sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Pergunta Needham

 

Para John Roberts as causas para invenções na China não terem desencadeado uma revolução no desenvolvimento econômico pode se encontra na doutrina social do confucionismo que não buscava a integração entre nobres e técnicos, tornando a China refém de uma longa tradição cultural.[1] Para Daniel Boorstin: “A indiferença aos mistérios da criação que caracteriza o confucionismo levou a uma mentalidade suspeita quanto á mudança, uma relutância em imaginar o novo”.[2] Para George Basalla “o lento desenvolvimento da ciência na China pode ser explicado, em grande medida pela incapacidade da ciência em ocupar o lugar do Confucionismo como filosofia predominante. O pensamento confucionista ressaltou a importância dos princípios morais e relações humanas e desencorajou o estudo sistemático do mundo natural. A rejeição do confucionismo ao conhecimento científico foi registrado em um poema escrito no início do século XIX por um dignatário chinês: “com um microscópio você vê a superfície das coisas. Ele amplia as coisas mas não te mostra a realidade. Ele faz as coisas maiores e mais largas, Mas não pense você que estas vendo de fato as coisas em si mesmas”.[3] Sprague de Camp observa que a característica de semi isolamento da China impediu a difusão de técnicas como, por exemplo, o carrinho de mão inventado no século III por Jugo Lyang mas que chegou à Europa mais de mil anos depois.[4] Joseph Needham formula um pergunta que se tornou famosa, a chamada “pergunta Needham”: por que a Revolução científica aconteceu na Europa e não na China ?  [5] Joseph Needham observa que a estagnação tecnológica chinesa que se observa após a dinastia Ming no século XIV ocorreu devido ao excessivo poder da burocracia central.[6] Roland Mousnier observa que “A Ásia permanecera no segundo estágio do pensamento, anterior ao racionalismo qualitativo dos gregos, em que o pensamento é, antes de tudo, a intuição dos conjuntos qualitativos. O sapateiro hindu não toma medidas, coloca o pé do cliente na sua mão, adquire a imagem mental de um certo volume e faz um sapato, que, aliás, serve muito bem [...] O europeu está em movimento perpétuo. Seu ideal é a luta, a ação, a expansão, o progresso ou a transformação, a insaciável curiosidade da novidade, a impaciência e a insubordinação diante dos obstáculos, quer estes provenham das coisas ou da vontade dos homens, O asiático é sonho perpétuo, desprezo pelo esforço, culto das leis estabelecidas e das ideias transmitidas, desconfiança frente às novidades, respeito de todas as forças exteriores humanas e naturais, resignação [...] aos asiáticos era inconcebível a viagem por simples curiosidade: “Apenas os europeus, no mundo, viajam por curiosidade (Chardin) [..] Isso explica que o gosto por narcóticos fosse universal na Pérsia e na Índia”.[7]

[1]ROBERTS, J.M. history of the world, Oxford University Press, 1992, p.368

[2]BOORSTIN, Daniel. Os criadores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1995, p.27

[3]BASALLA, George. The Spread of Western Science. Science, v. 156, n. 3775, p. 611-622, 1967.

[4]CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 314

[5]BURKE, Peter. O polímata, São Paulo:Unesp, 2020, p. 254

[6]CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 339

[7]MOUSNIER, Roland. Os séculos XVI e XVII. Tomo IV, 2° volume, História Geral das Civilizações, São Paulo:Difusão, 1957, p. 211



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