domingo, 11 de abril de 2021

A ideia de universidade no Brasil colonial

 

Segundo Maria de Lourdes Fávero “em matéria de ensino as diretrizes emanadas da Corte eram feitas como se visassem a estabelecer a rotina; paralisar as iniciativas, em vez de estimulá-las”. [1] Mesmo após a independência esta condição de atraso na educação se prolongou de modo que ao final do Império em 1879 o Brasil tinha seis instituições de ensino superior sendo que nenhuma universidade, ou seja, as Faculdades de Direito de São Paulo e do Recife; as Faculdades de Medicina do Ru de Janeiro e da Bahia; a Escola Politécnica do Rio de Janeiro e a Escola de Minas de Ouro Preto.  Na Bahia por diversas vezes, sem sucesso, foi pedido elevar ao estatuto de universidade o colégio local dos jesuítas por oposição dos jesuítas da Universidade de Coimbra. A primeira petição da Câmara da Bahia data de 20 de dezembro de 1662, sendo uma segunda petição encaminhada em 1671 “para conferir graus universitários aos estudantes de teologia” de modo que não fosse necessário enviar seus filhos para se formar em Coimbra.  Segundo Charles Boxer: “Essa atitude mesquinha em relação ao ensino das colônias contrasta desfavoravelmente com a dos monarcas espanhóis, que encorajaram a fundação de universidades no Novo Mundo no século XVI (a universidade Santo Tomás de Aquino em Santo Domingo, 1538; a Real y Pontificia Universidad de México na Cidade do México, 1551; a universidade de São Marcos em Lima, 1571; ao todo 21 universidades no período colonial)”.[2] Fernando de Azevedo (na figura), contesta como equivocada que a não criação de universidade no Brasil colônia teria sido a causa, em contrário com exemplo das colônias espanholas teria sido a razão do atraso da ciência no país: “O que importava, para a introdução da atitude crítica e dos métodos experimentais, não era, de fato a transplantação , da metrópole para as colônias, de instituições arcaicas, mas o espírito moderno, a nova concepção de vida e de cultura, que, não tendo penetrado nos dois reinos peninsulares, como que fechados e dobrados sobre si mesmos, não podia transladar-se para os povos colonizados [...] Na direção  em que se desenvolveram, nas colônias espanholas, serviram antes como um sistema de freios do que como elemento  estimulador da investigação e dos progressos da cultura em seus diversos setores. Assim pois, o fato de não terem surgido, em nossa história colonial, instituições dessa ordem; o malogro da ideia eu não passou do papel, no primeiro Império, e a tardia criação das universidades que somente surgiram, entre nós, no século atual, já em condições mais favoráveis, longe de serem um mal para se lamentar, foram, sob certos aspectos, um benefício para a cultura brasileira. A carga pesada da tradição que se acumulou e se tornou mais opressiva nas colônias de origem espanhola em que se instituíram as universidades, verdadeiros focos de reação, não se fez sentir tão fortemente em nosso país, como o revelam os desenvolvimentos das respectivas culturas”.[3]



[1] FÁVERO, Maria de Lourdes. Universidade do Brasil das origens à construção. Rio de Janeiro:UFRJ, 2000, p.9, 24

[2] BOXER, Charles. O império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 328

[3] AZEVEDO, Fernando. As ciências no Brasil, v.I, São Paulo:Melhoramentos, 1969, p 19



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