domingo, 16 de maio de 2021

Moinhos de vento

 

Joahann Beckmann observa que é bastante improvável que os romanos tivessem moinhos de vento. Vitrúvio não faz qualquer referência a tais moinhos.[1] Os primeiros moinhos de vento são registrados no Oriente Médio, onde água era escassa para produção de energia com registros do Irã de cerca de 950 dc.[2] Trevor Willams rekata o uso de moinhos de vento na Pérsia em VII d.c.[3] Frances Gies se refere aos moinhos de vento horizontais como invenção da Pérsia no século VII, que dali se difundirm para O Turquistão e depois China, não sendo certa a influência com os moinhos de vento vertici que começam a surgir na Europa no século XII.[4] Joahann Beckmann contudo acredita que tais moinhos não tenham origem no Oriente mas na Alemanha. Max Frumkin relata um “diploma” conferido em 1105 conferido a um parente próximo de Guilherme I “O Conquistador”[5] o conde de Guilherme de Mortagne que autorizou um monge a estabelecer um moinho de vento em suas terras,[6] informação confirmada por Yves Plasseraud, François Savignon[7] e Raymond Bloch.[8] Gerald Hodgett aponta que em Arles são mencionados moinhos de vento instalados entre 1162 e 1180. [9] Lynn White aponta que os primeiros registros de moinhos de vento na Europa datam de 1185 em Yorkshire [10]. Rene Taton relata que os moinhos de vento de origem persa chegaram na Espanha no século X.[11] Terry Williams se refere a moinhos de vento pelos povos normandos povo medieval estabelecido no norte da França, cuja aristocracia descendia em grande parte de Vikings da Escandinávia em 1180. [12] Charles Singer aponta um moinho datado de 1180 na abadia de St Sauvère de Vicomte na Normandia[13]. Usher relata um moinho de vento no convento de Tanrigge por Odo de Dammertun no reinado de Ricardo I (1189-1199). [14] Ao curso de uma geração estes moinhos tornaram-se típicos no leste europeu.[15] Jacques le Goff aponta uma possível origem dos moinhos de vento na China ou Pérsia no século VII[16]. Segundo Régine Pernoud soldados germânicos na terceira Cruzada (1189-1192) introduziram moinhos de vento de eixo vertical na Síria.[17] A partir de 1180 os moinhos de vento são tão lucrativos que o papa Celestino III (1191-1198) resolveu tributá-los. Na Holanda o conde Floris V concedeu aos irmãos Haarlem por privilegio de pagar seis shilings de imposto para um moinho de vento. Em 1299 é construído um moinho de vento o monastério de Koningsveld em Delft [18]. A região às margens do rio Zaan a oeste de Amsterdã se destaca pelo regime de ventos e contava com mais de 900 moinhos no final do século XVII.[19] Moinhos de vento foram construídos em Alkmaar em 1408, Schoonhoven em 1450 e em Enkhuisen em 1452 na Holanda.[20] A Holanda construiu moinhos de vento para a Frísia   e Renânia.[21] A primeira descrição na Itália ao que parece é o capítulo XXXIV da descrição do Inferno de Dante de 1319 em que Satan atirou seus braços “um molin che il vento gira” (Inferno XXXIV, 6).[22] Lynn White mostra que com o uso do cavalo, os moinhos de água e moinhos de vento, pode-se afirmar que: “a grande glória do final da idade média não foram suas catedrais ou suas histórias épicas ou seu escolaticismo: foi a construção pela primeira vez na história de uma civilização complexa que não se baseava nas costas de escravos ou indígenas mas principalmente numa força não humana”.[23] Jacques le Goff aponta como invenções do século X a XIII a charrua dissimétrica com rodas, a aiveca, ferramentas de ferro, moinho de água, moinho de vento, sistema de cames, tear, aparelhos de levantamento e sistema de atrelagem em cavalos.[24] A técnica de trituração conhecida pelos franceses no século XVI como mouture économique alcançava ganhos de rendimento e consistia em colocar a farinha várias vezes no moinho, separá-la em várias peneiras ao contrário da técnica tradicional que moía a farinha de uma vez. Embora citada por Plínio para fabricação de diferentes tipos de farinhas a técnica era usada em sigilo por moleiros franceses.[25]

