terça-feira, 11 de maio de 2021

Penélope a tecelã

 

Na cidade homérica nos grandes centros destacam-se os demiourgoi – demiurgos de demos – comunidade, ergon - trabalho, profissionais que trabalham para o público[1], trabalhando como artesãos seja como carpinteiros, curtidores, ferreiros ou oleiros. Alguns destes demiourgoi adquirem grande reputação ao qual se atribui inspiração divina.[2] Na Odisseia Nestor manda buscar um ferreiro especialmente para dourar os chifres de um animal para sacrifício.[3] Tornou-se muito difundido no Peloponeso e nas colônias além mar fundadas pelos dórios e pelos aqueus como Cnido no Ponto Euxino e Petília na Magna Grécia. Os artífices, que trabalhavam para o público e não somente para sua família eram todos homens livres, não havendo na Ilíada ou Odisseia um único escravo com esta função. O cidadão não se importava em trabalhar ao lado de escravos na mesma tarefa, a diferença consistia em que ele podia parar o trabalho e ir à Assembleia, enquanto que o escravo não.[4] O trabalho não é considerado humilhante, como por exemplo mostra Ulisses, orgulhoso de não ser superado no trabalho de colher e plantar e de que podia construir um navio, ou da rainha Penélope que tece diariamente no palácio[5]. Quando Ulisses foi enviado à Guerra de Troia por anos, sua esposa Penélope evitava os inúmeros pretendentes dizendo-se ocupada em tecer para o dossel funerário de Laertes, pai de Uilisses. Durante o dia Penélope trabalhava e a noite desfazia o trabalho feito, tornando-se metáfora do trabalho que estava sempre sendo feito sem nunca se chegar a uma finalização.[6]



[1] GLOTZ, Gustave. A cidade grega. São Paulo:DIFEL, 1980, p.74

[2] GLOTZ, Gustave. A cidade grega. São Paulo:DIFEL, 1980, p.31

[3] FLORENZANO, Maria Beatriz. O mundo antigo: economia e sociedade. São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 18

[4] KITTO, Humphrey Davey Findley. Os gregos. Coimbra:Armenio Amado, 1970, p. 403

[5] ROSTOVTZEFF, M. História da Grécia. Rio de Janeiro:Zahar, 1983, p.64

[6] BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia, Rio de Janeiro: Ediouro, 2003, p. 223



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