terça-feira, 6 de julho de 2021

O arcobotante das catedrais góticas

 

O arcobotante (flying buttresses)[1] ou “arco rampante”, pontes de pedra que se arqueavam, invenção que data o século XII foram utilizados em Notre Dame em Paris, Rheims (1175) e Chartres (1194)[2] Trata-se de uma construção em forma de meio arco, erguida na parte exterior dos edifícios na arquitetura gótica para apoiar as paredes e repartir o peso das paredes e colunas, permitindo aumentar as alturas das edificações e a construção de grandes catedrais ao reforças seus pilares de suporte, como as de Notre Dame em Paris[3]. Com o arcobotante escorando a parede da nave consegue-se alcançar uma maior altura o que de outra forma exigiria uma enorme grossura das paredes.[4] Robert Fossier observa que a invenção do arcobotante foi o resultado de inúmeras experimentações e tentativas até que se encontrasse o ponto de apoio correto do arcobotante.[5] Isso não elimina, contudo, os riscos de construções mal planejadas. Em 978 a Anglo Saxon Chronicle registrou o desabamento do assoalho de uma mansão recém construída em Calne na Inglaterra[6]. O coro da catedral de Beauvais elevado a 48 metros sob a abóboda, superando a catedral de Amiens com 45 metros, Rheims com 41 metros e a de Notre Dame de Paris com 40 metros desabou por duas vezes, a segunda vez em 1284[7], o que leva a redução dos projetos de novas catedrais góticas[8] e que Jacques le Goff aponta como prenúncio das dificuldades econômicas da do século XIII.[9] Robert Delort aponta o desastre como resultado dos cálculos baseados em um empirismo, pouco rigoroso, típico dos arquitetos medievais[10]. Bronowski avalia que o problema deveria estar no solo e não propriamente na planta da abóbada, de qualquer forma, após o acidente nenhuma estrutura tão alta foi projetada.[11]



[1] BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.389

[2] MATTHEW, Donald. A Europa Medieval, v.II. Lisboa :Ed. del Prado, 1996, p.166; GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 135

[3] DUBY, Georges. O tempo das catedrais: a arte e a sociedade, Lisboa:Estampa Editorial, 1978, p.121; TATON, René. A ciência antiga e medieval: as ciências antigas do Oriente, tomo I, livro 1, Sâo Paulo:Difusão Europeia, 1959, p. 148

[4] SÁBATO, Ernesto. Nosso universo maravilhoso, Rio de Janeiro:Brasil Lê, v.IV, p.45

[5] FOSSIER, Robert. O trabalho na idade média. Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 83

[6] LACEY, Robert; DANZIGER, Danny. O ano 1000: a vida no final do primeiro milênio. Rio de Janeiro:Campus, 1999, p.39 https://archive.org/stream/Anglo-saxonChronicles/anglo_saxon_chronicle_djvu.txt

[7] CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 359; BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América, São Paulo:Globo, 2006, p.205; GIMPEL, Jean. A revolução industrial da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1977, p.104; FREMANTLE, Anne. Idade da fé. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro:José Olympio, 1970, p.124; GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 200

[8] LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p.94

[9] DELUMEAU, Jean. A civilização do Renascimento, Lisboa:Estampa, 1984, v.I, p.73

[10] DELORT, Robert. La vie au moyen age, Lausanne:Edita, 1982, p.73

[11] BRONOWSKI, J. A escalada do homen, São Paulo:Martins Fontes, 1979, p.110



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