quinta-feira, 1 de abril de 2021

Metalurgia dos povos "bárbaros"

 

Na idade média alguns ofícios como ourives, o ferreiro, o forjador de espadas[1] preservavam uma imagem mágica, de feiticeiros[2]. Na herança “bárbara” germânica ferreiros e ourives são ofícios de prestígio dotados de atributos mágicos.[3] Os ferreiros da Germânia mesmo antes do século VIII já eram capazes de fabricar espadas reluzentes que Cassiodoro conselheiro do rei ostrogodo Teodorico no século VI relata que era usada nos combates contra os romanos. [4] Robert Fossier observa que os avanços na metalurgia e no domínio da tecnologia do ferro levou a uma melhor qualidade nos armamentos dos povos bárbaros sendo uma das causas da queda do Império romano.[5] O domínio desta técnica se reflete na mitologia nórdica expressa em várias obras medievais, das quais sobressai o Nibelungenlied (Canção dos Nibelungos)[6]. O domínio de metalurgia dos povos bárbaros medievais se manifesta, por exemplo, nas coroas dos reis visigóticos, no frontal de cobre de Agilulfo/Agilolfo do século VII ou nos sarcófagos merovíngios de Jouarre.[7] Estruturas de rolamentos datadas do ano 100 a.c. foram encontradas na Dinamarca feitas em madeira e bronze.[8] Frances Gies aponta a técnica dos povos germânicos do século II capazes de construir armaduras de metal reforçadas por soldagem em camadas resultando em chapas excepcionalmente duras e resistentes ainda que o resultado da operação fosse bastante incerto e por esta razão tais trabalhos considerados raridades.[9] Um escudo em bronze encontrado nas margens do rio Tâmisa na Inglaterra datado do primeiro século a.c. mostra uma técnica apurada. Lynn White sustenta que não houve qualquer ruptura nas técnicas quando das invasões bárbaras, no entanto, Frances Gies mostra que algumas técnicas se perderam, como por exemplo a roda de oleiro que desapareceu da Inglaterra retornando na Europa continental apenas no século IX. As atividades nas minas romanas serão retomadas somente nos anos centrais do período medieval quando novas minas são abertas no século VIII na Europa Oriental. Da mesma orma a metalurgia tambáme sofreu declínio após as invasões bárbaras.[10] Jacques le Goff entende que o saldo das invasões bárbaras é de declíneo na técnica: “mas o retrocesso das técnicas, dos meios econômicos, do gosto, é perceptível por toda a parte. Tudo se apequena. Os edifícios são na sua maioria das vezes construídos em madeira; os que o são em pedra, com frequência extraída de monumentos antigos em ruínas, são de pequenas dimensões. O essencial do esforço estético refere-se á decoração que dissimula á indigência das técnicas de construção. A arte de talhar as pedras, os altos relevos e a representação da figura humana desaparecem quase totalmente”.[11]

[1]LE GOFF, Jacques. Para uma outra idade média, Petrópolis: Vozes, 2013, p.119, 122

[2] LE GOFF, Jacques. Para uma outra idade média, Petrópolis: Vozes, 2013, p.433

[3] GOFF, Jacques. Trabalho. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 634

[4] DUBY, Georges. Guerreiros e camponeses: os primórdios do crescimento econômico europeu, sec VII - XII, Lisboa: Editorial Estampa, p.89

[5] FOSSIER, Robert. O trabalho na idade média. Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 79, 189

[6] FOSSIER, Robert. O trabalho na idade média. Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 190

[7] LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 106 https://fr.wikipedia.org/wiki/Cryptes_de_Jouarre

[8] HODGES, Henry. Technology in the ancient world, New York: Barnes & Noble Books, 1970, p. 243

[9] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and water wheel, New York:Harper Collins, 1994, p.32

[10] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and water wheel, New York:Harper Collins, 1994, p.40

[11] LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 105



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