Em 1610 Galileu Galilei fez as primeiras observações dos satélites de Júpiter, cujo nome Medicea Sidera foi dado em homenagem ao patrono Cosme de Médicis. Desde logo, imaginou que os muitos frequentes eclipses observados poderia ser usado como sincronização para o cálculo de longitudes conforme mostra os documentos revelados por Antonio Favaro. Uma maneira de determinar a longitude é observar o momento em que a lua entra no cone de sombra formada pela Terra quando de um eclipse da Lua. Consultando-se um mapa náutico que determina as horas exatas da ocorrência de um eclipse lunar pode-se calcular a longitude.[1] Contudo, em alto mar era impossível segurar um telescópio com firmeza a bordo de uma embarcação para observar eclipses.[2] Em 1610 Galileu desenvolvera um método baseado nos eclipses das quatro luas de Júpiter, porém, os cálculos eram complexos e não muito precisos.[3] Galileu chegou a idealizar um capacete com um telescópio fixado de modo que o observador podia usar sentado numa cadeira montada em argilas de suspensão, tais quais as que são usadas para manter a bússola de bordo na horizontal porém o mecanismo nunca funcionou a contento em alto mar. Um erro de apenas 5 graus na observação da lua equivale a um erro de 2,5 graus na longitude, o que no oceano significa 150 milhas, o que torna o método impraticável. Em 1660 o italiano jesuíta, naturalizado francês, Giovanni Cassini (1625-1712) diretor do Observatoire Royal em Paris idealizou um segundo método para calcular longitude baseado na determinação de eclipses lunares de Júpiter. A medição da longitude depende do conhecimento da diferença entre o horário em um determinado local e o horário em um meridiano referencial, por exemplo em Paris. Medindo-se a ocorrência de um eclipse de uma das luas de Júpiter e comparando-se com tabelas com a hora prevista deste mesmo eclipse em Paris poderia-se saber a distância em tempo de Paris. Em 1668 Cassini publicou uma efeméride dos satélites de Júpiter[4]. A partir de 1690 o almanaque Connaissance des Temps publicado pela Academia real de Ciências de Paris fornecia os instantes dos eclipses do primeiro satélite de Júpiter, segundo as tábuas de Cassini. A partir de 1730 o mesmo almanaque informava também as efemérides dos outros três satélites de Júpiter descobertos por Galileu.[5] O método baseado nos eclipses das luas de Júpiter foi utilizado por Deslile (na figura) em 1720 para determinação das longitude de diferentes partes do mundo incluindo as Américas, bem como os limites do Tratado de Tordesilhas, usadas nas negociações do Tratado de Madri em 1750 que tratou das fronteiras do Brasil.[6]
[1] HOGBEN, Lancelot. Las
matemáticas al alcance de todos. Joaquín Gil: Buenos Aires, 1943, p. 441
[2] HART DAVIS, Adam. O
livro da Ciência, São Paulo:Globo Livros, 2014, p. 58
[3] JOHNSON, Steven. Como
chegamos aqui, Rio de Janeiro:Zahar, 2015, p.143; USHER, Abbott. Uma história
das invenções mecânicas, Campinas:Papirus, 1993, p. 418; TATON, René. A ciência
moderna: o século XVII, tomo II, v.2, São Paulo:Difusão, 1960, p.104
[4] MOURÃO, Ronaldo Rogério
de Freitas. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutia, Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 150
[5] CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o tratado de Madrid, São Paulo: Funag,
2006, p. 40, 41
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