quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

O monge Cassiodoro

 

Com os mosteiros e a adoção da regra de São Bento que governou muitos mosteiros a partir do século VI intensificou-se o interesse pela marcação dos horários para organização das orações ao longo do dia, um interesse igualmente compartilhado pelos árabes muçulmanos.[1] Daniel Boorstin observa que a palavra clock tem origem no holandês que significava sino e é cognata do alemão glocke que também significa sino, o que denota a origem monástica do termo [2]. Meticulosos almanaques (al-manakh) listavam as horas das preces entre os muçulmanos para cada dia do ano em diferentes localidades tão distantes como China e Marrocos [3]. Na abadia cisterciense de Villers na Bélgica um documento explica como estimar o tempo acompanhando o sol e as estrelas à medida em que aparecem em várias janelas [4]. No século VI Cassiodoro (490-585) escreve a Boécio pedindo-lhe que conserte relógios solares e de água (clepsidras) para o rei dos burgúndios [5] e exalta a habilidade do mecânico capaz de imitar a natureza através de sua técnica.[6] Cassiodoro descreve entusiasticamente sobre as invenções em seu monastério como relógios de sol e relógios hidráulicos, moinhos hidráulicos e sistemas de irrigação. Ele descreve a mecânica como “quase um camarada da natureza, abrindo seus segredos, mudando suas manifestações, brincando com milagres”.[7]

[1]LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.51

[2]BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.48

[3]LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.114

[4]LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.52

[5]BOORSTIN, Daniel. Os criadores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1995, p.295

[6]PASQUALE, Giovanni Di. A reflexão sobre as artes mecânicas. In: ECO, Umberto. Idade média: bárbaros, cristãos e muçulmanos, v.I, Portugal:Dom Quixote, 2010, p.460

[7]GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 11



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