Basílio de Magalhães cita o engenho de Pero de Góis em São Vicente em 1532 representado em iconografia de Hans Staden denominado Engenho Madre de Deus como um dos primeiros engenhos instalados na colônia.[1] Gabriel Soares e Frei Gaspar relatam que no engenho Madre de Deus o engenho d’água atendia, mediante um certo imposto, aos pequenos lavradores que plantavam a cana sem ter um engenho próprio tal como o “lagar do príncipe” em Portugal ou o “moulin banal” na França.[2] O item 12 do Regimento do governador geral Tomé de Souza estabelecia que o senhorio das terras concedidas para cada engenho de açúcar será obrigado a moer, no dito engenho, as canas dos lavradores vizinhos.[3] Em 1516 o Rei D. Manoel ordenou por um alvará ao feitor e mais oficiais da Casa da Índia que “dessem machados, enchadas e mais ferramentas as pessoas que fossem para o Brasil, e por outro alvará que o mesmo feitor e oficiais procurassem e elegessem um homem prático e capaz de ir ao Brasil dar princípio a um engenho de açúcar, e que se lhe desse sua ajuda de custo, e também todo o cobre e ferro e mais coisas necessárias, para o fabrico do dito engenho” [4], possivelmente em Pernambuco, aonde existia uma feitoria régia, única de que há notícia autenticada. Em 19 de outubro de 1526 os livros de arrecadação da Casa da Índia em Lisboa registram o pagamento de direitos a açúcar proveniente de Itamaracá segundo Visconde Porto Seguro: “isto prova evidentemente que já nesse tempo e em ambas as localidades se cultivava a cana de açúcar e havia, senão engenhos, pelo menos engenhocas em que ele se fabricava”. Neste livro o engenho de açúcar de Pedro Capido aparece como contribuinte sobre a produção de açúcar fabricado na Ilha de Itamaracá em Pernambuco desfazendo-se, portanto, o depoimento de frei Gaspar de que o engenho Madre de Deus na Capitania de São Vicente teria precedência. Varnhagen se vale desse testemunho para sustentar que bem antes da vinda de Martim Afonso de Sousa quando se estabeleceu como primeiro donatário da Capitania de São Vicente (1533-1564) já haviam engenhos em funcionamento no Brasil. [5] Em 1570 Pero de Magalhães Gandavo assinala a presença de 23 engenhos em Pernambuco. Fernão Cardim registra um total de 66 em 1584. Frei Vicente Salvador estima em cerca de 100 em 1627. Mesmo após a destruição com a guerra contra os holandeses, Antonil menciona 246 engenhos em Pernambuco [6]. A informação Geral da Capitania de Pernambuco em 1749 assinala a existência de 202 engenhos, número que experimentaria novo crescimento com as medidas de Pombal com a criação da Companhia Geral de Comércio de Pernambuco e Paraíba em 1759 o que elevou o número de engenhos para 369 em 1777.[7]
[1] GUIMARÃES, Basílio. O
açúcar nos primórdios do Brasil Colonial, Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e
do Álcool, 1953, p.19
[2] CALMON, Pedro. História
da Civilização Brasileira. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1937, p.28
http://www.brasiliana.com.br/obras/historia-da-civilizacao-brasileira/pagina/27/texto
[3] JÚNIOR, Manuel Diegues.
População e açúcar no Nordeste do Brasil, São Paulo:CNA, 1954, p.117
[4] LIMA, Heitor Ferreira,
Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de
Cultura, 1961, p. 102
[5] LIMA, Heitor Ferreira,
Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de
Cultura, 1961, p. 101
[6] LIMA, Heitor Ferreira,
Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de
Cultura, 1961, p. 102; BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a
história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora
Nacional, 1980, p.85
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