Pedro
Telles mostra que com o avanço das ferrovias após 1860 há uma valorização do
trabalho livre, das artes mecânicas e da própria profissão de engenheiro.[1] O engenheiro Francisco Picanço em matéria no jornal Imprensa Fluminenses de 21
de maio de 1888 afirma que a estrada de ferro foi “a força material que mais cooperou para o desaparecimento da escravidão
no Brasil” na medida em que permitiu a lavoura prosperar substituindo a
escravidão pelo trabalho livre.[2] Para Gilberto Freyre: “a construção e o
funcionamento de estradas de ferro no Brasil vieram modificar as condições de
trabalho no sentido de sua democratização e de sua dignificação, por um lado,
e, por outro, de sua maior eficiência ou do seu maior rendimento. Viera
contribuir para a quebra das condições feudais e escravocratas de trabalho
manual e de campo até então dominantes entre nós. Concorreram para provocar uma
legislação social de sentido, senão democraticamente socialista, protetor da
dignidade humana do trabalhador tanto de escritório como de oficina e até de
campo”.[3] A
presença de negociantes britânicos importadores de tecido, ferro, vidro, chá, máquinas
e instrumentos contribui igualmente para valorização do mecânico e do
comerciante [4]. Legislação
de 1831 do Regente Feijó e 1852 concedia garantias aos capitais ingleses para
construção de estradas de ferro proibindo que para tal fim fosse usada mão de
obra escrava.[5] Maria Petrone, analisa os impactos da imigração: “a valorização do trabalho
tem que ser destacada já que ocupa lugar central na ideologia do imigrante. Com
exemplos daqueles que tiveram sucesso na roça ou na indústria, procurou-se
ressaltar a importância do trabalho manual”.[6]
[1] TELLES, Pedro Carlos da
Silva. História da Engenharia no Brasil: séculos XVI a XIX, Rio de
Janeiro:Clube de Engenharia, 1994, p.275, 276
[2] FREYRE, Gilberto.
Ingleses no Brasil, São Paulo:TopBooks, 2000, p.117
[3] FREYRE, Gilberto.
Ingleses no Brasil, São Paulo:TopBooks, 2000, p.133, 275
[4] FREYRE, Gilberto.
Ingleses no Brasil, São Paulo:TopBooks, 2000, p.143
[5] LUZ, Madel. As instituições médicas no Brasil: instituição e estratégias de hegemonia. São Paulo:Graal, 1986, p. 56
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