quarta-feira, 5 de maio de 2021

O ouro do Brasil investido para ampliação do território

 

João de Scantinburgo referindo-se a poesia de Cassiano Ricardo em Marcha para Oeste de 1959 incorpora tal perspectiva ufanista ao descrever os bandeirantes: “a epopéia das Bandeiras [foi] uma das mais belas do mundo, por suas notas de coragem, determinação indômita, sentido conquistador para o engrandecimento da nação, que lhes dava as fronteiras definitivamente fixadas nos tratados já referidos”.[1] Para Cassiano Ricardo: “Todo brasileiro que abre caminhos novos é hoje, um bandeirante”.[2] O diplomata Alexandre de Gusmão (na figura) ao discutir as fronteiras do Brasil meridional no Tratado de Madri em 1751 usa o conceito de propriedade de John Locke segundo o qual o fundamento da propriedade é o trabalho, na medida em que este cria quase todo o valor da terra. Para John Locke: “A consequência desta doutrina é que eu sou proprietário legítimo do que o meu trabalho criou. Um campo por desbravar não é nada; apenas pelo trabalho humano se torna alguma coisa. Pertence, pois, por direito àquele que o semeia e o fecunda”.[3] D. João V se empenha em resolver a questão da demarcação de terras valendo-se do suporte da ciência de sua época. Nesse sentido mandou vir astrônomos do estrangeiro da Itália, Alemanha e Suíça, encomendou “instrumentos matemáticos”, fundou um observatório astronômico para observação dos satélites de Júpiter enviou em 1729 uma missão de padres matemáticos ao Brasil para elaborarem uma nova carta de latitudes e longitudes na colônia de Sacramento. A Comissão era formada pelos jesuítas Giovanni Baptista Carbone e Domenico Capacci (ou Domingos Capassi). Por outro lado, já era de conhecimento que áreas como Cuiabá e do Amazonas, excediam em muito a linha imaginária demarcatória prevista no Tratado de Tordesilhas.[4] Jaime Cortesão observa que a preparação deste empreendimento científico envolveu a contratação de cartógrafos e engenheiros, tais como  bem como o astrônomo cartógrafo jesuíta padre Domingos Capacci, o engenheiro Frederico Jacob Weinholtz, o engenheiro e cartógrafo frei Estevão de Loreto, o engenheiro Carlos Mardel, o coronel engenheiro Miguel Angelo Blasco entre outros.[5] Outro fator fundamental para os êxitos nas negociações no Tratado de Madrid foi a presença diplomática do reino português entre as principais cortes europeias estabelecendo magníficas embaixadas o que somente foi possível devido ao ouro do Brasil. Da mesma forma foi possível a Portugal pagar para Roma pelas bulas que permitia a criação de dioceses como as de São Paulo e Mariana  e as prelaturas de Goiás e Cuiabá, assim como permitiu pagar pela colonização de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, que mais tarde foram fundamentais para reconhecimento da propriedade portuguesa destas regiões pelos espanhóis quando do Tratado de Madrid.



[1] SCANTIMBURGO, João de. Tratado geral do Brasil, São Paulo: Pioneira, 1978, p. 49

[2] SCANTIMBURGO, João de. Tratado geral do Brasil, São Paulo: Pioneira, 1978, p. 181

[3] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.32

[4] CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o tratado de Madrid, São Paulo: Funag, 2006, p. 42

[5] CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o tratado de Madrid, São Paulo: Funag, 2006, p. 93




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