Florianistas
oposicionistas interessados na tomada de poder procuraram obter um ganho
político das manifestações populares contrárias ao governo como a Revolta da
Vacina. Para José Murilo de Carvalho a revolta teve como pano de fundo questões
econômicas e a carestia que a população vinha atravessando.[1] Para Marco Pamplona a vacinação não foi o alvo principal da Revolta, que
abarcava a queixa contra os abusos da repressão diária contra os “costumes
bárbaros” da camada pobre da sociedade submetida a um processo forçado de
urbanização e civilização imposto pelas autoridades do governo.[2] Marco
Pamplona mostra que já em 1811 foi introduzida a vacinação que se tornou obrigatória
em 1837 para as crianças do Rio de Janeiro por meio de um decreto municipal, de
modo que a vacinação já era algo conhecido, pois a vacinação obrigatória vinha
sendo renovada como no decreto de 1889 que ampliou a obrigatoriedade para crianças
acima de seis meses de idade. [3] Paradoxalmente mesmo positivistas, tais grupos de oposição reunidos em torno do
Apostolado Positivista [4],
tendo em vista a conveniência de um projeto de poder, se colocam contra o
projeto de modernização e progresso por exemplo nas campanhas de vacinação
empreendidas pelo cientista Oswaldo Cruz. Segundo manifesto assinado por
Teixeira Mendes: “a Igreja Positivista do Brasil, de acordo com seus
antecedentes, combate a vacinação obrigatória por todos os meios pacíficos”. [5] O senador Lauro Sodré e na Câmara
Barbosa Lima tornam-se os grandes opositores ao decreto sobre a vacinação
obrigatória, ambos positivistas e florianistas ferrenhos. Na imprensa o Correio
da Manhã e o Commercio do Brasil denunciavam o “despotismo governamental”.
Ivan Lins destaca que os positivistas em geral não negavam o mérito profilático
da vacina, no entanto, questionavam a forma compulsória em que a campanha de
vacinação vinha sendo proposta. [6] O positivismo buscava o fim de todos os privilégios acadêmicos e se colocava
contra a campanha das vacinas pela que entendia ser uma manifestação de “despotismo sanitário”. [7] Jaime Benchimol aponta a posição paradoxal dos positivistas que sempre
defenderam um Estado forte e acabaram se vendo vítima da ação deste Estado na
campanha de vacinação obrigatória. Outro aspecto era assistir os positivistas
adeptos da modernização republicana se colocarem contra o papel modernizador da
campanha de vacinação [8].
Contra a vacina e sua imposição legal levantaram-se também setores inteiramente
estranhos ao positivismo. Para José Maria dos Santos: ”a revolta de novembro de 1904 foi um movimento de natureza
essencialmente econômica, com as suas verdadeiras origens na absoluta
indiferença dos meios políticos e governamentais ante o sofrimento geral da
população. A vacinação obrigatória, por si só, não a explicaria”.[9]
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