quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

As atividades industriais na colônia antes do Alvará de 1785 de Maria I

 

O marques de Lavradio (na figura) vice-rei do Rio de Janeiro de 1768 a 1779 em relatório de 1779 relata o perigo que as emergentes iniciativas industriais representam ao reino e menciona os casos em que teve de intervir como no fechamento de fábrica em Pamplona em Minas Gerais.[1] O marques de Lavradio destaca o crescimento das instalações fabris: ‘estabelecendo a maior parte dos particulares nas suas próprias fazendas, fábricas e teares com que se vestiam a si, a sua família e escravatura, fazendo panos e estopas, e diferentes outras peças de linha e algodão, e ainda de lã”.[2] Os escravos tinham roupas feitas de um tecido muito grosso ou simplesmente “saco” tendo surgido algumas pequenas fábricas de tecelagens em 1762 em Minas Gerais aos quais o governo português ordenou o fechamento em 1785.[3] Kenneth Maxwell por outro lado mostra que o marquês de Lavradio na Bahia criou uma indústria de velame, e no Rio de Janeiro apoiou o empresário Manuel Luís Vieira numa indústria de beneficiamento de arroz que recebeu junto com o sócio Domingos Loureiro privilégios por dez anos contados de 1766 para beneficiamento do arroz. Em 1771 foi criada a Academia Científica do Rio de Janeiro dedicada aos estudos de física, química, história natural, medicina, cirurgia, farmacologia e agricultura. Da Academia seria publicada em 1790 “Flora Fluminensis", de autoria do padre franciscano José Mariano da Conceição Vellozo (1742-1811) com as descrições e figuras de 1.640 vegetais brasileiros e muitas indicações ecológicas e nomes indígenas. A exploração de ferro em Ipanema foi estimulada pelo governador da capitania.  Os bons resultados levaram a Ferreira Pereira ter permissão para fundar uma fábrica em São Paulo. Em 4 de julho de 1775 um bando do governo de Minas Gerais manda fechar as fábricas de chapéus e algodões. Em 1780 Ferreira Pereira junto com João Hoffman fez testes com o linho guaxima para fabricação de cordas e lona tendo encaminhado três peças de linho para Lisboa. A indústria de cordoalha teve grande impulso ao abastecer os navios das frotas portuguesas com cabos aqui preparados.[4] Em 1767 na Bahia José Ferreira Leal recebeu apoio da Junta de Comércio de Lisboa para fabricar cordame. Dos estabelecimentos manufatureiros autorizados pela Junta de Comércio de Lisboa sob o regime de Pombal cerca de 80% foram autorizados após 1770.[5] O governador de Minas Gerais, Antonio de Noronha comunicou a Lisboa o notável crescimento dos estabelecimentos fabris na capitania.[6] Segundo Kenneth Maxwell: “as condições sociais e econômicas de Minas Gerais, na década de 1780 contradiziam tudo o que o conceito de dependência colonial, então corrente entre estadistas lisboetas tinha por axiomático [...] Assim o desenvolvimento observado em Minas era a antítese daquilo que a mentalidade oficial de Lisboa acreditava constituir a função de uma capitania colonial e, especialmente, a de uma que por tanto tempo fora a fonte mais vital da riqueza colonial portuguesa”. [7]



[1]JÚNIOR, Caio Prado. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo:Brasiliense, 1986, p.224; LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 154

[2]MAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa, Rio de Janeiro:Paz e Terra, ,1985, p. 86

[3]STEIN, Stanley. Grandeza e decadência do café, São Paulo:Brasiliense, 1957, p. 216

[4]BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.286

[5]MAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa, Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1985, p. 60, 68; Fundo Marquês do Lavradio: inventário/Arquivo Nacional. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1999 http://www.arquivonacional.gov.br/media/lavradio.pdf

[6]MAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa, Rio de Janeiro:Paz e Terra, ,1985, p. 86

[7]MAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa, Rio de Janeiro:Paz e Terra, ,1985, p. 119



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