João de Scantinburgo referindo-se a poesia de Cassiano
Ricardo em Marcha para Oeste de 1959 incorpora tal perspectiva ufanista
ao descrever os bandeirantes: “a epopéia das Bandeiras [foi] uma das mais
belas do mundo, por suas notas de coragem, determinação indômita, sentido
conquistador para o engrandecimento da nação, que lhes dava as fronteiras
definitivamente fixadas nos tratados já referidos”.[1] Para
Cassiano Ricardo: “Todo brasileiro que abre caminhos novos é hoje, um
bandeirante”.[2] O diplomata Alexandre de Gusmão (na figura) ao discutir as fronteiras do Brasil meridional
no Tratado de Madri em 1751 usa o conceito de propriedade de John Locke segundo
o qual o fundamento da propriedade é o trabalho, na medida em que este cria
quase todo o valor da terra. Para John Locke: “A consequência desta doutrina
é que eu sou proprietário legítimo do que o meu trabalho criou. Um campo por
desbravar não é nada; apenas pelo trabalho humano se torna alguma coisa.
Pertence, pois, por direito àquele que o semeia e o fecunda”.[3] D. João V
se empenha em resolver a questão da demarcação de terras valendo-se do suporte
da ciência de sua época. Nesse sentido mandou vir astrônomos do estrangeiro da
Itália, Alemanha e Suíça, encomendou “instrumentos matemáticos”, fundou um
observatório astronômico para observação dos satélites de Júpiter enviou em
1729 uma missão de padres matemáticos ao Brasil para elaborarem uma nova carta
de latitudes e longitudes na colônia de Sacramento. A Comissão era formada pelos
jesuítas Giovanni Baptista Carbone e Domenico Capacci (ou Domingos Capassi). Por
outro lado, já era de conhecimento que áreas como Cuiabá e do Amazonas,
excediam em muito a linha imaginária demarcatória prevista no Tratado de Tordesilhas.[4] Jaime
Cortesão observa que a preparação deste empreendimento científico envolveu a
contratação de cartógrafos e engenheiros, tais como bem como o astrônomo cartógrafo jesuíta padre
Domingos Capacci, o engenheiro Frederico Jacob Weinholtz, o engenheiro e
cartógrafo frei Estevão de Loreto, o engenheiro Carlos Mardel, o coronel
engenheiro Miguel Angelo Blasco entre outros.[5] Outro
fator fundamental para os êxitos nas negociações no Tratado de Madrid foi a
presença diplomática do reino português entre as principais cortes europeias estabelecendo
magníficas embaixadas o que somente foi possível devido ao ouro do Brasil. Da mesma
forma foi possível a Portugal pagar para Roma pelas bulas que permitia a
criação de dioceses como as de São Paulo e Mariana e as prelaturas de Goiás e Cuiabá, assim como
permitiu pagar pela colonização de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, que
mais tarde foram fundamentais para reconhecimento da propriedade portuguesa
destas regiões pelos espanhóis quando do Tratado de Madrid.
[1] SCANTIMBURGO, João de.
Tratado geral do Brasil, São Paulo: Pioneira, 1978, p. 49
[2] SCANTIMBURGO, João de.
Tratado geral do Brasil, São Paulo: Pioneira, 1978, p. 181
[3] CORTESÃO,
Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.32
[4] CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o tratado de Madrid, São Paulo: Funag,
2006, p. 42
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