terça-feira, 1 de junho de 2021

Colombo e a perspectiva milenarista de Joaquim de Fiore

 

Ao confundir a milha árabe e a milha italiana no mapa de Toscaneli, Colombo estimou que o Japão (Cipango segundo a denominação de Marco Polo[1]) estaria a distância de 5 mil milhas náuticas quando a medida correta é de 20 mil milhas náuticas, ou seja, não tivesse encontrado a América no meio do caminho Colombo não teria suprimentos para concluir sua viagem. Toscanalli baseara suas medidas nos relatos de exploradores como Marco Polo e supunha que a Asia estaria numa distância necessariamente superior a metade da do globo terrestre. Na época já se tinha como certo a esfericidade da terra.[2] Colombo desconhecia as medidas mais precisas da circunferência da terra feitas pelo grego Eratóstenes[3]. Os sábios de Salamanca rejeitaram a proposta inicial de Colombo em 1484, mas ao final conseguiu o apoio de Castela para sua viagem. Ainda quando de sua morte Colombo sempre acreditou que estivera na Ásia e apesar de hoje ser conhecido como descobridor das Américas jamais acreditou ter descoberto um novo continente entre a Europa e a Ásia.[4] Um esboço feito pelo irmão de Colombo, Bartolomeu Colombo, que mostra os litorais que percorreu em sua quarta viagem como se fosse parte da Índia e China. O Panamá aparece banhado pelo oceano Índico em reprodução de F. Wieser no MItteilungen des Institut fur oesterreichische Geschitsforschung Erganzungsheft, 1893[5] Em uma de suas cartas Colombo de 1502 escrita ao papa ele deixa claro que o que o movia em suas viagens à América era a fé: “para a execução do empreendimento das Índias não me baseei na razão, nem na matemática, ou nos mapas mundis: plenamente se cumpriu aquilo que havia dito Isaías”.[6] O profeta Isaías, segundo interpretação do abade milenarista Joaquim de Fiore (1200-1260), que afirmara "que da Espanha lhe seria elevado seu Santo Nome".

[1] BARRETO, Elias. Enciclopédia das grandes invenções e descobertas. São Paulo:Cascino Editores, 1971, p.28

[2] SÁBATO, Ernesto. Nosso universo maravilhoso, Rio de Janeiro:Brasil Lê, v.IV, p.118

[3] MORTIMER, Ian. Séculos de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 425

[4] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.229

[5] VASCONCELLOS, Ernesto; GAMEIRO, Alfredo; MALHEIROS, Carlos. In: História da Colonização Portuguesa no Brasil, Edição Monumental Comemorativa do Centenário de Independência do Brasil, Porto, Litografia Nacional, 1921, Primeira Parte: O descobrimento, V.1 Os precursores de Cabral, p. LIV

[6] MARTINS, Oliveira. História da civilização ibérica, Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 247



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