domingo, 7 de março de 2021

A dominância da colônia brasileira como centro econômico

 

Normano e Heitor Lima destacam a limitação do mercado interno no período colonial em que as fazendas fabricavam suas próprias armas e roupas para escravos e mantinham seus próprios artífices restringindo suas aquisições de fora a alguns poucos produtos de luxo, tais como tecidos finos, azeite e bacalhau.[1] Lemos Brito observa que já no século XVI as mulheres dos grandes proprietários de engenhos na Bahia usavam sedas e baixelas de prata em abundância. [2] Fernão Cardim em obra publicada em 1625 registra que na Bahia e Pernambuco “possuem todos os tipos de tecidos e sedas e os homens andam bem vestidos e usam muitas sedas e veludos”.[3] Para João Fragoso a economia colonial tinha natureza arcaica e se imbricava organicamente com a hierarquia social fortemente excludente da sociedade escravocrata brasileira e que conduziu ao enriquecimento de uma elite mercantil e a contínua pauperização das camadas subalternas livres: “não havia contradições maiores entre a hegemonia do capital mercantil (sobretudo no que se refere ao seu parasitismo) e o funcionamento de uma economia agrária de base escravista”.[4] Para Manolo Florentino (na figura): “Ao que tudo indica, com a crise do ouro e dos diamantes a economia da Gerais reorientou-se para o suprimento da cidade do Rio de Janeiro, cujo crescimento demográfico foi notável a partir de 1760. Estruturou-se ao sul de Minas um verdadeiro complexo agropecuário [...]O vigor da economia de abastecimento do sul de Minas pode ser avaliado por suas exportações de reses, toucinho e carne salgada”.[5] O ato de transformação do Brasil em Reino em 1815 era o reconhecimento de sua dominância como centro econômico. [6] Segundo relatório do deputado Manuel Fernandes Tomás na Corte portuguesa em Lisboa em fevereiro de 1821 o comércio com o Brasil em 1818 havia dado um déficit à Coroa portuguesa de 4 milhões e 265 mil cruzados. [7] De 1796 a 1807 em apenas três anos o saldo foi favorável à metrópole [8]. Dados de 1796 mostram que o Brasil importou cerca de 7 mil contos e exportou cerca de 10 mil contos (Heitor Lima registra exportações de 11,5 mil contos)[9] com saldo positivo para a colônia brasileira. Do total de cerca de 7,6 mil contos das exportações de Portugal para as colônias, cerca de 7 mil contos era para o Brasil, ou seja, a colônia brasileira consumia 92% das exportações portuguesas para suas colônias o que demonstra que o Brasil era o grande mercado para os produtos portugueses. [10] Em 1806 a balança comercial teve saldo positivo de 6,8 mil contos sendo 23,2 mil contos de exportações e 16,4 mil de importações.[11]



[1] LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 301

[2] BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.47

[3] BOXER, Charles. O império Colonial português, Lisboa:Edições 70, 1969, p.105

[4] FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo. Arcaísmo como projeto, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 19, 234

[5] MANOLO, Florentino. Em costas negras. São Paulo: Cia das Letras, 1997, p. 39 In: AQUINO, Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.222

[6] ALBUQUERQUE, Manoel Maurício. Pequena história da formação social brasileira, Rio de Janeiro: Graal, 1981, p. 305

[7] ALBUQUERQUE, Manoel Maurício. Pequena história da formação social brasileira, Rio de Janeiro: Graal, 1981, p. 317

[8] LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 294

[9] LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 294

[10] LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 34

[11] BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.273




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