Jean Jacques Rousseau contesta que possamos falar em inovação ou progresso
para o homem pré histórico “se por acaso fazia qualquer descoberta, era
tanto menos capaz de a comunicar, quando nem
sequer reconhecia os próprios filhos. A arte perecia com seu inventor;
não havia educação nem progresso; as gerações multiplicavam-se inutilmente e
cada uma delas partia sempre do mesmo
ponto; os séculos desenrolavam-se com a rudeza das primeiras épocas, a espécie
era já velha e o homem continuava sempre criança”.[1] Segundo José María
Bermúdez de Castro, contudo, as primeiras pedras esculpidas por nossos
antepassados remotos há 2,5 milhões de anos fazem parte do mesmo impulso para
mudar o mundo com a tecnologia: “Pertencem a uma mesma inquietação da nossa
espécie: a capacidade de criar. Há um momento inicial, que é quando começa a
manipular a matéria prima. E a partir daí tudo foi uma cadeia consecutiva até
chegar à atualidade, onde esse fenômeno se produz de forma exponencial. Isso é
a cultura”.[2] De 1 milhão de
anos a 250 mil anos a tecnologia de instrumentos de pedra continuou a progredir
“no seu passo de tartaruga”. [3] Foi somente a 100 mil anos
que o ritmo de inovação aumentou, processo que foi intensificado com o
surgimento e aperfeiçoamento da linguagem humana: “da mesma forma como a produção de um conjunto padronizado de utensílios
de pedra é indicadora de uma capacidade linguística, assim também o é a criação
de objetos unicamente simbólicos. Entretanto, embora seja de certo modo
concebível imaginar peças de complexos instrumentos de pedra sendo
manufaturados por criaturas não verbais, é impossível que o simbolismo abstrato,
tal como o vemos elaborado durante os últimos 30 mil anos pudesse surgir de um
animal que não fala. Sem palavras com as quais lhes dar nomes, uma estatueta de
cavalo, uma pintura de rocha ou a bandeira de uma nação nunca poderiam existir:
elas não teriam significado”.[4] Para Christopher Dawson: “o fato de ser possível ensinar macacos a
andar de bicicleta, dentre outras habilidades, mas de ser impossível ensiná-los
a falar, sugere que é o uso da língua, e não o de ferramentas, a característica
essencial da humanidade. A fala, e não a lança e a pá, é a força que cria a
cultura humana”.[5] A capacidade de pensar
analiticamente, de raciocinar abstratamente estimulou o desenvolvimento da
oralidade seja para nomear os objetos concretos ou para expor sentimentos e
emoções. O desenvolvimento social humano está diretamente relacionado com o
desenvolvimento da linguagem.[6] Para Harry Hoijer: “o fato de ser revelado pela história das
culturas humanas um desenvolvimento contínuo e cumulativo, que se estende desde
os primórdios até o presente, significa evidentemente que o homem é possuidor
da linguagem desde quando possui cultura”.[7] Keith Devlin mostra que a
adoção da postura ereta levou a que os elementos de ligação da laringe na base
da língua descessem até o pescoço criando uma forte angularidade entre o trato
vocal e uma boca menor. Para evitar de respirar e engolir ao mesmo tempo o
organismo desenvolveu um sofisticado mecanismo de oclusão velar, separando a
cavidade nasal da cavidade oral de modo a parar de respirar por um período de
meio segundo a quatro segundo para podermos engolir. Este mecanismo permitiu a
articulação de uma grande variedade de consoantes e, portanto, nossa linguagem. [8]
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