Na cidade
homérica nos grandes centros destacam-se os demiourgoi
– demiurgos de demos – comunidade, ergon - trabalho, profissionais que
trabalham para o público[1],
trabalhando como artesãos seja como carpinteiros, curtidores, ferreiros ou
oleiros. Alguns destes demiourgoi
adquirem grande reputação ao qual se atribui inspiração divina.[2] Na
Odisseia Nestor manda buscar um ferreiro especialmente para dourar os chifres
de um animal para sacrifício.[3] Tornou-se
muito difundido no Peloponeso e nas colônias além mar fundadas pelos dórios e
pelos aqueus como Cnido no Ponto Euxino e Petília na Magna Grécia. Os
artífices, que trabalhavam para o público e não somente para sua família eram
todos homens livres, não havendo na Ilíada ou Odisseia um único escravo com
esta função. O cidadão não se importava em trabalhar ao lado de escravos na
mesma tarefa, a diferença consistia em que ele podia parar o trabalho e ir à
Assembleia, enquanto que o escravo não.[4] O
trabalho não é considerado humilhante, como por exemplo mostra Ulisses, orgulhoso
de não ser superado no trabalho de colher e plantar e de que podia construir um
navio, ou da rainha Penélope que tece diariamente no palácio[5]. Quando
Ulisses foi enviado à Guerra de Troia por anos, sua esposa Penélope evitava os
inúmeros pretendentes dizendo-se ocupada em tecer para o dossel funerário de
Laertes, pai de Uilisses. Durante o dia Penélope trabalhava e a noite desfazia o
trabalho feito, tornando-se metáfora do trabalho que estava sempre sendo feito
sem nunca se chegar a uma finalização.[6]
[1] GLOTZ, Gustave. A
cidade grega. São Paulo:DIFEL, 1980, p.74
[2] GLOTZ, Gustave. A
cidade grega. São Paulo:DIFEL, 1980, p.31
[3] FLORENZANO, Maria
Beatriz. O mundo antigo: economia e sociedade. São Paulo:Brasiliense, 1986, p.
18
[4] KITTO, Humphrey Davey
Findley. Os gregos. Coimbra:Armenio Amado, 1970, p. 403
[5] ROSTOVTZEFF, M.
História da Grécia. Rio de Janeiro:Zahar, 1983, p.64
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