domingo, 20 de junho de 2021

Tear horizontal com pedal e o papel das mulheres

 

Perry Anderson ao tratar da ascenção das guildas nos séculos XII a XIV no norte da Itália e em Flandres destaca os ganhos de produtividade alcançados pelas guildas com o uso do tear horizontal de pedal.[1] Frances Gies destaca que o tear horizontal permitiu que o tecelão trabalhasse sentado. Segundo Alexandder Neckan (1157-1217) o tecelão de um tear horizontal era “um cavaleiro em terra firme que se apoia em dois estribos”.[2] Ingvild Oye argumenta que o tear horizontal com pedal possibilitou que a tarefa de tecelão passasse a ser executada predominantemente por homens ao invés das mulheres.[3] Jan Dumolyn considera equivocada o conceito de que o artesão medieval percebia o trabalho como um valor negativo e que viria a ser resgatado apenas com a ascenção da ética protestante conforme destaca Max Weber. Outros valores centrais para as guildas medievais era o de honra e reputação.[4] Para Mark Koyama as guildas tinham como objetivo beneficiar seus membros em detrimento dos não membros[5]. Enquanto para os economistas clássicos como Adam Smith as guildas tinham um efeito negativo no desenvolvimento da economia, historiadores como Werner Sombart tinham uma perspectiva mais otimista. Epstein e Maaten Prak trazendo a perspectiva das guildas inglesas e holandesas enfatizam seu papel positivo. Sheilagh Ogilvie em The European Guilds (2019) reforça a tese que considera o papel negativo das guildas. Para Ogilvie as guildas fomentavam a inovação apenas quando isso beneficiava seus membros. Sua longevidade não está, portanto, ligada a qualquer benefício à economia como um todo, pois seus custos eram impostos à sociedade em geral ao passo que seus benefícios restritos a seus membros. Nesse sentido as guildas mantiveram-se fortes nas partes da Europa politicamente fragmentárias onde o Estado era fraco.



[1]ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo, Porto: Afrontamento, 1982, p. 215

[2] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 120

[3] Ingvild Øye (2016) When did weaving become a male profession?, Danish Journal of Archaeology, 5:1-2, 34-51, DOI: 10.1080/21662282.2016.1245970

[4] Dumolyn, J. (2017). I Thought of it at Work, in Ostend: Urban Artisan Labour and Guild Ideology in the Later Medieval Low Countries. International Review of Social History, p.1-31

[5] KOYAMA, Mark. A review essay on The European Guilds, Review of Austrian Economics, agosto 2019



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...