segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Maat

 

Norman Ross observa que o estado teocrático egípcio era fundamentado no conceito de maat uma vez que não havia uma codificação escrita de leis no Egito antigo: a lei era o desejo do faraó: “O que a deus ama, é que se faça justiça. O que a deus detesta, é o favor concedido a um só lado. Eis a doutrina”.[1] Maurice Crouzet observa que o historiador grego Deodoro da Sicília menciona a existência de cinco reis, antes da conquista persa, como sendo legisladores do Egito, o que supõe a existência de códigos escritos, no entanto até o momento não foi encontrado nenhum destes documentos  que se compare aos códigos legais encontrados na Mesopotâmia.[2] Segundo Christian Jacq: “sem a intervenção mágica do Estado, as importantes cheias do Nilo não ocorreriam, as culturas não seriam irrigadas, os caçadores não poderiam matar a caça, os pescadores não pescariam peixes, os artesãos não acabariam suas obras, os templos não poderiam cumprir a sua missão”.[3] A maat representava uma lei moral natural que combinava os conceitos de ordem divina, justiça e harmonia. Uma ordem natural da natureza era percebida como uma ordem racional que governava não somente as cheias do Nilo mas as questões práticas do quotidiano das pessoas.[4] Segundo Paul Johnson: “Maat também era a forma de justiça concedida a um homem quando morria e aparecia ao julgamento final: sua alma, então, era pesada em uma balança com o contrapeso de maat” [5]. Segundo Jean Voyotte [6]: “À ordem divina corresponde não apenas a estrutura e os ritmos do mundo físico, mas uma ordem moral – Maât –, a norma da verdade e da justiça que se afirma quando Rá triunfa sobre seu inimigo e que, para a felicidade do gênero humano, deve prevalecer no funcionamento das instituições e no comportamento individual. “Rá vive por Maât”. Tot, o deus dos sábios, contador de Rá, juiz dos deuses, é “feliz por Maât”. Jean Voyotte observa o papel teocrático do Estado egípcio “a visão egípcia do mundo procede de uma alta magia de Estado, coerente, raciocinada, admiravelmente perceptível e serena”. Maurice Crouzet conclui que a impressão dominante é que “a ausência de iniciativa individual e verdadeira liberdade econômica e social é inerente à lógica da antiga civilização do Egito [...] Nada é mais estranho ao antigo Egito do que o ideal do homem livre, do indivíduo esforçando-se e recebendo a colaboração da coletividade para ser, não mais um número na massa, mas ele mesmo ”.[7]

[1]CROUZET, Maurice. História Geral das Civilizações: O Oriente e a Grécia Antiga: as civilizações imperiais, v. I, Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1998, p. 66

[2]CROUZET, Maurice. História Geral das Civilizações: O Oriente e a Grécia Antiga: as civilizações imperiais, v. I, Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1998, p. 66

[3]JACQ, Christian. O mundo mágico do antigo Egito, Rio de Janeiro:Bertrand do Brasil, 2001, p.20

[4]ROSS, Norman. The epic of man, Life Magazine, 1962, p. 101

[5]JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 75, 222

[6]MOKHTAR, Gamal. História geral da África, II: África antiga, Brasília : UNESCO, 2010, p.89

[7]CROUZET, Maurice. História Geral das Civilizações: O Oriente e a Grécia Antiga: as civilizações imperiais, v. I, Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1998, p. 84, 102



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