[1] BECKMANN, Joahann. Os moinhos de cereais. In: GAMA, Ruy. História da técnica e da tecnologia, São Paulo:Edusp. 1985,p.43

[2] TERESI, Dick. Descobertas perdidas, São Paulo:Cia das Letras, 2008, p.321; BRAUDEL, Fernand. Civilização material e capitalismo, séculos XV-XVIII, Rio de Janeiro:Cosmos, 1970, p.295; KLEMM, Friedrich, A history of western technology, London:Ruskin House, 1959, p. 77

[3] DERRY, T.; WILLIAMS, Trevor. Historia de la tecnologia: desde la antiguidade hasta 1750, Mexico:Siglo Vintuno, 1981, p.367 https://www.youtube.com/watch?v=Lx4k2yZnloM

[4] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 99

[5] https://en.wikipedia.org/wiki/William_the_Conqueror

[6] FRUMKIN, Max, The Origin of Patents, Journal of the Patent Office Society, v.27, n.3, março 1945, p.143-149

[7] PLASSERAUD, Yves., SAVIGNON, François. Paris-1883, Genèse du Droit Unioniste des Brevets, 1983 cf. CRUZ, Murillo. A norma do novo: fundamentos do sistema de patentes na modernidade, 2015, p.271

[8] BLOCH, Raymond; COUSIN, Jean. Roma e o seu destino. Rio de Janeiro:Cosmos, 1964, p.81

[9] HODGETT, Gerald. História social e econômica da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1975, p.114, 222; COON, Carleton. A história do homem. Belo Horizonte:Itatiaia, 1960, p.319

[10] WHITE, Lynn. Medieval technology & social change. Oxford University Press, 1964, p.87; TOYNBEE, Arnold. A humanidade e a mãe terra, Rio de Janeiro:Zahar, 1976, p.563

[11] TATON, René. A ciência antiga e medieval: a Idade Média, tomo I, v.III, São Paulo:Difusão, 1959, p. 144

[12] DERRY, T.; WILLIAMS, Trevor. Historia de la tecnologia: desde la antiguidade hasta 1750, Mexico:Siglo Vintuno, 1981, p.368

[13] SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.II, Oxford, 1956, p.623; WHITE, LYNN. Medieval religion and technology, UCLA, 1978, p.21

[14] USHER, Abbott. Uma história das invenções mecânicas, Campinas:Papirus, 1993, p. 234

[15] Technology and invention in middle ages. WHITE, LYNN. Medieval religion and technology, UCLA, 1978, p.21

[16] LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 183

[17] GIMPEL, Jean. A revolução industrial da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1977, p.28

[18] SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.II, Oxford, 1956, p.620

[19] SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.IV, Oxford, 1958, p.156

[20] BECKMANN, Joahann. Os moinhos de cereais. In: GAMA, Ruy. História da técnica e da tecnologia, São Paulo:Edusp. 1985,p.44

[21] MATTHEW, Donald. A Europa Medieval, v.II. Lisboa :Ed. del Prado, 1996, p.145

[22] WHITE, LYNN. Medieval religion and technology, UCLA, 1978, p.21; BRAUDEL, Fernand. Civilização material e capitalismo, séculos XV-XVIII, Rio de Janeiro:Cosmos, 1970, p.296; WHITE, Lynn. Tecnologia e invenções na Idade Média. In: GAMA, Ruy. História da técnica e da tecnologia, São Paulo:Edusp, 1985, p. 98

[23] Technology and invention in middle ages. WHITE, LYNN. Medieval religion and technology, UCLA, 1978, p.22

[24] LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p.7

[25] BECKMANN, Joahann. Os moinhos de cereais. In: GAMA, Ruy. História da técnica e da tecnologia, São Paulo:Edusp. 1985,p.48



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