quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Revolta da Vacina

 

Florianistas oposicionistas interessados na tomada de poder procuraram obter um ganho político das manifestações populares contrárias ao governo como a Revolta da Vacina. Para José Murilo de Carvalho a revolta teve como pano de fundo questões econômicas e a carestia que a população vinha atravessando.[1] Para Marco Pamplona a vacinação não foi o alvo principal da Revolta, que abarcava a queixa contra os abusos da repressão diária contra os “costumes bárbaros” da camada pobre da sociedade submetida a um processo forçado de urbanização e civilização imposto pelas autoridades do governo.[2] Marco Pamplona mostra que já em 1811 foi introduzida a vacinação que se tornou obrigatória em 1837 para as crianças do Rio de Janeiro por meio de um decreto municipal, de modo que a vacinação já era algo conhecido, pois a vacinação obrigatória vinha sendo renovada como no decreto de 1889 que ampliou a obrigatoriedade para crianças acima de seis meses de idade. [3] Paradoxalmente mesmo positivistas, tais grupos de oposição reunidos em torno do Apostolado Positivista [4], tendo em vista a conveniência de um projeto de poder, se colocam contra o projeto de modernização e progresso por exemplo nas campanhas de vacinação empreendidas pelo cientista Oswaldo Cruz. Segundo manifesto assinado por Teixeira Mendes: “a Igreja Positivista do Brasil, de acordo com seus antecedentes, combate a vacinação obrigatória por todos os meios pacíficos”. [5] O senador Lauro Sodré  e na Câmara Barbosa Lima tornam-se os grandes opositores ao decreto sobre a vacinação obrigatória, ambos positivistas e florianistas ferrenhos. Na imprensa o Correio da Manhã e o Commercio do Brasil denunciavam o “despotismo governamental”. Ivan Lins destaca que os positivistas em geral não negavam o mérito profilático da vacina, no entanto, questionavam a forma compulsória em que a campanha de vacinação vinha sendo proposta. [6] O positivismo buscava o fim de todos os privilégios acadêmicos e se colocava contra a campanha das vacinas pela que entendia ser uma manifestação de “despotismo sanitário”. [7] Jaime Benchimol aponta a posição paradoxal dos positivistas que sempre defenderam um Estado forte e acabaram se vendo vítima da ação deste Estado na campanha de vacinação obrigatória. Outro aspecto era assistir os positivistas adeptos da modernização republicana se colocarem contra o papel modernizador da campanha de vacinação [8]. Contra a vacina e sua imposição legal levantaram-se também setores inteiramente estranhos ao positivismo. Para José Maria dos Santos: ”a revolta de novembro de 1904 foi um movimento de natureza essencialmente econômica, com as suas verdadeiras origens na absoluta indiferença dos meios políticos e governamentais ante o sofrimento geral da população. A vacinação obrigatória, por si só, não a explicaria”.[9]

[1]CARVALHO, José Murilo. Os bestializados: O Rio de Jneiro e a República que não foi, São Paulo: Cia das Letras, 1996;  CUKIERMAN, Henrique. Yes, nós temos Pasteur. Rio de Janeiro: Faperj,2007, p. 265

[2]SCLIAR, Moacyr, Saúde pública, histórias, políticas e revolta, Coleção Mosaico, São Paulo: Scipione, 2002, p.82

[3]SCLIAR, Moacyr, Saúde pública, histórias, políticas e revolta, Coleção Mosaico, São Paulo: Scipione, 2002, p.78

[4]BENCHIMOL, Jaime. Manguinhos do sonho à vida: a ciência na Belle Époque. Rio de Janeiro:Fiocruz, 1990, p.25

[5]CUKIERMAN, Henrique. Yes, nós temos Pasteur. Rio de Janeiro: Faperj,2007, p. 239

[6]LINS, Ivan. História do positivismo no Brasil, Brasiliana, n.322, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1967, p.64

[7]TORRES, João Camilo. O positivismo no Brasil, Brasília: Câmara dos Deputados, 2018, p.252

[8]CUKIERMAN, Henrique. Yes, nós temos Pasteur. Rio de Janeiro: Faperj,2007, p. 257

[9]FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro, v.2, São Paulo:Ed. Globo, 2000, p.141



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