quinta-feira, 6 de maio de 2021

A gelosia no Brasil do século XIX

 

Em 1816 a fábrica de vidro inicialmente instalada na Cidade Baixa e posteriormente transferida para o cais do Bonfim forneceu 80 mil luminárias para o aniversário de D. João VI. A fábrica funcionava com mão de obra escrava treinada pelos artífices ingleses.[1] Gilberto Freyre mostra que para promover a venda de vidro inglês no Brasil do século XIX um decreto de D. João ordenou a destruição de gelosias (também conhecida com rótula, uma espécie de grade de ripas de madeira, de malha pouco aberta, que guarnecia algumas janelas e portas a fim de impedir que a luz e o calor excessivos penetrem no interior da casa, e que este seja devassado da rua, ou seja, que permite ver sem ser visto) sob a alegação que se prestavam ao esconderijo de assassinos.[2] Roberto Pompeu destaca que as gelosias eram a marca registrada da cidade de São Paulo do século XIX. O termo gelosia  remete a ciúme, e está relacionado ao hábito de esconder as jovens moças e esposas dentro de casa por ciúmes. Em meados do século XIX desencadeou-se uma campanha contra as gelosias. O periódico O Constitucional se queixa: “Cômodas em que sentido ? Para ocultarem-se [as famílias] de que ? Somos nós um povo de cucas [mulher feia] ? Demais vai aí grave a questão de moralidade: é bom refletir sobre o estímulo de tudo o que se esconde”. Visconde de Taunay em 1865 ao visitar a cidade ainda constata o predomínio das gelosias. [3]

[1] LAGO, Pedro Correa. Brasiliana IHGB 175 anos, Rio de Janeiro:Capivara, 2014, p. 85

[2] CALDEIRA, Jorge. A nação mercantilista, São Paulo:Ed. 34, 1999, p. 330

[3] TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 346



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