Ruy
Gama observa que enquanto a colônia se ocupa da atividade de fabricação, o
refino do açúcar é realizado na Europa baseada no trabalho livre, familiar e
artesanal, com as técnicas envolvidas mantidas em segredo pelas corporações de
ofícios. João Peixoto Vargas chegou a sugerir investimentos em refino, no auge
da crise de 1687.[1] A
maior parte do açúcar brasileiro era refinado em Amsterdã onde haviam 25
refinarias em 1621,[2] sem
que o custo do refino atingia a terça parte do produto final.[3] Em 1759 Pombal autorizou a instalação da primeira refinaria de açúcar em
Portugal. [4] Segundo Stanley e Barbara Stein: “a atividade da agricultura de plantação
brasileira, caracterizada pela monocultura, trabalho escravo e produção voltada
para a exportação, deve ser entendida a partir de suas vinculações aos centros
europeus ocidentais. O engenho de açúcar, em realidade, era apenas mais um
outro subsetor da economia europeia (em especial da holandesa). Aos portugueses
incumbia o papel de meros intermediários encarregados da reexportação do açúcar
brasileiro, frequentemente transportado por navios holandeses, processado em refinarias
holandesas e comercializado nas regiões do norte, centro e leste da Europa por
negociantes holandeses”.[5] O açúcar devia ser fabricado no local das plantações,
não sendo possível a exportação da cana sob risco de azedar na viagem, ou seja,
foi por uma mera contingência técnica a principal razão das atividades de
engenho e o desenvolvimento de técnicas na sua produção se fez na colônia.[6] Se a Metrópole abdicava de uma política de
desenvolvimento manufatureiro a Colônia não seguia caminho muito diverso. O
reino proibiu o funcionamento de refinarias de açúcar em 1715 conforme Carta
Régia ordenada ao governador da Capitania de Minas Gerais, Brás Baltazar da
Silveira uma vez que os engenhos de cana da região ocupavam um grande número de
negros que deveriam de preferência ser recrutados na extração do ouro para
atender aos interesses da Metrópole [7].
Lilia Schwartz observa que no Brasil colonial não haviam refinarias,
tanto no Brasil com em Portugal, ficando a manufatura final do açúcar por conta
dos holandeses. O açúcar aqui produzido era do tipo “barreado”, não refinado
que se denomina “pardo” ou “mascavado”. [8] A descoberta de zonas auríferas no início do século XVIII riria contribuir para
encarecer a mão de obra escrava e agravar a crise açucareira. Duhamel
DuMonceau, enciclopedista ao publicar L´art
de raffiner le sucre em 1764 irá começar a romper com tais segredos de
ofícios ao revelar as técnicas de refino do açúcar.[9] Von Lippmann mostra que no Nordeste ocupado pelos holandeses de 1629 a 1651
cerca de dois terços do açúcar exportado era do tipo branco e o restante
mascavado. Antonil no século XVIII menciona percentuais similares [10].
Carlos Valeriano de Cerqueira no Histórico da cultura da cana na Bahia de
1778 a 1789 aponta que persiste a relação de 2/3 em favor do açúcar branco.[11] No século XIX contudo, a grande maioria dos produtores pernambucanos exportavam
o açúcar mascavado bruto o que significava um preço de 25% a 33% abaixo do pago
para o açúcar refinado branco, bem como pagar pelo transporte de impurezas.
[7]RODRIGUES, Clóvis.op. cit.p. 54.
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