A
renovação cultural promovida pelo marquês de Pombal permitiu a maior penetração
das teses iluministas em Portugal apesar de seu governo despótico. Em 1761 o
então conde de Oerias, futuro marques de Pombal, ministro do rei D. José fundou
o Real Colégio dos Nobres. Em 1765 foi concedido e doado ao Colégio dos Nobres
o privilégio exclusivo para a impressão dos livros de Euclides, de Arquimedes,
e de outros clássicos das ciências matemáticas. Este privilégio foi transferido
para a Universidade de Coimbra pelo alvará de 16 de dezembro de 1773. Os novos
estatutos da Universidade de Coimbra em 1772 organizados pela Junta de
Providência Literária da qual faziam parte o cardeal da Cunha, o bispo Cenáculo,
Francisco Lemos, Ramos de Azevedo e outros[1],
criaram as faculdades de matemática e filosofia natural dotada de observatório
astronômico, laboratórios de química e física e jardim botânico. Com os novos
estatutos de Coimbra em 1772 foram abolidos os estudos matemáticos, até então
professados no Real Colégio dos Nobres.[2] Em 1769 foi criada a imprensa régia em que a censura embora tenha deixado de
ser religiosa nem por isso deixou de haver censura política, no entanto o saldo
com certeza foi de maior liberdade.
3]
O cônego Ribeiro Sanchez expõe este paradoxo: “
Este Ministro quis um impossível político; quis civilizar a Nação e ao mesmo
tempo fazê-la escrava: quis espalhar a luz das ciências filosóficas e ao mesmo
tempo elevar o poder real ao despotismo”.[4] Apesar da renovação promovida por Pombal nos estudos da Universidade de Coimbra[5],
Bernardo Pereira de Vasconcelos ao se formar em 1814 refere-se a um ensino
conservador: “
O direito de resistência,
esse baluarte da liberdade era inteiramente proscrito e desgraçado de quem dele
se lembrasse. Estas e outras doutrinas se ensinam naquela universidade, e por
que ? porque está inteiramente incomunicável com o resto do mundo científico.
Ali não se admitem correspondências com as outras Academias; ali não se
conferem os graus senão àqueles que estudarem o ranço dos seus compêndios, ali
estava aberta continuamente uma inquisição, pronta para mandar às chamas todo
aquele que tivesse a desgraça de reconhecer qualquer verdade, ou na religião,
ou na jurisprudência ou na política. Daí vinha que o estudante que saída da
Universidade de Coimbra devia, antes de tudo, desaprender o que lá se ensinava,
e abrir nova carreira de estudos”.[6] O mesmo Bernardo Vasconcelos em 1826 escreve que “
Estudei direito público
naquela universidade e por fim saí bárbaro, foi-me preciso até desaprender. [..] nela se dizia Deus no campo de Ourique dera a Afonso I todos
os poderes e à sua descendência [...] Essas e doutras doutrinas se ensinam
naquela universidade, e por que ? Porque está inteiramente incomunicável com o
resto do mundo científico. Ali não se admitem correspondências com outras
academias; ali não se conferem os graus senão aqueles que estudaram o ranço de
seus compêndios, ali estava alerta, continuamente, uma inquisição, pronta para
mandar às chamas todo aquele que tivesse a desgraça de reconhecer qualquer
verdade, ou na religião, ou na jurisprudência ou na política. Daí vinha que o
estudante que saía da Universidade de
Coimbra devia, antes de tudo, desaprender o que lá se ensinava e abrir nova
carreira de estudos”.[7] Para o conselheiro Bernardo Xavier Sacchetti: “
os jesuítas em Portugal empenhados
em perpetuar a ignorância da novidade, cuja instrução lhes estava confiada,
teimaram até a data da sua extinção em 1759 uma lógica que não passava de mera
arte silogística vã, inútil e intrincadíssima, uma física, não estabelecida em
princípios certos e claros, ou da experiência, mas da interpretação de
Aristóteles por Averroes que consistia em termos gerais e obscuros sobre causas,
princípios, formas, etc e finalmente uma metafísica, que não era a do sobredito
Aristóteles, que não se sabe dizer em que consistia”.[8]
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