Ao final do século XVII acumulam-se reclamações contra a má qualidade do açúcar branco brasileiro e diversas formas de fraude, como a mistura dos dois tipos de açúcar na mesma caixa e mesmo a inclusão de pedras[1]. Diante de tantas fraudes na pesagem o governo central determina em 1657 que as caixas de açúcar comecem a ser marcadas e numeradas consecutivamente de modo a certificar a qualidade do produto. Tal como as marcações do gado as marcas usadas nas caixas de açúcar usavam combinações das iniciais do nome do senhor de engenho. A Companhia Geral do Maranhão criada em 1682 impõe um regime de monopólios, conhecido como estanco. Segundo João Francisco Lisboa: “os administradores não só faltaram às diversas obrigações a que se haviam sujeitado como se demasiaram em toda a casta de roubo e vexações. Os pesos e medidas que usavam eram falsificados, as fazendas e comestíveis expostos à venda, da pior qualidade e até corruptos”.[2] Wilson Martins mostra que a corrupção atingia as autoridades da época como o próprio governador do Maranhão, situação que conduziu a Revolta de Manuel Beckman em 1684. No Sermão do Bom Ladrão proferido em 1655 pelo Padre António Vieira ele denuncia ao povo português a corrupção nas províncias portuguesas do além mar: “Se trazem muito, como ordinariamente trazem, já se sabe que foi adquirido contra a lei de Deus, ou contra as leis e regimentos reais, e por qualquer destas cabeças, ou por ambas, injustamente. Assim se tiram da Índia quinhentos mil cruzados, de Angola duzentos, do Brasil trezentos, e até do pobre Maranhão mais do que vale todo ele. E que se há de fazer desta fazenda? Aplicá-la o rei à sua alma e às dos que a roubaram, para que umas e outras se salvem”. D. João IV sugeriu a divisão do Maranhão Pará a que Antonio Vieira se opôs: “porque um ladrão num cargo público é um mal menor que dois”.[3] Charles Boxer no seu livro O Império Colonial Português menciona o depoimento do navegante William Dampier em visita a Salvador em 1699 em que destaca a qualidade do açúcar do Brasil: “O açúcar deste país é muito melhor do que o que transportamos para a Inglaterra vindo de nossas plantações [nas Antilhas], porque todo o açúcar aqui fabricado é refinado, o que o torna mais branco e mais fino que o nosso mascavado, nome que damos ao nosso açúcar não refinado”.[4]
[1] GAMA, Ruy. Engenho e
tecnologia, São Paulo: Duas Cidades, 1983, p.329; GOMES, Laurentino.
Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.322
[2] MATOS, Clarence; NUNES,
César. História do Brasil, São Paulo: Círculo do Livro, 1993, p. 27; BRITO,
José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil.
Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.74; MARTINS, Wilson.
História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 249
[3] BOXER, Charles. O
império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 309
[4] BOXER, Charles. O
império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 159, ALBUQUERQUE,
Manoel Maurício. Pequena história da formação social brasileira, Rio de
Janeiro: Graal, 1981, p. 71; BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para
a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora
Nacional, 1980, p.306
Nenhum comentário:
Postar um comentário