invisível: Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 55, 89

[7] https://ensinarhistoria.com.br/as-10-ideias-erradas-sobre-a-pre-historia/ - Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues

[8] LEAKEY, Richard. A evolução da humanidade, Brasília: UNB, 1981, p. 93

[9] LEAKEY, Richard. A evolução da humanidade, Brasília: UNB, 1981, p. 172

[10] LEAKEY, Richard. A evolução da humanidade, Brasília: UNB, 1981, p. 94

[11] LEAKEY, Richard. A evolução da humanidade, Brasília: UNB, 1981, p. 105

[12] ADOVASIO, James; SOFFER, Olga; PAGE, Jake. Sexo invisível, Rio de Janeiro:Recordo, 2009, p.15



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