segunda-feira, 3 de maio de 2021

A reprodução natural dos escravos no Brasil colônia

 

Eric Williams mostra que onde não se desenvolveu a grande fazenda com suas culturas para a exportação como o tabaco em Cuba, a mão de obra negra era rara.[1] A escravidão é, portanto, vista como um fenômeno econômico assumindo uma centralidade na formação do capitalismo industrial na Inglaterra: “a razão [da escravidão] foi econômica, não racial; não teve nada a ver com a cor da pele do trabalhador [ou com uma suposta aptidão dos negros ao clima tropical], e sim, com o baixo custo da mão de obra”. [2] Manolo Florentino (na figura) mostra como o tráfico de escravos enquanto a entrada de negros pelo porto do Rio de Janeiro aumentava de cerca de 10 mil escravos anuais em 1808 para cerca de 40 mil em 1828 mantinha baixas taxas de natalidade, de modo que a maior parte dos escravos eram homens adultos. A historiografia dos anos 1960 identificou nestas baixas taxas de reprodução natural uma mostra da violência da escravidão, em contraposição à visão de certa leniência e brandura que se difundiu especialmente após os trabalhos de Gilberto Freyre na década de 1930. Manolo Florentino, em alinhamento com as teses de Eric Williams mostra que logo que o tráfico de escravos vindo da África se encerrou na década de 1850 o que se observa é que a taxa de reprodução natural aumenta significativamente, o que denota que a razão desta taxa se manter baixa até então tinha causas fundamentalmente econômicas e não como resultado de um regime mais violento. Enquanto havia a disponibilidade de aquisição de novos escravos a baixo custo, o senhor de engenho importava mais escravos homens adultos, o que levava a uma desproporção de homens e mulheres entre os escravos, e por esta razão, uma menor taxa de reprodução natural. Jacob Gorender em O escravismo colonial já atentara para o fato de que a tendência ao decréscimo absoluto da população escrava, resultado da baixa taxa de reprodução natural, era o resultado esperado de uma lógica empresarial baseada na maximização do lucro. Foi somente com o fim do tráfico de escravos africanos e o consequente aumento do preço dos cativos é que os senhores de engenho não tiveram outra opção senão cuidar para prolongar a vida útil de seus escravos. Não e trata de uma visão mais humanitária, mas mero reflexo das condições econômicas.[3]



[1] WILLIAMS, Eric. Capitalismo & escravidão, São Paulo: Cia das Letras, 2012, p.59

[2] WILLIAMS, Eric. Capitalismo & escravidão, São Paulo: Cia das Letras, 2012, p.50

[3] FLORENTINO, Manolo. Em costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 50



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...